quarta-feira, 23 de agosto de 2023

"Eu ainda quero ter essa esperança"

Amin Maalouf, o jornalista, ensaísta e romancista, nascido no Líbano, com ascendentes espalhados pelo Levante, e residente em França, insiste, mais nos seus últimos livros do que nos primeiros, na absoluta necessidade de, em nome da sobrevivência da humanidade, tudo fazermos para se conseguir uma séria e empenhada comunicação, compreensão, convivência entre povos, culturas, etnias, nações, religiões... Em vez de nos fecharmos na nossa "tribo", seja ela qual for, cantando (ou gritando) as suas virtudes, olhemos para os outros, ouçamo-los... E façamos o possível para que olhem para nós, para que nos ouçam. 

Esta será a única e derradeira maneira de travar o iminente "desaparecimento de tudo o que dá sentido à aventura humana". Num ainda recente e muito tocante livro dedicado à mãe e ao pai, aos "sonhos frágeis" que lhe transmitiram, a que deu o título O naufrágio das civilizações, reconhecendo os múltiplos precipícios de que nos temos abeirado, explica a sua "preocupação com o futuro": deixarmos aos nossos vindouros um "mundo de pesadelo".

No "Epílogo", apela à consciencialização:
"Se as estradas do futuro estão semeadas de armadilhas, o pior seria avançar de olhos fechados, murmurando que tudo iria correr bem.  

Temos, pois, de ser realistas e, sem desespero mas com determinação, procurar evitar o "pesadelo" em que o mundo, entendido em sentido global, se tornou:

Estou convencido, aliás, de que continua a ser possível um rebate. Tenho dificuldade em acreditar que a humanidade se resignará docilmente à aniquilação de tudo o que construiu. Todas as sociedades humanas e todas as civilizações ficam a perder, se se desorientarem dessa maneira, e todas ganhariam, caso se endireitasse o rumo (...). Portanto, é necessário, e mesmo imperativo, alertar, explicar, exortar e prevenir. Sem cansaço, complacência ou desencorajamento. E, acima de tudo, sem agressividade (...)
Contudo, tal como o leitor terá já feito, questiona:
"Como convencer os nossos contemporâneos de que permanecendo prisioneiros das conceções tribais da identidade, de nação ou de religião, e continuando a exaltar o egoísmo sagrado, estão a preparar para os seus filhos um futuro apocalíptico?"

Será que vamos aprender alguma coisa antes que estas calamidades nos atinjam? Teremos a força de alma necessária para nos recompormos e corrigirmos a situação antes que seja demasiado tarde?

A resposta é, ao mesmo tempo, a declaração de uma vontade e o reconhecimento de uma crença: 
Eu ainda quero ter essa esperança.
 Parecerá uma resposta ingénua, além de contraditória, mas não será a única possível?

1 comentário:

António Pires disse...

Ao contrário do que possa parecer, o mundo não está ao deus-dará. Com a falência das narrativas maravilhosas dos deuses verdadeiros, resta o dinheiro, de quem o tem, para aplicar maciçamente na compra de armas, nomeadamente nucleares, para mandar no mundo. Neste contexto, os latinos perderam em toda a linha. A sua liberdade não vai além de poderem gritar na rua que "O povo unido jamais será vencido!"

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