domingo, 13 de agosto de 2023

LUA AZUL

Minha coluna no último JL:

A 31 de Agosto vai haver uma «Lua Azul». Não significa isto que a Lua mostre quaisquer tons de azul (embora haja relatos de visões de uma lua azulada, em casos de grandes erupções vulcânicas), mas trata-se da designação dada, pelo menos desde que a revista Sky & Telescope a popularizou em 1946 num artigo intitulado “Once in a Blue Moon”, à segunda lua cheia no mesmo mês. Portanto, uma lua azul é sempre uma lua cheia, a fase que ocorre quando a Terra está entre o Sol e a Lua e que proporciona o maior luar. No dia 1 de Agosto passado houve uma lua cheia e, passados 30 dias, haverá outra. 

A ocorrência de duas cheias no mesmo mês é relativamente rara. Nunca pode ocorrer em Fevereiro, por não haver dias suficientes (por vezes não há sequer uma lua cheia em Fevereiro) e, para que ocorra num certo mês, é necessário que haja lua cheia logo no início. A última Lua Azul foi a 31 de Outubro de 2020 e a próxima será só em 31 de Maio de 2026. 

Como o ciclo lunar (tempo entre duas luas cheias) tem 29,53 dias, em cada ano, que dura 365,24 dias, cabem 12,37 ciclos lunares. O resultado não é um número redondo porque os tempos das revoluções da Terra em volta do Sol e da Lua em volta da Terra não são exactamente divisíveis. A situação normal é haver 12 ciclos num ano (as fases da Lua estão na base do estabelecimento do mês como unidade do calendário), e, portanto, 12 luas cheias por ano, mas, devido ao excesso de 0,37, em cada 2,8 anos, em média, ocorrem 13 luas cheias no ano. É o caso do ano de 2023 e será também o caso de 2026, A Lua Azul seguinte ocorrerá numa data curiosa: 31 de Dezembro de 2028. Teremos de esperar mais de cinco anos.

As duas luas cheias deste Agosto foram luas cheias especiais, chamadas «superluas», o nome que se dá à lua quando ela está mais próxima da Terra no seu movimento elíptico em volta da Terra e a lua nos aparece ligeiramente maior (cerca de 14% maior). A órbita da lua é praticamente circular, com um raio de cerca de 384,472 mil quilómetros, o que significa que a luz do luar (que é a luz do Sol reflectida pela Lua) demora pouco mais de um segundo a chegar à Terra. A distância de 384 000 quilómetros é aproximadamente a distância percorrida por um automóvel ao longo do seu tempo de vida. Se uma viatura automóvel viajasse à média de 100 quilómetros por hora pelo espaço, demoraria, portanto, 3840 horas, isto é, 160 dias, pouco mais de cinco meses na viagem da Terra à Lua. As naves espaciais demoram, contudo, apenas alguns dias, bastante menos, pela simples razão de serem movidas por foguetes. O facto de a órbita lunar ser elíptica em vez de circular faz com que o nosso satélite natural tenha uma posição mais próxima da Terra (perigeu) e outra mais longe (apogeu), a primeira a pouco menos do que 384 000 quilómetros e a segunda a pouco mais. A maior proximidade da Terra causa uma maré mais alta. Pululam superstições sobre a sua ligação a outros fenómenos, como terramotos e erupções vulcânicas, mas não passam de mitos. 

O nome «superlua» só surgiu nos anos de 1970, dado por um astrólogo. Em contraste com as Luas Azuis, as superluas são relativamente frequentes: antes da do dia 1 de Agosto tinha havido outra em 3 de Julho e, depois da de 30 de Agosto, haverá uma outra em 29 de Setembro. De facto, chama-se «superlua» mesmo quando a Lua não está exactamente no perigeu, mas apenas nas proximidades dele. Das 12 ou 13 luas cheias em cada ano, três ou quatro podem ser classificadas como superluas. A sobreposição Lua Azul-superlua que vai ocorrer em 30 de Agosto próximo não é frequente: só voltará a acontecer em Agosto de 2032. Quem não vir agora,  terá de esperar quase uma década.

Em inglês Lua Azul diz-se «Blue Moon». A expressão «once in a Blue Moon» significa “raramente”. Para falar com inteira propriedade devia ser de três em três anos… Mas a dita expressão significa “quase nunca”. «Blue Moon» remete-nos imediatamente para o mundo da música. Com efeito,  esse é o título de uma canção dos compositores norte-americanos Richard Rodgers (1902-1979), autor da música, e Lorenz Hart (1895-1943), autor da letra. Toda a gente se lembrará da melodia e do poema, que começa por falar da solidão (“Blue moon/ You saw me standing alone / Without a dream in my heart/ Without a love of my own”) para acabar no encontro amoroso (“Blue moon/ Now. I’m no longer alone / Without a dream in my heart / Without a love of my own.”).

Escrita em 1933 inicialmente para o filme Hollywood Party, mas depois retirada, “Blue Moon” tornou-se, com a versão de 1934, uma canção clássica, uma das mais conhecidas do século XX. Foi cantada por grandes artistas como Billie Holiday, Elvis Presley, Frank Sinatra, Bob Dylan e Cliff Richard. Amália Rodrigues também a cantou, tendo sido incluída no seu álbum “Amália na Broadway” (1984). Na cultura popular, essa canção já apareceu em filmes musicais como Grease (1978), com John Travolta e Olivia Newton-Jones. E também apareceu nos filmes At the Circus (1939), dos irmãos Marx, e Apollo 13 (1995), com Tom Hanks, que conta a história na nave enviada à Lua pela NASA que teve de voltar sem cumprir sem alunar. “Blue Moon” é ainda o hino do Manchester City, campeão inglês e europeu, equipa que costuma jogar com equipamento azul.

Em breve haverá o regresso do homem à Lua. O programa Artemis da NASA, sucessor do programa Apollo (Artemis é irmã de Apolo na mitologia grega), está em curso, após ter sido lançada com êxito no ano passado a Artemis 1. A Artemis 2, levando astronautas para uma órbita lunar, será lançada em Novembro de 2024, estando a tripulação já escolhida: inclui uma mulher. 

A próxima alunagem está prevista para 2025 e é possível que também tenha participação feminina. Curiosamente, o nome «Blue Moon» foi dado a um dos aterrissadores que irá descer na Lua. Foi recentemente celebrado um contrato da NASA com a empresa Blue Origin, de Jeff Bezos (o fundador da Amazon), para a construção de um módulo lunar com capacidade para quatro astronautas que deverá começar a funcionar com a Artemis 5, planeada para 2029. Na próxima sobreposição de Lua Azul com uma superlua pode bem ser que haja uma «Blue Moon» pousada na Lua…

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