segunda-feira, 13 de julho de 2015

ENTREVISTA SOBRE ANO DA LUZ

Minha entrevista dada à jornalista Paula Lagoa do Jornal de Leiria:

 P- Em que medida a promulgação do Ano Internacional da Luz é uma mais-valia?

R-  O Ano Internacional da Luz é uma ocasião única para unir, motivar e educar em volta de um fenómeno físico essencial para tudo e para todos. A luz tem a ver com a saúde, as comunicações, o ambiente, a economia, a sociedade em geral. O Ano, aprovado pelas Nações Unidas, chama-se não só da luz como das tecnologias da luz, que hoje estão de facto omnipresentes, seja a luz visível ou invisível. A luz entra-nos em casa não só pelas janelas e pelas lâmpadas mas também pelos cabos ópticos que trazem a Internet e a televisão. Ligamos e desligamos a televisão com infravermelhos. Servimo-nos de lasers para ouvir CD. Comunicamos com a ajuda de telemóveis, que recorrem a microndas, também muito úteis nos fornos de cozinha e nos radares. Usamos ondas de rádio para transmissões à distância. Fazemos raios X para ver o interior do nosso corpo. As Nações Unidas sugerem que este século seja o século da luz, dominado pelas tecnologias da luz (a fotónica), tal como o século passado foi o século dos electrões, dominado pelas tecnologias dos electrões (a electrónica).

P - Considera que subvalorizamos a importância da luz nas nossas vidas?

R-  Sim, a luz está tão presente que podemos dizer que não damos por ela. Sem ela não veríamos nada do mundo à nossa volta e, de tão habituados que estamos a ela, "não a vemos". Para reconhecer o valor da luz, não há nada como experimentar o escuro, as trevas. Valorizamos mais a luz quando ela não existe. De facto, o nosso sentido da visão, que se deve a um sistema óptico natural que evoluiu ao longo de milhões de anos para captar ao máximo a luz que a nossa estrela emite ao máximo (a luz chamada visível), é o grande intermediário entre o nosso cérebro e o mundo. Os olhos são o posto avançado do cérebro, e o processamento cerebral começa logo neles. Com o precioso auxílio desse sentido observamos o mundo e com o apoio do cérebro compreendemos o mundo. De posse dessa compreensão, alteramos o mundo para nele vivermos com maior conforto. Conseguimos, por exemplo, através da iluminação artificial, transformar a noite em dia.

P- - De todos os aspectos em que a existência de luz é fundamental qual destacaria?

R- É difícil destacar algum. Mas gosto de enfatizar, entre todas as tecnologias da luz, a invenção do laser. Demorou dezenas de anos antes que essa ideia luminosa, no sentido literal e no sentido figurado, fosse posta em prática. Em 1960, quando se fez o primeiro laser de luz visível - já tinha sido feito um de microondas- o laser não servia para nada a não ser para mostrar que Einstein estava certo quanto à sua ideia de produzir luz intensa e coerente. Era uma invenção à procura de uma aplicação. Não encontrou uma mas muitas. Hoje usamos o laser para tudo e mais alguma coisa: desde cirurgias oftalmológicas até à depilação, desde as impressoras até aos códigos de supermercados, desde os apontadores nas escolas até às festas nas discotecas. É impressionante!

P-   Viveríamos sem luz?

 Pode-se viver com luz reduzida, mas é extremamente difícil. De facto, a própria vida deve-se à luz. Se não fosse a fotosíntese, a transformação da energia presente na luz solar em energia química, as plantas não poderiam existir. E sem plantas não existiriam animais, incluindo os seres humanos. Devemos, portanto, a nossa existência à luz. Num certo sentido somos "filhos da luz".

P-  Que tipo de animais seríamos se não tivéssemos luz? Sem luz não seríamos humanos. Há animais que conseguem ver no escuro, como os morcegos, graças a um processo de adaptação biológica. "Eles vêem com os ouvidos", disse o primeiro cientista que, no século XVIII, descobriu o fenómeno da ecolocalização, que se baseia em som e não em luz. Mas só nas histórias aos quadradinhos e no cinema é que existe o homem morcego...

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