Vemos, neste século, os professores serem progressivamente afastados - e afastarem-se - da sua função. Se esta realidade tem sido reconhecida no ensino básico e secundário, no ensino superior tem estado na penúmbra. Começam, porém, a surgir artigos na comunicação social que a trazem à discussão, não apenas nas academias mas também na sociedade. O mais recente que li é de Sandra Morais Cardoso, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, saído no passado dia 6 no jornal Público com o título é O fim da carreira de professor universitário (ver aqui). Eis o seu início:
"A figura que deveria ocupar o centro da missão académica foi-se tornando quase irreconhecível. Hoje, demasiados professores comportam-se sobretudo como funcionários da burocracia, produtores de relatórios em série, executores obedientes de procedimentos administrativos que pouco ou nada têm que ver com a sua missão.
Quando finalmente entram na sala de aula, limitam-se muitas vezes a recitar conteúdos, repetindo programas e slides em vez de desafiar os alunos a pensar. A investigação, que deveria ser o eixo de tudo, transformou-se num acto residual, adiado para as horas de exaustão. A verdade incomoda, mas precisa de ser dita: o modelo actual esvaziou o professor das funções que justificam a própria existência da Universidade.
Um académico não se define por repetir conteúdos, organizar documentos, servir em comissões ou manter a máquina administrativa a funcionar. Define-se pela capacidade de produzir novo conhecimento. Ensinar sem investigar é repetir; e repetir não é ensino superior, é estagnação (...).
A manutenção da carreira de professor universitário, tal como existe, tornou-se um obstáculo à missão académica. O que proponho não é destruir a Universidade; é devolvê-la a si mesma. A Universidade existe para criar conhecimento. Tudo o resto deve servir essa finalidade, nunca substituí-la (...)."
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