“Antigamente, muito antigamente, copiar era uma coisa muito feia” (Alice Vieira, escritora).
Acerca do copianço escolar, não poucas vezes génese do plágio na
vida futura profissional, transcrevo parte de um artigo da autoria de um nosso
compatriota, Ricardo Reis, professor de uma das mais prestigiadas universidades
dos Estados Unidos e do mundo , com o
sugestivo título “Copianço”.
Ao contrário do que acontece neste canto mais ocidental da Europa, nesse artigo descreve Ricardo Reis o que se passa numa das mais prestigiadas universidades dos Estados Unidos e do mundo onde lecciona:
“Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa: pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”(“Diário Económico”, 03/04/2007).
“Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa: pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”(“Diário Económico”, 03/04/2007).
Pelo exposto se verifica que o plágio e o copianço, quer se
processem em simples testes ou exames de todos os níveis de ensino,
comunicações científicas ou não, ou, ainda mesmo, mesmo
provas de doutoramento, são uma questão
ética de honrados costumes que devem ser inoculados, a exemplo das vacinas, a partir dos primeiros anos
dos bancos de escola, porque “é fundamental que o estudante adquira uma
compreensão e uma percepção nítida dos valores” (Albert Einstein).
O plágio e o copianço são
fenómenos intemporais, não poucas vezes,
uma espécie do gato e do rato em
que o prevaricador tenta encontrar
justificação “moral” chegando a ponto
de alegar em sua defesa casos famosos de celebridades que pretensamente o
cometeram. E os nomes surgem em catadupa e vilipêndio de gente medíocre: Eça,
Camões, Gabriel d’Annunzio, Stendal, Lord Byron, entre outros, sobre quem
recaiu, injustamente, o opróbrio de plágio
e não, apenas, de se terem inspirado em outras celebridades das Belas-Letras
para escreverem as sua notabilíssimas obras.
Eles foram, isso sim, homens de génio que produziram textos
imortais com característica bem pessoais e, por isso, isentos da infâmia do
crime de plágio. A inspiração em obras de outros autores não pode ser tida como plágio porque,
escreveu-o Afrânio Peixoto (crítico literário e ensaísta brasileiro), “o homem
de génio tem o direito de se apropriar das imagens e das ideias alheias e lhes
dar colorido, harmonia, sedução, vida, que as farão imortais”.
O que, em Portugal de “brandos costumes” e declarada falta de
civismo, ou, sem papas na língua, por “vivermos num país de aldrabões congénitos” (Maria
Filomena Mónica, referindo-se ao “copianço” num exame a candidatos a juiz e a
procurador) se me afigura difícil que se volte a tempos em que “antigamente,
muito antigamente, copiar era uma coisa muito feia” porque, no desânimo de Almada Negreiros, “o povo completo será aquele que tiver
reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses,
só vos faltam as qualidades”. Neste particular, e neste dealbar do século
XXI, os defeitos continuam excedentários!
6 comentários:
A ideia de sermos um povo de brandos costumes é falsa. Assim como a de que vivemos num país de aldrabões, etc. E a de que nos outros países é tudo honestidade e cá não não tem pés nem cabeça. Há diferenças entre os países é um facto. Algumas são visíveis a olho nu: no trânsito, respeito pelos peões etc., por exemplo. Deambulei por vários e hoje acredito que, essencialmente, não há grandes diferenças entre nós e outros. Batota em exames encontra-se em toda a parte desde a Suécia ao Burundi. Só um anjinho pensará em deixar alguém a fazer exame sem vigilância, qualquer que seja o nível. Na Alemanha há quem plagie teses de doutoramento como é sabido. Nos Estados Unidos nem todos são anjos. Há batoteiros e mesmo criminosos. Watergate foi cá, não? Alcapone era um tipo que morava na Amadora, não era? Acabemos com as queixas no estilo "isto só neste país". Por acaso já ouvi esta frase em várias línguas.
Não me compete, discordar das opiniões que critica por não me pertencer a respectiva paternidade sobre questões de copianço. Generalizar é sempre perigoso: o facto de não se copiar em Princeton não significa que não se copie noutras universidades americanas. Ou que, como escreve, e aqui estou de acordo consigo, nos Estados Unidos "sejam todos anjinhos".
Mas uma coisa me parece irrefutável (para além de Alcapone não ser da Amadora'): "É fundamental que o estudante adquira uma compreensão nítida dos valores". Ou não?
Quanto a Alcapone, que durante a "Lei Seca", assassinou ou mandou matar quem se lhe opunha, pelo menos, ficou-se a saber que por causa da fuga aos impostos foi enviado para a ilha de Alcatraz onde existia a prisão de maior segurança dos Estados Unidos.
E aqui, perante a impunidade de indivíduos que ganhando milhões e milhões de euros, declararam, num passado recente, para efeitos do fisco o ordenado mínimo nacional há uma diferença abissal, embora nada me habilite a dizer que "isto só neste país". Mas habilita-me, por exemplo, a concordar que "vivemos num país de aldrabões congénitos" (Maria Filomena Mónica).
Exceptuando a última frase (onde cita Filomena Mónica) posso dizer que estou de acordo consigo.
Obrigado pelo seu comentário.
De facto (beleza está a Literatura Comparada) professor Rui Baptista.
De beleza (facto está Comparada Literaura) professor Baptista Rui.
Ou, como dizia o outro "presumbenta e aguação cada quer toma a que um".
Cláudio de Sousa Abrantezi
Enviar um comentário