Artigo de Nicolau Ferreira saído no Público de ontem, para o qual prestei declarações:
É um marco na colecção da Gradiva: 200 obras publicadas e um passar de testemunho. Carlos Fiolhais é agora responsável pela edição substituindo Guilherme Valente, o fundador da editora.
Os livros ficam. Esse é um dos valores da edição, o da permanência, um lugar numa estante das bibliotecas. Lá, pode-se voltar a
encontrar Cosmos
de Carl Sagan, Um
pouco mais de azul,
de Hubert Reeves ou Breve história
do tempo de Stephen Hawking.
São três obras da colecção Ciência
Aberta da editora Gradiva, clássicos
de divulgação científica em
português que podem ser lidos por
todos. É isso que Carlos Fiolhais,
físico e professor na Universidade
de Coimbra, lê no nome criado há
31 anos por Guilherme Valente, fundador
da Gradiva. A ciência aberta é
a “que convida a entrar”, diz o novo
responsável pela colecção que comemorou
em Maio o número 200.
A primeira escolha de Carlos Fiolhais
para a série — o número 201 — é
um livro antigo para um tema actual.
Como Mentir com a Estatística,
de Darrell Huff , uma obra de 1954,
mostra que “por de trás da palavra
‘média’ ou ‘desvio’ estão as coisas
mais assombrosas”, diz Fiolhais, e
explica como a estatística é usada
para mascarar logros. “A ciência é
um desejo imparável do Homem, há
tanta ou mais necessidade de a compreender
do que há 30 anos. Não
penso que haja um esmorecimento
pelo desejo do seu conhecimento”,
defende Carlos Fiolhais.
Mas nem tudo vai bem no mundo
da divulgação científica, basta
ver a redução do número de cópias
dos novos livros da colecção. Para
Guilherme Valente isto mostra um
problema que não é de hoje. “Somos
uma sociedade muito pouco
informada pelos valores da cultura
científica. E nesse sentido, a colecção
não realizou uma das principais
motivações que determinou a sua
criação”, explica ao PÚBLICO Guilherme
Valente, que em 2012 foi distinguido,
juntamente com a Gradiva,
com o Grande Prémio Ciência
Viva pelos 30 anos da colecção Ciência
Aberta, um galardão atribuído
pela organização Ciência Viva.
Que valores são esses que a ciência
se rege? Rigor, a procura da
verdade, o combate à ilusão, o reconhecimento
do mérito, o não
elitismo. “A ciência implica muito
trabalho, leitura, muito rigor. Isso
são qualidades que acho que não
estão muito presentes no nosso
quotidiano”, critica o editor, que
quis depois do 25 de Abril inverter
esta situação nacional.
É preciso voltar ao início da década
de 1980, para relembrarmos o
contexto em que nasceu a Gradiva,
em 1981, e a colecção Ciência Aberta,
em 1982. Sete anos depois da
Revolução dos Cravos e de acordo
com os Censos, 36,9% da população
não tinha qualquer escolaridade e
Nicolau Ferreira
38,8% só tinha a escola primária.
Trinta anos depois ainda há 10,4%
de pessoas em Portugal que nunca
foram à escola e 27,2% que só têm a
primária. Em 1981, apenas 2,1% fez a
licenciatura, em 2011 o número sobe
para 13,8%.
Não é de estranhar, por isso, que
a ideia de Guilherme Valente de
editar uma colecção de livros científicos num país tão pouco escolarizado
tenha causado incredulidade.
“Toda a gente achava que era um
disparate começar a colecção. Não
havia tradição neste domínio e as
pessoas achavam que não havia leitores”,
lembra o editor. Mas os leitores
apareceram. Guilherme Valente
“teve uma intuição incrível”, diz
Carlos Fiolhais. “A colecção criou
o seu próprio público. Havia uma
quantidade de jovens, professores,
cidadãos que não tinham acesso a
estes livros e de repente descobrem
os grandes autores da ciência numa
só colecção”, acrescenta o físico.
