segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

A SEGUNDA VINDA

 Citei recentemente, porque vem no final de Civilização, de Kenneth Clark, um poema pessimista de W.B.Yeats de 1919. O leitor Herculano Esteves brindou-me com uma tradução sua. Fica aqui para benefício geral, original e tradução:

THE SECOND COMING

 

Turning and turning in the widening gyre  

The falcon cannot hear the falconer;

Things fall apart; the centre cannot hold;

Mere anarchy is loosed upon the world,

The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere  

The ceremony of innocence is drowned;

The best lack all conviction, while the worst  

Are full of passionate intensity.

 

Surely some revelation is at hand;

Surely the Second Coming is at hand.  

The Second Coming! Hardly are those words out  

When a vast image out of Spiritus Mundi

Troubles my sight: somewhere in sands of the desert  

A shape with lion body and the head of a man,  

A gaze blank and pitiless as the sun,  

Is moving its slow thighs, while all about it  

Reel shadows of the indignant desert birds.  

The darkness drops again; but now I know  

That twenty centuries of stony sleep

Were vexed to nightmare by a rocking cradle,  

And what rough beast, its hour come round at last,  

Slouches towards Bethlehem to be born?

 

A SEGUNDA VINDA

 

         Às voltas e às voltas na orla da espiral

         O falcão já não ouve o falcoeiro;

         Tudo se esboroa; nada se segura por dentro;

         A pura anarquia solta-se no mundo,

A maré ensanguentada avança, e por todo o lado

Afoga-se a cerimónia da inocência;

Os melhores estão sem resto de crença,

Os piores plenos de intensa paixão.

 

Sem dúvida, uma revelação está próxima;

Sem dúvida, a Segunda Vinda está próxima.

A Segunda Vinda! Mal a pus por palavras

Uma imagem imensa saída do Spiritus Mundi

Perturba essa minha visão: algures nas areias do deserto

Uma forma, corpo de leão e cabeça humana,

Fita em branco e sem piedade como o sol,                              

Mexe as pausadas coxas e sobre ela toda,

         A rodopiar, sombras de desérticos pássaros fora de si.

         A escuridão cai outra vez; mas eu sei agora

         A pedra de um sono de vinte séculos

Rearranja-se em pesadelo embalada num berço.

         Que besta crua, chegou por fim a hora dela,

         Rasteja para nascer em Belém?

 

 

 

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