terça-feira, 19 de novembro de 2024

A NOVA LINGUAGEM DA EDUCAÇÃO E... DA MEDICINA!

Soube há poucos dias que não é só a linguagem educativa que tem perdido expressões que lhe são (ou eram) específicas, que lhe conferem (ou conferiam) identidade; parece que o mesmo acontece na medicina.

O artigo do Público que me alertou para tal é assinado por António Sarmento e  remete para um outro saído em 2011, sinal de que o problema está identificado há anos neste campo, tal como no da educação. 

Em ambas as áreas, as expressões que se impõem em primeiro lugar vêm do mundo empresarial e são muitas delas iguais.

Diz-se logo no resumo desse artigo, saído numa revista de medicina:

"Na nova linguagem da medicina, os pacientes são clientes ou consumidores; médicos e enfermeiros são provedores.

No campo da educação, tal como mostrámos em textos anteriores (por exemplo aqui, aqui, aqui, aqui), os alunos e famílias são clientes ou consumidores, os professores ou agentes similares são provedores ou fornecedores, as escolas são substituídas por ecossistemas...

Mais se diz nesse resumo:

"As palavras que usamos para explicar os nossos papéis definem expectativas e moldam o comportamento. Esta mudança na linguagem da medicina tem consequências importantes e destrutivas."

O mesmo se aplica à educação: a imposição da "narrativa" da educação do futuro / do século XXI (1) foi um passo fundamental na estratégia de corrosão da sua essência, para impor outra coisa, evidentemente.
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(1) Assim mesmo designada pelas entidades económico-financeiras que insistem em determinar os desígnios do mundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

O poder das novas linguagens é imenso. Todos conhecem a bonita terra de Tormes que Eça de Queirós implantou no Douro. A Boa Nova dos Santos Evangelhos inaugurou uma nova era de prosperidade-e de paz! - por toda a Terra.Quanto à nova linguagem na educação, dou um exemplo simples: já ninguém trata os professores do liceu por doutores; agora são senhores ou senhoras, na melhor das hipóteses, ou sectores, na pior! Estes pormenores de linguagem revelam a pouca consideração que a sociedade atual tem pelos professores enquanto agentes imprescindíveis ao funcionamento das escolas públicas, que já foram espaços de educação e sabedoria e que são atualmente lugares de acantonamento obrigatório de crianças e jovens pobres.
Esta linguagem gongórica da educação, usada sobretudo para esconder e enganar, tolhe a autonomia científica e pedagógica dos professores, sem os quais a escola se vê transformada numa fraude. Já não há escolas - só há mega-agrupamentos de EB 1, 2, 3 + JI + S!

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