terça-feira, 28 de outubro de 2008

Realidade

Será toda a realidade empírica? Este é o tema da minha habitual crónica das terças-feiras do Público. E está aqui.

5 comentários:

Fernando Dias disse...

De facto, muita gente, incluindo muitos cientistas entre os quais alguns pontuam aqui, não só pensam – que a única via certa para o “verdadeiro” acesso à “realidade” é a via científica, como reduzem todas as questões culturais e políticas à ciência.

Ora, a ciência (método científico) é apenas um excelente “saber” entre muitos outros saberes para aceder a contextos específicos da realidade, em que a linguagem é sempre o meio findamental. Mas existem muitas outras formas de aceder à realidade, entre as quais avulta a Filosofia. Já para não falar da forma comum que a todos nós e todos os dias nos permite aceder aos contextos práticos da nossa vida, e que quase sempre funciona bem. A esta forma alguns teóricos gostam de a designar por senso comum; outros mais sofisticados chamam-lhe “teoria de psicologia popular”. Mas isto não passa de criação no seio da linguagem.

O que é o espaço e o tempo? Concordo com o Desidério quando nos faz crer que continua tudo em aberto. Temos concepções do tipo: Aristóteles/Ptolomeu, Kant/Newton, Jorge Luís Borges/Einstein… Curiosamente a concepção de Einstein está mais próxima de Aristóteles do que de Newton.

Fernando Dias disse...

Para ser justo com os meus colegas cientistas direi que se metem numa luta desigual quando se travam de razões com os religiosos. A religião não é uma forma de aceder à realidade mas uma forma de mistificar a realidade. E a política também.

Mas neste momento, em plena crise financeira mundial e não só, fala-se muito de mundo virtual. Um mundo ao mesmo tempo transparente como vidro (não se vê) e suficientemente opaco para não deixar ver a realidade.

Que a economia “real” está dependente duma coisa “virtual” que é a confiança. O que é a confiança? O que é o “outro”?

Sim, não há confiança sem o “outro”. E a verdade é que o “outro” faz cada vez mais parte da nossa realidade. Há o “outro” cultural e o “outro” político. O primeiro vá que não vá, mas o segundo fia mais fino. Segundo Arjun Appadurai, ontem e hoje na Gulbenkian, o “outro”, entre muitas coisas, podemos ser nós, que nesta era da globalização adopta múltiplas identidades.

Ludwig Krippahl disse...

Desidério,

Isso não é abusar do termo? Parece-me que "empírico" devia referir-se à forma de obter informação acerca da realidade e não à realidade em si.

Imagina que o sujeito A descobriu as formas de empatar no jogo do galo experimentando todas as combinações possíveis, e B descobriu-as deduzindo-as a partir das regras do jogo. As formas de empatar no jogo do galo são empíricas ou não? Acho que esse uso do termo faz pouco sentido...

Desidério Murcho disse...

Não há uma caracterização unânime, Ludi. Não tenho problemas em limitar o termo "empírico" ao modo como conhecemos as coisas. Os problemas de fundo mantêm-se e estão inter-relacionados: 1) tem ou não toda a realidade localização espácio-temporal? 2) É ou não toda a realidade conhecível empiricamente?

Eu usei o termo porque clarificava as coisas. Se começas por pensar que toda a realidade pode ser conhecida empiricamente é porque provavelmente já pensas desde o início que toda a realidade é empírica no sentido dado acima. O que está em causa é precisamente discutir esse pressuposto, em vez de o pressupor apenas.

carolus augustus lusitanus disse...

Fica a pergunta de Paul Watzlawick: a realidade é real?

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