Para além do imperativo eugénico, de escolha artificial de espécies a eliminar, em nome de uma mal-definida ideia de "excelência", o actual governo tem outro leit motiv na sua política de ciência. O do favorecimento, com dinheiros públicos, do sector privado. Está provado que o governo adora o privado (vide o caso recente da TAP). É uma escolha política, com certeza: nas próximas eleições será perguntado aos cidadãos se desejam que o dinheiro dos seus impostos continue a ser directa ou indirectamente entregue aos empresários. Na intervenção de Passos Coelho no Congresso dos Jotas em Braga, naquilo que o jornal Expresso chamou "Aviso à Investigação", a mensagem é muito clara, por uma vez sem erros de gramática (admito que a vírgula esteja certa, o que significa que Passos Coelho identifica Portugal com as empresas):
"Passos apontou ainda um destino para a investigação em Portugal."Essa investigação tem que estar ao serviço das empresas, de Portugal", referiu."
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/passos-lanca-aviso-a-investigacao-cientifica=f902615#ixzz3M9NttAWp
Portanto, mesmo as Unidades de Investigação que sobrevivam nesta "segunda fase" da "avaliação", já sabem o que as espera: colocarem-se ao serviço das empresas. Terão de parar os seus programas de investigação e ir perguntar aos empresários o que eles querem que elas façam. Terão, logo à partida, de abandonar a investigação fundamental e, Passos Coelho dixit com a sua voz possante (Portas e Pires de Lima cantam em coro), dedicar-se à investigação aplicada. A palavra "excelência" na boca do PSD e CDS significa dar aos privados não só o dinheiro do Orçamento do Estado mas a própria agenda da investigação.
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4 comentários:
Penso que se podem dedicar á investigação que entenderem, fundamental ou aplicada que é que isso importa ás empresas.
Essa decisão que deve ser das unidades de investigação. No entanto ao tomarem essas decisões devem ficar sujeitas ás suas consequências.
Porque é que custa tanto aceitar que, quem toma uma decisão deve ficar sujeito ás suas consequências.
O motivo pelo qual a gestão publica falha mais que a privada , não tem a ver com as pessoas. A gestão publica falha, porque os decisores não sofrem as consequências das escolhas que fazem. As consequências são suportadas por outros que não participam nas decisões.
Porque é que, uma unidade de investigação que seja “excelente”, não consegue ser independente do apoio publico ?
Porque não quer fazer investigação aplicada.
Pois fazem mal.
Deviam fazer investigação aplicada para se tornarem independentes do apoio publico que tanto contestam, porque o apoio nunca chega, porque isto e por aquilo.
Depois de serem sustentáveis podiam fazer a investigação fundamental que entendessem
As empresas também não fazem aquilo que lhes apetece ( ou melhor , o que apetece aos seus acionistas), fazem aquilo que os clientes querem. E depois de serem sustentáveis fazem investigação e inovação o que lhes permite atingir finalmente a excelência.
Cumps
Rui Silva
Concordo com o comentário do Rui, sobretudo no que toca à responsabilização, exemplo: Temos tido (cada vez menos) projectos aprovados pela fct cujos resultados nunca chegam à luz do dia, fizeram-se umas coisitas, umas bases de dados, uns levantamentos, tudo trancado num armário de um gabinete e depois a sociedade nunca vêm saber afinal o que se concluiu dali!
Mas também temos que ver que há empresas e empresas e o tecido empresarial português é muito mas muito fraquinho, não só em capacidades económicas mas em mentalidade, ainda há algum tempo, 3 ou 4 anos, tinha saído um estudo em que revelava que enquanto a maioria dos funcionários por conta de outrem tinham em média o 12º ano, os seus patrões ficavam-se pelo 6º ano.
Eu sou da opinião que a investigação fundamental deve fazer-se sempre, aliás, sem ela como se conseguem as etapas seguintes?
Mas também não seria tempo de remodelar o mapa dos centros de investigação? Há muita duplicação e triplicação de recursos, parece que andamos todos a fazer o mesmo, sem extinguir à maluca como está a ser feito, mas ponderado fazerem-se fusões e criarem-se centros maiores e mais dinâmicos, com estudos multidisciplinares.
Também é verdade que os centros se deixaram viver à sombra do financiamento e temos ai o 2020, o feder e outros programas para fundos europeus e nem concorrem, talvez porque fazer um projecto dá trabalho ou porque simplesmente a instituição em que se encontram nem sequer possuiu recursos humanos qualificados aptos a gerirem projectos desse calibre, o que acontece em universidades em Portugal.
A prestação de serviços pode ser uma área, fazer projectos a longo prazo (mas ter começado há 10 ou mais anos) é outra, de forma a ganhar um background e uma referência que despoletem metas maiores..
Caro anónimo,
Pelo seu equilibrado comentário deduzo ( evidentemente que admito poder estar errado) estará por dentro da investigação no nosso País.
E concordo também com algumas coisas que diz.
No entanto o seu comentário "...os seus patrões ficavam-se pelo 6º ano."
suscitou-me algo que queria acrescentar:
Não entendo como, com esta situação, podem existir tantos doutorados desempregados e dependentes da subsidiação estatal.
Deveria ser relativamente fácil a esses jovens ( que constituem a n/ massa cinzenta ), entrarem no mundo empresarial, dadas as vantagens relativas que possuem. Afinal estão a competir com os ex colegas que desistiram de estudar.
cumprimentos
Rui Silva
"Não entendo como, com esta situação, podem existir tantos doutorados desempregados e dependentes da subsidiação estatal."
Isso explica, provavelmente, muitos dos comentários com que nos tem brindado ultimamente.
Federico Reis
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