Com o arranque, a série acabou
por cumprir vários objectivos de
Guilherme Valente: despertou muitas
vocações em jovens daquela altura,
teve produção portuguesa — o
11.º volume é assinado pelo físico e
divulgador de ciência Jorge Dias de
Deus com o título Ciência, curiosidade
e maldição —, e alguns livros
de autores portugueses chegaram a
ser publicados no estrangeiro, o que
mostrou o “prestígio da colecção e a
credibilidade da Gradiva”, sublinha
Guilherme Valente.
Mesmo o objectivo principal de
aumentar a cultura científica para
promover o desenvolvimento do país
e regar a sociedade dos valores da
ciência teve um sucesso parcial no
início. Os jovens descobriram estes
livros e acabaram por fazer com que
os pais também se interessassem
pelos temas, refere o editor que é
licenciado em filosofia. ´
Terrível regressão
“A minha entrada na colecção foi como
leitor”, lembra Carlos Fiolhais.
“Venho da Alemanha em 1982 [onde
fez o doutoramento] e vejo aqueles
livros e penso ‘tão interessante’ e até
proponho títulos”, diz o físico que
também faz divulgação de ciência
e é autor de algumas das obras da
série. A colecção chegou a ter vários
títulos nas listas do Jornal de
Notícias.
Mas para o fundador da Gradiva
esse impulso esmoreceu: “As tiragens
de agora de qualquer livro de
ciência baixaram dois terços.” O número
de cópias impressas na primeira
edição dos últimos cinco volumes
da colecção situam-se entre os 1000
e os 1500 exemplares. Enquanto a
primeira edição do Cosmos de Carl
Sagan não teria uma tiragem menor
do que 3000 exemplares, ao que se
seguiram muitas outras edições.
Porquê esta redução? “Houve
uma regressão terrível”, responde
Guilherme Valente. “Os grandes livros
não são lidos porque de facto
perdeu-se capacidade de ler, isso
está tudo ligado à escola”, admite
Guilherme Valente que também é
o autor de Os anos devastadores
do eduquês, editado pela Presença.
“Não temos leitores porque a
escola não produziu leitores. Ler é
um exercício difícil. Quando aprendemos
a ler vemos que isso é uma
coisa que não podemos prescindir
na nossa vida. Lemos um livro e apesar
do que somo e do que vivemos,
ficamos diferentes, ganhamos uma
data de perspectivas, de interrogações”,
considera o editor. “É preciso
escola ensinar a ler e isso faz-se com
exigência. O livro é o contrário da
Internet, a Internet obriga a fazer
zapping, enquanto no livro tem de
se voltar a folha para trás para ler
outra vez.”
Carlos Fiolhais é mais optimista
em relação à procura de livros sobre
divulgação científica. “Há público,
as pessoas querem saber, têm curiosidade”,
refere. Mas concorda que
hoje “os jovens perdem-se muito na
Internet”.
O facto é que esta mudança nos
hábitos de leitura já está a pôr em
causa a própria edição de novos
livros. O número baixo de vendas
acaba por não pagar as traduções
de livros que o editor gostaria de
publicar. “Estamos numa situação
terrível de regressão. Porque é importantíssimo
para uma sociedade
ler os bons livros que se publicam
em todo o mundo”, diz Guilherme
Valente.
O livro que marca os 200 números
e a transição de direcção da colecção,
de Guilherme Valente para Carlos
Fiolhais, é por tudo isto um grito
de resistência. Ciência e Liberdade,
Democracia, razão e as leis da natureza,
de Timothy Ferris, defende que
a ascensão da ciência está ligada ao
iluminismo, à razão e à liberdade.
E nas sociedades que não são livres,
como no caso da Alemanha do Hitler,
a ciência não vinga. “O livro resume
de algum modo o espírito da
colecção. É uma colecção de ciência
ligada à sociedade e a liberdade é
essencial”, explica Carlos Fiolhais,
que defende que há mais liberdade
e capacidade de discussão por parte
da sociedade do que há 30 anos.
