quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Uma anedota de Egas Moniz

Trecho de Egas Moniz (Prémio Nobel), "A Nossa Casa", Paulino Ferreira e Filhos, Lisboa, 1950:


"No meu passado de estudante o feriado era a suprema aspiração. Estávamos presos à frequência das aulas, com quatro faltas apenas para as necessidades mais imperiosas – e havia quem as não desse! – o que nos trazia sempre à espera de alguns feriados, de fora do calendário, a despontar no horizonte. A morte de um lente dava um feriado. Quer ele fosse do activo, quer dos aposentados. Destes perscrutava-se o estado de saúde e não era raro ouvir-se, ao saber da idade:

- Já podia ir indo…

Sucedeu uma vez que certo lente de teologia. De há muito jubilado, que marinhava na casa dos oitenta. Dado como homem espirituoso do seu tempo, passou a enfermar de mal crónica que não tinha fim.

A rapaziada, numa solicitude pouco dignificante, ia frequentemente saber a sua casa, como ia o senhor doutor. Apresentavam ar compungido. A criada ia informando:

- A noite foi melhorzinha. Muito agradecida.

- Desejamos muito as melhoras.

- Obrigado.

Indagou o velho teólogo do que se tratava e soube das solicitações dos académicos em que, sabia bem, não iam votos pelas suas melhoras, A criada foi chamada e instruída de forma a dar a todos a mesma resposta.

- Os senhores escusam de estar a incomodar-se mais. O senhor doutor está melhor  e resolveu morrer em férias…
 "

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