segunda-feira, 4 de junho de 2007

Literatura e ciência

O Corvo, de Edgar Allan Poe lido por John Astin. Outra versão, do álbum de Lou reed «The Raven», lida por Willem Dafoe.

Science! true daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet's heart,
Vulture, whose wings are dull realities?
How should he love thee? or how deem thee wise,
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?
Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryad from the wood
To seek a shelter in some happier star?
Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The Elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?
Ciência! Verdadeira filha do Tempo tu és!
Que alteras todas as coisas com olhos perscrutadores!
Por que devoras assim o coração do poeta,
abutre cujas asas são obtusas realidades?
Como deveria amar-te? Ou como pode julgar-te sábia
aquele a quem não deixas, em seu vagar,
buscar um tesouro nos céus adornados,
enquanto se eleva em intrépido vôo?
Não arrebataste Diana de seu carro?
Nem expulsaste as Hamadríades do bosque
para buscar abrigo em alguma estrela mais feliz?
Não arrancaste as Náiades das ondas,
e ao Elfo a erva verde? E a mim,
o sonho de verão debaixo do tamarindo?

Soneto à Ciência, Edgar Allan Poe

Na realidade, suponho que Poe, que teve um fascínio evidente pela matemática e foi editor de uma revista científica, não considerava que a ciência tivesse «roubado» a poesia e beleza do mundo. A obra do mestre do romance negro abordou inúmeros temas científicos, da teoria dos jogos, em «A Carta Furtada», à inteligência artificial, «Os Assassinatos na Rua Morgue» e «O Jogador de Xadrez de Maelzel», passando pela criptografia - «Criptografia» e «O Escaravelho de Ouro» - incluindo mesmo uma cosmogonia, o poema «Eureka!» de 1848, considerado por Poe a sua obra prima, embora os críticos a tivessem classificado como uma lucubração menor.

Júlio Verne, que a maioria de nós considera o pai da moderna ficção científica, foi grande admirador de Poe sobre quem escreveu «Edgar Allan Poe inventou uma nova forma na literatura; criou um género à parte que só poderia proceder dele mesmo e do qual ele parece possuir o segredo; poder-se-ia dizer que é o lider de uma escola do misterioso, que ele recuou ao limite do impossível; ele terá os seus imitadores». Diria que Verne foi um desses imitadores... Mas não foi o único, Poe exerceu uma influência marcante em nomes incontornáveis da literatura mundial, como Dostoievski, Baudelaire ou Maupassant, a que não escaparam, por exemplo, os escritores de língua portuguesa Machado de Assis e Monteiro Lobato.

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma correcção: Machado de Assis era brasileiro, não português.

Cumprimentos,

Lidia

Palmira F. da Silva disse...

Cara Lídia:

Claro que tem imensa razão. Primeiro pensei em Pessoa depois resolvi substituir por Machado de Assis e esqueci mudar p texto. já está

Vitor Guerreiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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