Apesar das difi culdades, há um
acto de resistência nesta passagem
de testemunho. “O Carlos esteve
sempre muito ligado à colecção, é
um apaixonado por este combate
e achei que era altura de lhe pedir
que assumisse esta tarefa que sei
que é também um gosto para ele”,
refere Guilherme Valente. “Sei que
a colecção vai ser melhor porque o
Carlos é uma pessoa fantástica.”
De português para português
Depois da estatística, o próximo
livro será sobre o mundo quântico
escrito por Luís Alcácer, investigador
do Instituto Superior Técnico.
“Vou tentar seduzir para a escrita
os jovens de 30 a 40 anos. Aqueles
que foram para a ciência por
causa dos livros da Gradiva”, diz
Carlos Fiolhais. Um dos objectivos
é a “criação de modelos”, refere o
físico, para que os jovens de hoje
que lerem os livros vejam que há
portugueses a escreverem sobre
todos os domínios de ciência, que
é possível almejar qualquer profissão.
“Isso cria um elo de proximidade
com os leitores”, diz.
Por outro lado, os temas quentes
da ciência vão continuar a ser uma
aposta. Questões como a biomedicina,
a alimentação, a genética, as
alterações climáticas ou o bosão
de Higgs farão parte da colecção.
“Gostaria de estar perto dessas
questões na ciência que não podem
ser misteriosas, não podem
ser bruxaria”, diz Carlos Fiolhais,
que defende que hoje a ciência lida
muito com o invisível e as pessoas
percebem que ideias “invisíveis”,
como o raios-X e a medicina, o dióxido
de carbono e as alterações
climáticas, ou os transgénicos e a
alimentação têm consequências
na sua vida.
“É por isso que Ciência Aberta é
importante. As grandes questões
não estão no poder dos cientistas”,
reflecte Fiolhais, que se sente “aos
ombros de gigantes” por continuar
a colecção.
Guilherme Valente recorda da
sensação que teve quando viu a
capa do segundo livro da edição,
Um pouco mais de azul, de Hubert
Reeves — um espaço cheio de estrelas
azuis: “Eu quase lhe posso dizer
que aquele livro foi determinante
para a criação da Gradiva e fazer
a colecção Ciência Aberta. Eu quis
publicar aquele livro.” O editor vai
ainda mais longe na sua memória,
para quando era criança e se deitava deitava com os amigos no campo a olhar para o céu estrelado, foi lá que encontrou “o sentimento de perplexidade, inquietação e curiosidade inominável”, que diz estar na origem do fascínio pela ciência e que partilha com Fiolhais.
Por todas estas razões, a colecção continua tão válida e actual e aberta como quando nasceu e por isso, como diz Guilherme Valente “vai prosseguir”.
Nicolau Ferreira
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8 comentários:
Porque persistiu, insistiu e conseguiu fazer luz na escuridão de breu cá do rectângulo, em matéria de divulgação do conhecimento científico, um imensíssimo obrigado a Guilherme Valente.
Pronto. Como eu vou a andar para trás...enfim...terei de concordar com a opinião de que a escola não consegue que os jovens leiam o suficiente. Mas a grande questão é que se é a escola que ensina a soletrar e a ler fluentemente; já não sei se cabe à escola criar hábitos de leitura. Senão repare-se o PNA dantes não existia. As obras que líamos até ao 9º ano (antigo 5º) também não eram as que nos levavam à leitura: não me lembro de gostar ou ouvir dizer aos meus colegas que gostavam dos Lusíadas ou da peça de teatro Frei Luís de Sousa.E hoje as obras que se lêem são bem mais interessantes.
Digamos antes que a internet invadiu as pessoas ou elas se deixaram invadir por ela. E não vale a pena dizer mais até porque tenho ali um livrito à espera. E gosto de passar folhas, voltar atrás, reler, escrever nas margens, copiar frases (por acaso não sei bem para quê que nunca as uso). E, pior, gosto de pensar sobre o que leio.
A escola não ensina a ler, isto é, ensina a decifrar. A maioria dos professores só decifra e mal. Não há mestria porque não se pode ensinar o que não se sabe. A culpa é de uma elite detentora do conhecimento que verdadeiramente não partilha porque tudo o que é codificado não existe para o leigo, mesmo que este seja letrado - patina no gelo com patins emprestados e uma meia dúzia de sons mais ou menos compreensíveis, assim, como quem acha que fala...
