sexta-feira, 24 de julho de 2015

António Franco Alexandre



 

 
 
 
 
 
 
Poema de As Moradas (Segunda)

apenas um instante e as coisas mudam-se
umas nas outras enlaçadas,
então ocorre perguntar: porque não começa
a vida? noite após noite, os vastos
entrepostos alcatroados permanecem vazios,
e é possível, de longe, avistar as fogueiras
que a chuva ateia, e debaixo do lodo os corpos
abandonados pela guerra.

o universo, dirás, expande-se
e contrai... mas entretanto
já a folha corrói o desejado,
e a doença do verme anima o verso.
como esperar? são pálidas as bocas
a vídeo no vinil e na placenta,
e se perdeu a vaga parecença
da paisagem.

vamos por aí fora, ao deus dará, vertidos
em rima tosca,
serão sempre horas de partir, de beijar,
de voltar a casa para um jantar de madrugada,
de ir ao cinema pra esquecer, de ficar
solto numa esquina, esquecido,
depois basta deitar fora toda a água parada
e será verão.

 Poema de A Pequena Face

entretanto nos caminhos caminham
máquinas hidráulicas, surpresas
com o ténue destino da terra.
condições as melhores para a pesquisa,

a sondagem da luz, o resultado
do quartzo incandescente,
os símbolos mudos de uma
teoria.

«calculo como asas poderiam
levar no ar um homem, como a água
sustentaria as mais pesadas rochas.

basta uma cola fina como o vento.
um tecido de vidro transparente.
as botas de marfim dos sem-sossego.»

3 comentários:

bea disse...

Que bonitos poemas! Obrigada.

Carlos Ricardo Soares disse...

Poesia no seu melhor. Parabéns.

ivo disse...

Queria poder ver.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...