quinta-feira, 11 de junho de 2015

"A ciência tem de ser aberta. Fechada, oculta, não é ciência"

Artigo do Diário de notícias sobre o debate promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, moderado por Maria Helena Nazaré, com Carlos Fiolhais e David Marçal, ontem na Feira do Livro.

Fotografia: Diário de Notícias

Debate. Antiga reitora da Universidade de Aveiro e dois cientistas, de gerações diferentes, discutiram as melhores formas de comunicar e divulgar a ciência ao cidadão comum  


PEDRO SOUSA TAVARES  

O tema era: "Ciência, onde estamos, para onde vamos?" mas foi sobretudo para a comunicação da ciência às massas que Maria Helena Nazaré, antiga reitora da Universidade de Aveiro - e a primeira mulher a exercer o cargo em Portugal-, conduziu o debate organizado ao final da tarde de ontem pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), na Praça Azul da Feira do Livro, em Lisboa.  

Os intervenientes prometiam uma visão ampla deste desafio de comunicar e partilhar a ciência com a comunidade. De um lado estava Carlos Fiolhais, físico, um dos maiores divulgadores científicos do país e autor de A Ciência em Portugal, editado pela FFMS. Do outro, o bioquímico, jornalista e autor David Marcai, que tem utilizado o humor como uma arma contra o que considera ser os exemplos de falsos cientistas e de falsa ciência que chegam ao público. No livro Pseudociência, também da coleção FFMS, analisou duas práticas: acupuntura e homeopatia, é um exemplo dessa abordagem.  

Maria Helena Nazaré lançou a discussão com o tema da open science, um movimento que surgiu nos Estados Unidos, muito impulsionado por familiares de pessoas que sofrem de doenças para as quais ainda não existe cura e que defende a divulgação total do conhecimento científico - não só aos especialistas como a toda a comunidade - à medida que este vai sendo obtido.  

David Marçal defendeu que "a transparência é uma condição da ciência" e que o livre acesso dos cidadãos à informação científica é "condição essencial" para essa transparência. Como exemplo, recordou a "corrida" realizada nos anos 1990 entre dois consórcios, um público e o outro privado, pela sequenciação do genoma humano. No caso do privado, recordou, houve algumas tentativas de "limitar o acesso" à informação. Mas o consórcio público "fez questão de colocar os dados no domínio público" à medida que os ia obtendo. E isso fez toda a diferença.  

Porque é avesso às "pseudociências", David Marçal não poderia deixar de falar no reverso da medalha-o excesso de informação pretensamente científica. E aí não escaparam os jornalistas, editores e diretores - não necessariamente os de ciência, que considerou serem bons, mas sobretudo os não especializados, que considerou rendidos à "ditadura do engraçadíssimo". Entre vários exemplos, lembrou uma notícia com o título: "Os homens com testículos pequenos são pais mais protetores". Carlos Fiolhais - que tem dedicado boa parte da sua vida e obra a tomar a ciência acessível e apelativa a todos - também não teve dúvidas: "A ciência tem de ser aberta. Até porque o contrário é a ciência fechada, a ciência oculta, e isso não é ciência."  

O físico defendeu que é "impossível viver sem ciência" - pelo menos com a qualidade de vida que temos atualmente - e que, mesmo que nos esforcemos por ignorá-la, esta está cada vez mais presente no nosso quotidiano: "Quando temos um telemóvel do bolso, alguém repara que temos ali dezenas de anos de ciência compactada?", questionou. Fiolhais admitiu também que esta abertura total da ciência tem um lado mau: a divulgação de "erros" e "fraudes". No entanto, defendeu, a comunidade científica é especializada em "detetar o erro". E quem mente "acaba a carreira".

6 comentários:

Francisco Domingues disse...

Estive lá. Gostei mas soube-me a pouco. Uma pergunta que teria gostado de fazer: "Os assuntos de investigação científica estão sempre relacionados com a possível utilização dos resultados a médio prazo, sendo, assim, subsidiáveis pelos interessados (industriais)? Há sempre ligação da Ciência ao mundo real produtor/consumidor? São facilmente aceites como temas de investigação que não têm conexão com a realidade como, por exemplo, a composição das estrelas?"

Anónimo disse...

Sr Domingues, é impressionante como de cada vez que comenta por estas bandas sai uma asneira de tal ordem que surpreende até os mais familiarizados com as suas intervenções.

