terça-feira, 21 de outubro de 2014

O que viu Passos Coelho em Nuno Crato?

Com a devida vénia, transcrevemos o artigo de Pedro Tadeu, jornalista do DN, saído no número de hoje desse jornal. Também eu não percebo o que passa pela cabeça de Nuno Crato para pensar que menos é mais: que menos dinheiro para a educação é melhor para a educação, que menos institutos de ciência é melhor para a ciência. A matemática dele pode estar de acordo com a de Passos Coelho, mas não bate certo com a lógica ou o bom-senso.

Pedro Passos Coelho noticiou ontem que Nuno Crato, após a catadupa de falhas e erros no início do ano letivo, se ofereceu, de baraço ao pescoço, ao sacrifício da demissão mas "nunca evitou agarrar no problema e nunca procurou lavar as mãos do assunto. Isso só significa que acertei quando o escolhi para ser ministro da Educação". E, por isso, Crato prossegue, serenamente, a gestão de um ministério onde, no projeto de Orçamento do Estado, se promete cortar para o ano mais 700 milhões de euros. Se o objetivo de Passos, quando formou governo, foi a de procurar homens e mulheres que teimosamente insistissem em repetir erros em cima de erros, sem nunca perder a determinação com que procuram novos erros para cometer, então, não há dúvida, Nuno Crato foi uma escolha espetacular.


De resto o homem já reincidiu: os tais 700 milhões de cortes inscritos por Maria Luís Albuquerque nas contas da Educação são "na prática, 200 milhões" disse-nos ele guiado, suspeito, pela habitual matemática obstinadamente errada e candidamente adorada pelo chefe do governo. Com números lidos assim adivinho já as casas de apostas a tratar de cotar a data da próxima paralisia das aulas em Portugal: "Será antes das férias de Natal (pagamos 1,2 por cada euro apostado) ou no segundo período (4,50 por cada euro apostado)?"


Com a confiança de quem está habituado a prever coisas que não acontecem - qualidade certamente imprescindível para trilhar caminhos políticos com Passos Coelho - o homem que coloca professores à balda e depois pede desculpa garante que não encerrará escolas em 2015, nem decidirá novos despedimentos de professores, nem aplicará experimentalismos nas salas de aula... à luz do passado deste político deverá acontecer, portanto, o contrário.


Este governo retirou, desde 2012, mais de 1750 milhões de euros ao financiamento do ensino pré-escolar, básico e secundário e 401 milhões ao ensino superior. Isto foi feito com Crato a garantir, obstinado, que o ensino público ia melhorar. O desastre está avista, claro. "Não faz mal", repete o hipotético demissionário, "para o ano reforçamos a dose". E, neste caso, nem desculpas pede!


A teimosia de Crato é a mesma qualidade que levou Passos a aprovar orçamentos errados, retificados várias vezes ao longo dos exercia cios, como irá acontecer em2015. A teimosia de Crato é a mesma que leva Passos a insistir, para salvar o país, em levar uma boa parte dos portugueses ao nível de vida limiar à pobreza. Por isso Passos está certo quando diz que viu, em Crato, as virtudes que, cegamente, acha que ele próprio tem. Há muito tempo que não ouvia palavras tão acertadas do primeiro-ministro.  

Pedro Tadeu - Jornalista  


Diário de Notícias 2014-10-21

1 comentário:

Ildefonso Dias disse...

Ontem no programa pós & contras encontrava-se presente o professor Domingos Fernandes (da ala Socialista), cujo currículo consultei na página:

http://www.ie.ulisboa.pt/portal/page?_pageid=406,1298536&_dad=portal&_schema=PORTAL

Trata-se de um carreirista, é olhar o currículo! sem dúvida. Pela sua conversa soubemos que este senhor teve responsabilidades (nem que fosse na escolha de Professores e formação de equipas de trabalho, isso já foi demais!) no anterior currículo de matemática do ensino básico.

Mas mais grave é que este senhor Domingos Fernandes se prepara para no futuro desempenhar idênticas funções, acompanhado de outros carreiristas certamente.

Senhor Professor Carlos Fíolhais, não estão aqui motivos de sobra para nos preocuparmos?!

Isso não o preocupa a si, enquanto professor e cientista, muito mais que os problemas de logística na Educação, porquanto, se trata de uma matéria [a importância de um currículo de Matemática] que não está ao alcance de nenhum Domingos Fernandes, nem lá perto...

Podem os pais e encarregados de educação confiar essa missão a estes indivíduos?! Evidentemente que não. Mas para isso é importantíssimo que chegue essa informação aos pais e encarregados de educação para que estejam atentos e para que digam Não!, que não queremos a elaboração de um currículo de Matemática feita por carreiristas!

Não é essa denuncia um dever seu, e de outros, Professor Carlos Fíolhais? É. E é dever para com a sociedade que lhes delega as suas Instituições de Ensino e que por conta disso só lhes pede a máxima confiança.
Como se sente se não fizer, - e contribuir pelo silencio, ou por andar entretido a dar voz a jornalistas como este Pedro Tadeu em assuntos desviantes - para que no futuro essa situação venha a ocorrer tal como já se está a encaminhar?

Não nos deve servir o exemplo, de dedicação e apurado sentido de dever do Professor José Sebastião e Silva, que abdicando da sua profícua investigação assegurou a actualização do ensino da matemática aos jovens em Portugal?!
Também por aqui se pode perceber a importância do currículo de Matemática, sim, foi ele, conceituado matemático, e não outros a fazê-lo, haverá coisa mais evidente?

Cumprimentos,

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