quarta-feira, 10 de julho de 2013

“GEOPOEMA”

Distribuição dos epicentros dos sismos históricos e instrumentais na envolvente
da Península Ibérica (in J. Cabral 1993)
Num artigo publicado online pela revista Geology, em Junho de 2013, dá-se conta da recente descoberta, ao largo da costa de Portugal, de uma possível zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação.

Tal significa que daqui a uns 200 milhões de anos, o Oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e que as massas continentais da Eurásia e da Laurência se voltarão a juntar num novo supercontinente. Neste trabalho, assinado por João Duarte, geólogo português a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália, e a sua equipa, juntamente com António Ribeiro e Filipe Rosas, da Universidade de Lisboa, Pedro Terrinha, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, e, ainda, Marc-André Gutcher, da Universidade de Brest (França), são revelados os primeiros indícios de transformação da margem sudoeste ibérica (uma margem passiva, do tipo atlântico) numa margem activa, do tipo pacífico.

Há mais de três décadas, em 1979, no 1.º Encontro de Geociências, reunido em Lisboa, António Ribeiro, surpreendeu os presentes, ao apresentar a comunicação a que deu o nome de ”Geopoema”. Numa antevisão notável, este geólogo que, já então, se distinguia entre os seus pares pela excelência do trabalho que produzia, anunciava que o Atlântico iria começar a fechar, que, daqui a uns milhões de anos, engoliríamos os Açores e, que, passados mais um ror deles, a Eurásia cavalgaria a América do Norte, imaginando, em jeito de brincadeira, “a estátua do Marquês do Pombal sobre a estátua da Liberdade”.

A M Galopim de Carvalho
Lisboa, 10. 07.2013

4 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

É isto que torna a Ciência apaixonante.
A partir de raciocínios plausíveis um cientista tem uma intuição ainda não apoiada em dados experimentais e lança uma hipótese.
Visionário? Charlatão? Genial?
Décadas depois os meios técnicos actuais permitem corroborar a hipótese. E a Ciência avança, longa marcha em que os mais velhos passam o testemunho aos mais novos.
Sim, isto é apaixonante!

Paulo Fonseca disse...

O Nosso "Mestre", Professor António Ribeiro, sempre esteve "muito à frente" em muitos assuntos....e este foi "apenas e só" um deles!!! Obrigado António por seres assim como és, simples (à sua maneira!!) e muito teimoso (à sua moda!!)!!!

perhaps disse...

Em relação à duração da vida humana, o geopoema tem tanto tempo de futuro que sugere eternidade. Ou que a efeméride de cada um não chega a ser relâmpago.
Contudo, há um certo quid na antevisão. Como se tudo normal e estivessemos falando da semana que vem.

Desconheço António Ribeiro, mas deve ser uma cabeça. Parabéns pelo bom uso.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Cresci em uma região em que as pessoas faziam comparações "de onde o mar havia encolhido para onde o mar havia de retomar" e a imaginação do habitante simples, cerceada de anseio inenarrável, pois o medo aconselhava-o diante da humilde condição; literalmente vinham trazidos por gente que lia eventos do tipo (Nostradamus).

Claro que a Geologia estuda com seriedade os fenômenos naturais.

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