domingo, 6 de outubro de 2013

O DESCRÉDITO DE CERTO ENSINO SUPERIOR

Lamento tanto ou mais que o seu autor, o teor do anónimo comentário (6/10/2013), ao post de António Piedade, intitulado “Cultura Científica em Portugal – Uma Perspectiva Histórica”. 

Refiro-me (e julgo que a isso se referia o supracitado comentarista) ao descrédito que licenciaturas, mestrados e até os doutoramentos obtidos por portas travessas (por convénios políticos, ou mesmo acordos espúrios, não há que ter medo das palavras, entre institutos politécnicos e “universidades”) trouxeram à Educação Física e Desporto, com uma longa e prestigiada tradição académica superior oficial que remonta a idos de 1940 (ou seja há mais de sete décadas), através da criação do Instituto Nacional de Educação Física (INEF).

Mas se, o prezado leitor se der ao trabalho de verificar, idêntica situação se passou com outros cursos (inicialmente de ensino superior curto) que utilizaram idêntico processo na atribuição de graus académicos a diplomados pelas antigas escolas do magistério primário. Vide o exemplo (e se ao facto me refiro é por ele constar do respectivo currículo de vida) do actual secretário de Estado do ensino Básico e Secundário, João Grancho.

Para evitar trabalhos de consulta, se transcreve, do Portal do Governo, o respectivo percurso académico feito numa única escola oficial  de nível médio, Escola do Magistério Primário. Todo o resto se processou no ensino privado superior. Reza o referido portal, que transcrevo “verbo pro verbo”:

“Concluiu o Curso do Magistério Primário em 1980. Em 1993, concluiu o Curso de Estudos Superiores especializados em Administração Escolar pelo Instituto Superior de Ciências Educativas. Mestre em Administração e Planificação da Educação desde 2007, apresentou a tese «A Autonomia das Escolas em Portugal - Contextos Político - legais e perspectivas de desenvolvimento nos estabelecimentos de educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário». Concluiu também a parte curricular do Doutoramento na Universidade Portucalense em 2008”.
Por tudo isto (que não é nada pouco!), não posso deixar de lamentar que todas estas conquistas se passem, muitas vezes, no segredo dos deuses sem merecer os devidos comentários de que exceptuo o seu bem a propósito comentário, meu caro anónimo, que deu azo a este meu esclarecimento que espero ser “água mole em pedra dura…” Já é altura dos portugueses ficarem a conhecer o que se passa nos bastidores da nossa política educativa em que porfiei longos anos na procura da letra de uma canção da minha meninice, pela respectiva analogia, que se me negava na neblina  da memória,  e em que um macaco, dedilhando uma viola, trauteia:

“Do meu rabo fiz navalha
Da navalha fiz camisa
Da camisa fiz farinha
Da farinha fiz menina
Da menina fiz viola
Trin tim tim que vou para Angola”
O mesmo se passa com muitos diplomas portuguesas actuais, com a diferença que Angola só abre as portas aos portadores dos nossos diplomas mais credenciados ficando à porta desse novel país os diplomas obtidos para fins estatísticos em que a qualidade pouco ou nada vale. Razão tinha o antigo ministro da Educação do Estado Novo, (1955-1961), Leite Pinto: “Há duas maneiras de mentir: uma é não dizer a verdade; outra mentir”!

2 comentários:

Graça Sampaio disse...

De uma forme ou de outra, todos neste "governo" mentem! E atrevem-se a falar em "credibilidade"...

Rui Baptista disse...

É a credibilidade da mentira. Julgo ter sido Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, que disse que uma mentira mil vezes repetida se torna numa verdade...

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