terça-feira, 30 de março de 2021

NA HORA DA DESPEDIDA


“Porque haveremos de permitir que os nossos inimigos tenham ideias?” (Josef Stalin).

Durante anos vivi, até aos dias de hoje, “no doce  e ledo engano” de a docência ser uma profissão com a dignidade de outras em que para ser médico é necessário o curso de Medicina e para ser advogado o curso  de Direito, e por aí adiante!

Como me poderia eu, portanto, atrever-me em ficar calado perante um panorama aberrante em que para dar aulas quanto bastava qualquer exigência académica como o acontecido depois de 25 de Abril. Assim, por exemplo, indivíduos que ainda estavam a estudar para profissões exigentes vendiam aulas para ganharem umas massas que não criavam calos como as profissões manuais.

Para os leitores, possivelmente, de memória curta, recordo que chegou a haver “professores” a darem aulas a alunos de formação académica superior chegando esses ditos, com impropriedade, professores, que professavam essa doutrina, em abuso e benefício próprios, no primeiro dia de aulas de apresentação a advertir os alunos (não é anedota, embora satisfaça todas as condições em sê-la por dar aso a gargalhadas!) perguntem-me tudo desde que não seja conteúdo  de exigências programáticas!

E o que dizer de alunos que para entrarem no ensino superior tinham que penar 12 anos de estudos anteriores  vendo, por outro lado, colegas que através das Novas Oportunidades a ele tiveram acesso escandalosamente facilitado, a exemplo de Relvas, que em que nada se comparam às provas de acesso anteriores de grande exigência a satisfazer por autodidactas que não eram, como alguns que assim hoje se intitulam ignorantes por conta própria!

É esta a palhaçada que o próprio ministério da Educação promoveu quando, em tempos idos, para dar aulas no 1.º ciclo do básico era exigido o sério diploma das antigas Escolas do Magistério Primário e nos outros ciclos do básico e secundário era necessária uma licenciatura universitária que passou a ser substituída por  simples cursos que não valem dez reis de mel coado. Ou seja, quanto menos preparado academicamente o docente estiver melhor o ensino por ele ministrado estando, como tal, o ensino na razão inversa da “sapiência” dos docentes.

Por outro lado, alguns docentes deixaram de ensinar para assumirem o papel de sindicalistas a tempo inteiro que, com grande agressividade subiram na vida até atingirem o 10.º escalão da carreira docente onde se quedam até começarem a trabalhar nos seus hobbies ou a viajar que sempre foi esse o seu sonho

Sempre que abordo  estas questões, ocorre-me à memória a história daquela velhinha que ao assistir a uma parada militar, grita  orgulhosa para a multidão: “Todos levam o passo trocado, só o meu filho Zé leva o passo certo! Julgo ser eu hoje um Zé que, pelo contrário, se recusa a marchar com o passo “certo” de  oportunistas.

Não, não  sou eu esse Zé que depois de 40 nos de serviço docente acumulado com três anos de oficial miliciano do Exército, julga levar o passo certo. Essa personagem que sou eu não quere ser, parafraseando Charles Chaplin, apenas palhaço, o que já me colocava em nível bem mais elevado que o de qualquer político!

Valha-me, ao menos a promessa solene de não voltar a perder o meu tempo e o meu entusiasmo em lutar, qual Sancho Pança, contra interesses sindicais instalados, que se intitulam capazes de acumular os papeis sindicais e de  uma Ordem  dos  Professores

Lutei, com toda a força, aposentado que estou depois 40 anos de docência  em acumulo com três anos de oficial miliciano do Exército, a exemplo de antigos combatentes do Ultramar  em defesa e um ideal, muitos deles tendo posto em risco a vida em defesa de uma pátria madrasta, em que desfilam orgulhosos com o andar trôpego por articulações enferrujadas e, por vezes, estropiados com as fardas coçadas em “guerras e perigos esforçados” em paradas militares como as de 1.º de Dezembro dia Comemorativo da Restauração.

Disse Churchill, durante a 2.ª Guerra Mundial, em homenagem aos seus combatentes: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos!” Em contrapartida, em terra lusitana, nunca tantos deram tão pouco aos seus soldados da Campanha do Ultramar. E mesmo assim regateando esse pouco!

Reporto-me, agora, à luta inglória pela criação de uma Ordem dos Professores acompanhado pelo colega Carlos Sarmento, vencido mas não convencido, cumprindo a promessa de uma retirada sem honra nem glória.

Mas uma certeza levo comigo: promessa dada é para ser cumprida! Assim como cumpri a promessa de me bater pela criação de uma Ordem dos Professores, resta-me cumprir a promessa de dela me retirar sem ser em debandada. Apenas como opção devidamente meditada e saudosa!

2 comentários:

Luís Fernandes disse...

Na atitude ética que neste texto afirma, há mais quem a assuma em circunstâncias similares.

Aqueles, poucos, mesmo muito poucos, que assim se conduziram, e conduzem, são chamados de «anjinhos»: as mordomias, os luxos, as contas bancárias foram-lhes sempre mingadas!

Mas, direitos, aprumados, ainda que derreados pela doença e, ou, pela idade avançada, olham sempre, sempre, nos olhos todos aqueles com quem se cruzam!

Cordiais cumprimentos
Luís Henrique Fernandes

Rui Baptista disse...

O grave da questão é haver muitas e variadas éticas a exemplo dos frequentadores de restaurantes que dela se servem conforme as suas papilas gustativas...

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