quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Nasceram há 100 anos e dizem-nos coisas em 2020

As estatístisticas mostram que em 1920 viviam neste planeta cerca de 1,91 milhares de milhões de pessoas (hoje vivem quase oito mil milhões) e que a população cresceu de 1920 para 1921 cerca de 17 milhões. Então, estimo que terão nascido nesse ano para aí uns 30 milhões de pessoas.

Na Grã-Bretanha, 1920 continua a ser o ano com a maior natalidade de sempre: quase 958 mil pessoas. Isso deve-se julgo eu, ao paradoxal aumento de natalidade que se seguiu à mortalidade devida à gripe de 1918-19 em conjunto com a desmobilização dos soldados participantes na primeira guerra. É preciso notar ainda que, em cerca de cem anos, a mortalidade infantil global desceu de cerca de 32% para menos de 4%.

É nesse contexto optimista, com aumento da população, diminuição lenta da mortalidade infantil e popularização (ainda que limitada) dos recursos disponíveis, como o automóvel, que nasceram as nossas heroínas centenárias. Já referi outros nomes, a propósito da literatura de ficção científica: Boris Vian, Isaac Asimov, Ray Bradbury e Frank Herbert. Têm também sido recordados outros nomes: Clarice Lispector, Mécia de Sena, Amália Rodrigues, Bernardo Santareno, Frederico Fellini, Cruzeiro Seixas e Rúben A., entre muitos outros.

Refiro-me a quatro mulheres cientistas: Rosalind Franklin (1920-1958), Elizabeth Cavert Miller (1920-1987), Marie Tharp (1920-2006) e Elaine Morgan (1920-2013). Acho relevante lembrá-las no ano em que o prémio Nobel da Química foi atríbuido a duas mulheres.

Duas foram casadas, duas nunca se casaram. Uma delas, Rosalind Franklin, morreu cedo e está envolvida em muitas histórias malcontadas, mal-entendidos e preconceitos. Poderia ter recebido o prémio Nobel pela descoberta da estrutura do DNA, mas morreu antes. Elisabeth, por outro lado, teve uma relação invulgarmente estável (ela e o marido são os únicos a ter uma biografia colectiva na National Academy dos Estados Unidos). Marie Tharp nunca se casou, mas teve uma relação intensa e conflituosa (dizem que platónica) com os seu chefe. Foi ela que fez o mapa do oceano que a tornou mais famosa do que o seu chefe. Elain foi casada e teve filhos ao mesmo tempo que desenvolveu teorias evolucionistas. Falar das suas vidas privadas será uma forma de machismo?

Julgo que talvez pudesse ser se falássemos das mulheres de hoje, mas tudo tem uma história. Falar da vida privada, dos casamentos e dos filhos das cientistas de hoje será com certeza, mas no tempo em que estas cientistas começaram a ser produtivas e relevante, talvez não seja. Todas, de uma maneira ou doutra sentiram ou referiram explicitamente os preconceitos de que as mulheres eram vítimas. Pelo menos Tharp encontrou um trabalho científico devido a boa parte dos homens ter ido para a guerra. Hoje não seria assim. Na minha opinião, o mais importante de 2020 não são as vacinas, porque isso já se sabia que iríamos conseguir. É sim, a ideia de igualdade e normalidade que conquistámos. Ainda há muito a fazer é certo (nas empresas químicas, por exemplo, os executivos de topo eram só 30% mulheres em 2018), mas vamos chegar lá. 

1 comentário:

FC disse...

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