sábado, 18 de julho de 2015

A NOVA TRAGÉDIA GREGA

Texto do Professor Galopim de Carvalho.
Prometeu agrilhoado, pintura em cerâmica grega, estilo clássico (séc. V e IV a. C.)

Nos dias difíceis e de grande incerteza que estamos a viver, entendo ser meu dever e meu direito de cidadania intervir mais activa e publicamente no debate político a que se assiste no nosso país e na Europa.

Como escreveu há dias Bernardina Sebastião, na sua página do FB, estamos a assistir em Bruxelas ao recuo civilizacional da Europa e é, precisamente, este sentimento que me invade. Vindo de diversos media, através da palavra falada e escrita de analistas que muito estimo, este recuo afigura-se-me como um prenúncio de mais uma tragédia grega que, desta vez, não deixará de irradiar consequências indesejáveis.

Para Ésquilo (524-455 a. C.), considerado o pai da tragédia grega, há cerca de 25 séculos, Prometeu era um dos seus grandes heróis que lutavam contra os caprichos dos deuses e dos poderosos. Prometeus são hoje todos os gregos que lutam contra a indignidade a que estão a ser sujeitos.

Na capital dos belgas, o poder do dinheiro (maioritariamente representado por governantes e tecnocratas dos países ricos e pelos que, não o sendo, gostavam de o ser) tem vindo a humilhar despudoradamente o povo grego.

O berço da civilização ocidental e da democracia, vítima da má governação e da corrupção de décadas, corre sério risco de sucumbir face à vertigem insaciável do capitalismo.

Com o ainda muito provável afastamento da Grécia, como lembrou Viriato Soromenho Marques, no DN de 29.06.2015, «os que ficarem dentro do muro de uma "Europa alemã", com uma prosperidade cada vez mais aparente e efémera, talvez contemplem o espetáculo de desespero, sofrimento e grandeza de um povo que rejeitou a gamela para recuperar o direito à liberdade».

Assim como Prometeu, o povo grego está hoje agrilhoado.
A. Galopim de Carvalho

1 comentário:

Anónimo disse...

Por acaso, o povo português também não está?
Sabemos bem quem está por detrás desconstrução da cultura ocidental, e nada melhor do que a União Europeia para representar a derradeira instituição anti-católica. A barbárie tem culpados e eles serão responsabilizados a seu tempo.

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