Francisco Domingues disse...

Impressionante é este insulto fácil e gratuito, de alguém que tem medo de dar a cara, a quem muito preza o espírito científico e crítico. Explique-se, caro insultador, e diga qual a asneira que circula nas minhas pertinentes dúvidas, supra. Sff, claro! Aliás, se quiser conhecer aquele a quem insulta, visite o blog "Em nome da Ciência" e deixe lá o seu verrinoso comentário, comentário a que simpaticamente responderei...

Anónimo disse...

Você dá vontade de rir e o seu blogue dá vontade de chorar, de tanta asneira que escreve. É tão somente isso.

Mas se quer uma resposta directa às questões do seu primeiro comentário (que seriam escusadas se tivesse algum contacto com o meio científico, mesmo que indirecto e por mais mínimo que fosse), aqui vão.

Não, nem todos os temas de investigação têm aplicação prática a médio prazo e a indústria de um modo geral não está interessada nos que se encontram nessa situação. E não só isso, como também na maior parte das vezes (em ciência fundamental, pelo menos) nem sequer é possível saber a priori se um determinado projecto irá ter algum resultado interessante (ou não se estivesse a estudar o desconhecido), e isto mesmo já numa perspectiva estritamente científica, quanto mais sob uma visão económica. Isso não significa que este tipo de investigação seja inútil, dado que antes de mais é necessário saber como a natureza funciona se se quiser eventualmente desenvolver alguma aplicação com impacto prático visível na sociedade, além de que aliás até é bastante comum descobertas revolucionárias serem feitas por mero acaso e surgirem da ligação inesperada entre dois assuntos sem qualquer intersecção aparente.
A moral da história é que é preciso continuar a fazer ciência de ponta, quer pura quer aplicada. Os países mais desenvolvidos fazem-no e sabem que este se trata de um factor imprescindível para manterem a saúde das suas economias. Não só, na verdade, esta tese é confirmada historicamente como também as indústrias do domínio tecnológico estão permanente e minuciosamente atentas aos novos avanços científicos, já para não falar da procura de pessoal altamente qualificado por parte daquelas (o qual é, claro, recrutado nas universidades).

Francisco Domingues disse...

Caro Anónimo, (É um nome interessante!)
Não é que simpatizo consigo! Não pelo insulto, claro, que continua gratuito e um tanto simplório - desculpe o desabafo - mas pela resposta. Se quer que lhe diga, eu já esperava algo de semelhante. Simplesmente, queria saber da profundidade da dependência da investigação científica dos dinheiros públicos e até que ponto poderia a investigação ser subsidiada por entidades nela interessadas e casos em que tal tenha acontecido, como acontece na investigação na indústria farmacêutica. Convinhamos: a investigação pura e dura, só pela curiosidade do saber, pode ser muito interessante para quem a faz, mas não para o grande público que, a ser subsidiada por fundos públicos, será um ilustre pagador sem qualquer benefício...
Ora, quanto ao meu blog! Você também me dá vontade de rir. De chorar, não gosto... Como não brinco com críticas que faço, neste momento na análise crítica da Bíblia, embora o faça de modo a ser percebido por um largo espectro de leitores, é muito descaramento da sua parte usar aqueles termos depreciativos. Aliás, desafio-o - e aí quero ver a sua coragem! - a contrapor aos meus argumentos apresentados no blog. Mas pode estar certo: nunca serei agressivo se não concordar com você. Eu sou pluralista e respeito as ideias dos outros, embora tenha todo o direito de as criticar. De modo civilizado, está claro!

Anónimo disse...

Para dizer a verdade não tenho grande interesse em (nem disponibilidade para) debater os posts do seu blog; primeiro, e a julgar pelo pouco que li, porque tirando, por um lado, umas quantas trivialidades sabidas há muito pelos académicos do assunto e, por outro, outras tantas afirmações que deturpam marcadamente o consenso dos historiadores, a verdade é que não parece ter lá grande coisa de relevo para além das suas opiniões pessoais acerca do tema (que são suas e não as vou discutir); de resto, o que lá escreve não pertence ao domínio da ciência, que era o assunto inicial da conversa, mas sim ao da filosofia.

No que diz respeito aos benefícios da investigação pura para o contribuinte, eles efectivamente existem apesar de não serem visíveis no imediato (como já tinha referido de forma explícita) e, se olhar para a história da ciência, poderá verificar que sempre assim foi.

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