Se saímos da escola a não saber ler nem escrever o mundo, a culpa não é da escola. Convém que assim seja.
Anónimo
Pode até ser que tenha razão, mas não aprecio grandemente a linguagem das culpas. E responsáveis somos todos. Porque há um trabalho que é do indivíduo e não pode não ser. A escola dá as ferramentas, mas o trabalho és tu que pões. Se o não fazes, a obra não há.
A realidade é misteriosa. E em certa medida, indecifrável. Apesar dos tantos modos de lê-la que não a conseguem dizer no completo. A vida é sempre mais do que o resto, dizia Vergílio Ferreira. Ainda bem. Por ser. E porque ele o disse.
A Escola é ideologia política se é que a política tem uma ideologia educativa. E políticos somos todos nós mesmo quando não o somos. Aí reside a nossa responsabilidade. A Escola não deveria dar só ferramentas, nem cumprir-se a depender do trabalho mais ou menos essencial, segundo as literacias, sapiências e expetorações de cada um. Porque nela moramos a maior parte do nosso tempo vital e estruturante, o âmbito global deveria ser o da excelência e o da qualidade. Se antigamente, como diz Eça, era uma "casa triste e sombria impregnada daquele cheiro abafante", cuja "única preocupação é que os alunos estejam quietos e sejam no fim do ano letivo aprovados ao Liceu Nacional", hoje é uma casa confusa, paradoxal, mutante, a ceder pelas costuras mal alinhavadas, constantemente legislada e revogada, aglomerando seres em desarmónica polifonia, exatamente com o mesmo singelo objetivo da estatística aprovação, sem esperança de realidade que não seja indecifrável e misteriosa... A (in)diferença é que rimos mais. Se, como diz Vergílio, a vida é sempre mais do que o resto, ouço o Eça a responder-lhe “nós vivemos nisto, nesta repulsiva podridão, complacentes, descuidados, felizes, dando a todo o mundo moral o espetáculo da maior degradação e da maior baixeza em que pode cair uma sociedade”. É para este “resto” que o “resto” da Escola faz circular as suas crianças.
Devo dizer que sou fã incondicional da coleção da Gradiva em apreço. Sou licenciada em filosofia e, no entanto, tenho uma boa parte dos livros da coleção Ciência Aberta. Durante ano ansiava pelo próximo número. Trabalho numa escola, e dirijo uma biblioteca, onde existe cerca de 50% dos títulos já editados da referida coleção. Estou farta dos diagnósticos enviesados e do discurso da culpa.
Em primeiro lugar, nota-se hoje uma evolução muito significativa das competências leitoras dos alunos: há mais alunos a ler com fluência e clareza; há também muitos alunos que soletram e continua a haver muitos alunos que não conseguem, de forma cabal, retirar sentido do que lêem.Em lugar do estafado discurso do culpa do eduquês, talvez fosse preferível olhar para os efeitos positivos do Plano Nacional de Leitura , da Rede de Bibliotecas Escolares e das múltiplas ações que desenvolvem. Talvez fosse interessante, para os discursos pessimistas, saber primeiro o que os alunos lêem.
Em segundo lugar, os alunos nunca leram tanto como hoje. Lêem preferencialmente um suporte eletrónico, pelo que temos agora de ter um trabalho acrescido de os ensinar a ler em outros suportes. Ensinar a ler, no sentido de ensinar a retirar significado do que lêem.
Em terceiro lugar, nunca como hoje tivemos tantas solicitações. Ler é um ato exigente que compete com múltiplas formas de entretenimento, mas também compete com múltiplas formas de aceder ao conhecimento. Nunca como hoje tivemos acesso a revistas, a atividades educativas no domínio da ciência, a exposições, palestras, conferências e nunca como hoje tivemos necessidade de trabalhar horas e mais horas para honrar os nossos compromissos. Os alunos também.
