As férias do Natal são tempo de colocar as leituras em dia. Gosto de acompanhar o que os autores portugueses vão escrevendo. De entre a ficção de autores nacionais saída ultimamente e que se encontra na minha estante ou mesa de cabeceira destaco, ou por ter lido e gostado, ou por estar a ler e gostar, ou ainda por pretender vir a ler e ter a esperança de via a gostar. A ordem é alfabética, pelo último nome do autor:
- Cristina Carvalho, "Quatro Cantos do Mundo", Lisboa: Planeta, 2014.
Quem sai aos seus não degenera, diz o provérbio, e o Carvalho de Cristina vem de Rómulo de Carvalho. Não, estes contos, magnificamente ilustrados por Manuel San Payo, que só remotamente têm a ver com ciência. São efabulações, em prosa que não raras vezes roça o poético, relativas a viagens imaginadas a
"quatro cantos" inóspitos do mundo: os gelos polares, o deserto ardente, a selva tropical, e o fundo dos oceanos.
- Afonso Cruz, "Mar", Lisboa: Alfaguara, 2014.
O autor da Figueira da Foz continua a sua Enciclopédia Universal, desta vez sobre um tema próximo da sua terra natal. Trata-se de um estranho almanaque onde não se sabe bem o que é verdadeiro e o que é ficcional, onde citações de clássicos aparecem, mescladas com a prosa do autor. É o quarto volume da série depois do primeiro, premiado e esgotado, e dos Arquivos de Dresdnen e de Alexandria.
- Sérgio Godinho, "Vida dupla", Lisboa: Quetzal, 2014.
O conhecidíssimo autor de canções, poemas e um livro infantil entra com este volume na prosa ficcional. São pequenos contos, sem nomes de pessoas nem de sítios, não localizados no tempo, que surpreenderão o leitor. Os dois temas principais que percorrem as histórias são os espelhos (daí a palavra "dupla" do título) e a perda (o sem-abrigo com "vida dupla" da história final perdeu a mulher, mas há outras perdas ao longo do livro).
- António Lobo Antunes, "Caminho por uma Casa em Chamas". Lisboa: Dom Quixote, 2014.
Lobo Antunes prossegue com impressionante regularidade a sua epopeia literária. Mais um título a não perder pelos lobo-antunianos, os leitores que apreciam a escrita nada convencional de um dos nossos melhores escritores da actualidade.
- Alexandra Lucas Coelho, "O Meu Amante de Domingo", Lisboa: Tinta da China, 2014.
Numa bela edição da Tinta da China, a jornalista que já nos tinha dado "Vai Brasil!" dá-nos agora um romance de vingança, de um ponto de vista feminino, que se lê de um fôlego. Escrita muito viva, isto é muito rente à vida. A vida é assim, por vezes de paixões violentas, o que é que se há-de fazer?
- Paulo José Miranda, "A Máquina do Mundo", Lisboa: Abysmo, 2014.
Com ilustrações de André Carrilho, este romance é apenas um dos vários livros de um autor português exilado no Brasil e que agora regressou literariamente em grande força. A violência de novo: "Como acontece com a matemática e com a música, o que torna a violência atraente é a sua universalidade".
- Gonçalo M. Tavares, "Uma menina está perdida no seu século à procura do pai", Porto: Porto Editora, 2014.
Relativamente jovem, mas já consagrado no país e no mundo, Tavares prossegue com uma cadência que nos impressiona a sua obra muito original. Além deste título saiu dele, quase ao mesmo tempo, na Caminho o livro de poesia "Os velhos querem viver", onde recria um dos dramas de Eurípedes, onde enfatiza a igualdade do valor da vida: todas as vidas têm o mesmo valor.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
Sem comentários:
Enviar um comentário