Em quarto lugar, devo dizer que muitos livros recentemente publicados na coleção não são tão acessíveis, ou seja, não se dirigem tão facilmente ao grande público. No meu caso, que, infelizmente, pouca cultura matemática tenho, sempre consegui ler e perceber saltando "as partes matemáticas". Mas, os raciocínios, as ideias fundamentais eram acessíveis e muito estimulantes. Em alguns livros recentemente publicados, tive dificuldades. Nem sempre quem comunica ciência o faz com a clareza e simplicidade necessárias, sem perder o rigor.
Em quinto lugar, e embora discorde em absoluto, e por muito paradoxal que possa ser, não ler ciência tem a ver com a pressão, sobre os professores e os alunos, dos exames nacionais. A pressão é tanta que a ciência fica reduzida aos saberes disciplinares, não havendo tempo mental para mais nada. O que importa é a matéria. Queremos lá saber como é que Einstein chegou às suas terias, para dar um exemplo.
Concluindo, há muitas e variadas razões para não se ler ciência. E, acrescento mais uma, a multidão de livros que se publicam hoje e que também estão acessíveis nas bibliotecas, também é uma delas.
Concordo que, hoje, os alunos lêem mais. Não sei se lêem melhor, se retêm o que lêem ou se aplicam o que lêem. Desenvolvem-se múltiplas ações e projetos que dão sentido laboral a muitos. E muitos lêem. E lêem todos. E depois vêm os exames e ficamos todos com a sensação que ninguém lê. E recordamos vagamente o “Plano Nacional de Leitura, a Rede de Bibliotecas Escolares e as múltiplas ações desenvolvidas” no sentido do supremo esforço filosófico de abrir fendas na densidade do caótico, da ignorância, na procura incessante do conhecimento e dos comprováveis benefícios da leitura.
Não sei se o discurso está estafado ou é pessimista. Por mim, enquadrá-lo-ia mais numa linha niilista, perpendicular à horizontalidade longínqua e monocórdica do discurso positivo e defensor da solidez da manta remendada que constitui o nosso sistema educativo. Mas aplaudo o nascimento de projetos, não há nenhum que o meu peito não abrace, mesmo que de difícil concretização dentro do quadro programático a que a Escola é obrigada e aplaudo todos os suportes eletrónicos e as TIC e tudo o que seja pensamento mecanizado, embora saibamos da existência de inúmeras escolas que não têm a menor condição física para ligar dois computadores.
E sim, temos acesso a tudo e a múltiplas formas de aceder a tudo, a um tudo que se não for orientado acaba por ser desestabilizador, demasiado, desorganizado, como uma rede de galerias sem lógica nem sentido semântico.
Infelizmente tenho pouca cultura filosófica. Tirando umas ediçõezitas da Zéfiro, da Lello Editores ou da Afrontamento, não sou capaz de relacionar 2 e 2 sem que um perímetro de floresta cresça à minha volta no vegetal intuito de tapar qualquer irregularidade na resposta. Talvez se deva ao facto de, na escola, a filosofia ter tido o seu lugar consagrado ao canto (3 escassos anos – 10º, 11º e 12º), pouco valorizada porque o cimento da estrutura educativa e a funcionalidade servil do órgão coletivo não permite um conforto maior da existência destas disciplinas, assim como toda e qualquer disciplina de sobre-discurso, lugares perigosos de pensamento livre.
Concluindo. Hoje, na escola, lê-se muito, lê-se tudo, em todo o tipo de suporte… à maneira do sorriso de gato sem gato de Carroll, numa lógica de sopros que nada querem dizer e nem sequer se tornam orgânicos.
Se não fosse o autodidatismo, não sei se teríamos prémio Nobel da Literatura…
Conheço a Editora Gradiva e tenho alguns livros dessa Editora. É também sintomática que ela tenha surgido após o 25 de Abril pois, para além de tudo o mais, essa data trouxe uma grande abertura para a Cultura. Quero exprimir aqui a minha admiração por todas as personalidades ligadas ao sucesso da Editora.
Os meus cumprimentos.
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