quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ser jovem hoje

Texto recebido do nosso leitor Augusto Kuettner de Magalhães:

Estranhos tempos estes em que vivemos. Parece haver medo em mães e pais de que os seus "rebentos" sejam expostos aos exames do 4.º ano. Parece que as crianças não podem ficar ansiosas, não podem estar sem telemóvel, têm que estar no 4.º ano e talvez para todo o sempre protegidos das agruras da vida real,  que tem dias de sol, mas também outros de chuva, por vezes muita chuva. Nos invernos rigorosos as criancinhas terão que ficar "protegidas" em casa, para não se sujeitaram aos maus tempos.

E nos dias de muito sol, talvez também tenham de ficar por casa, para não se queimarem...

E, depois, quando "foram grandes" como serão estas criancinhas? Sempre criancinhas? Saberão viver por sua conta e risco, claro com a ligação às famílias de origem, ou terão que continuar a ser protegidas da vida? Não estarão, na escola, a ser pouco preparadas para, em devido tempo, se "fazerem à vida"?

E quando, maiorzinhas, entram na Universidade? Será para adquirir mais conhecimentos, mais capacidades e aptidões, ou será para ir a festas universitárias, festejando só porque se é universitário? Estas festas não poderão ser interrompidas por motivo de força maior? Deverão continuar mesmo que haja um estudante assassinado?

Quando tudo fica assim tão confuso, talvez seja chegado o momento de repensar que sociedade estamos a pretender construir. Não se trata de discutir uma sociedade distante, dos outros, mas a nossa, aquela onde estamos nós e crescem os nossos filhos.

Queremos criancinhas que nem se possam constipar? Que tenham que ter sempre junto de si a mão maternal ou paternal em vez de serem estimuladas a caminhar sozinhas? 

E quando já estão mais crescidas e vão para as faculdades será para estudar e fazer os exames, ou para ir a festas  beber copos e continuar a beber quando há mortos ao lado? 

Talvez seja necessário que todos nós, mães, pais, professores e alunos, repensemos o papel de cada um,  neste Maio de 2013, e num país como o nosso que tão desnorteado anda.

A.  Küttner de Magalhães

21 comentários:

Cisfranco disse...

Para mim, considero um sintoma muito significativo que morra um companheiro, e isso não seja considerado um motivo de força maior, para que a festa seja interrompida. Que companheirismo existe entre estes estudantes? Quais os sentimentos deles? E o que pensar da instituição universitária que, aparentemente, se mantém à margem de tudo isto?
Continua-se na folia como se nada tivesse acontecido... Há sem dúvida aqui uma doença social que é o reflexo de algo errado a nível individual.

Anónimo disse...

Concordo plenamente ! Sublinhei isso na altura, responderam-me uns que iam levar isso em conta em todos os actos (!!!!) outros que o jovem não quereria que os colegas se deixassem de divertir (????) Enfim, são os valores actuais !

Ivone Melo

José Batista disse...

Ora, se as criancinhas (mesmo bem gandinhas...) não podem fazer exames, que trauma!, como poderiam abdicar da festança só porque um colega (ou mais que fossem...) morreu?

Vamos bem, vamos!
E de quem é a responsabilidade?

Ildefonso Dias disse...

“Todos nós sabemos que os exames são a parte ingrata (de certo modo negativa) do ensino; praticada em excesso, acaba por massacrar docentes e discentes, fatigando-os inutilmente, tirando-lhes a vontade para o trabalho construtivo, levando-os por vezes a execrar a ciencia e os cérebros que a geraram(1). É evidente que se trata dum mal necessário, mas, por isso mesmo que é um mal, conviria reduzi-lo ao mínimo necessário. [Sebastião e Silva - Sobre o Ensino da Matemática na Alemanha]"

(1) Sem esquecer que, muitas vezes, o exame faz uma seleccão errada, colocando em primeiro lugar o aluno mais espectaculoso, mais expansivo, que não é geralmente o mais concentrado, o mais profundo.



"A maior riqueza de um país, são as imensas reservas de inteligência existentes nas amplas camadas populares, que só podem revelar-se numa atmosfera de progresso." [António Aniceto Monteiro - Matemático]





Senhor A.  Küttner de Magalhães;


Este seu «discurso», é igual ao da senhora Professora Helena Damião, consumado nesta citacão:

"(...) mas é certo também que os exames, os testes, as provas com carácter sumativo, que permitem a classificação, desempenham um papel importante, tanto na aprendizagem como na prestação de contas à sociedade que financia a escola.” [post de Helena Damião - Bom, talvez não seja bem assim... ]


Caro A.  Küttner de Magalhães, as citacoes acima servem-lhe para lhe dizer duas coisas.

1.- Aquilo que há muito toda a gente sabia (citacão de Sebastião e Silva) o senhor, a senhora Professora Helena Damião, e outros, parecem desconhecer!

2.- Por que é que o senhor, a senhora Professora Helena Damião, e outros, não conseguem descernir convenientemente aquilo que é da responsabilidade do “Deus-Producão” e com isso misturam tudo no Ensino! Como se este lhe faltasse os seus problemas...



Repare-se, na frase da Professora Helena Damião e na citacão de António Monteiro, como a Professora está muito longe de considerar a inteligencia a maior riqueza de uma nacão, ao ponto de ceder ao “Deus-Producão” chamando-lhe “sociedade que financia a escola” e que é preciso prestar contas...

O Senhor tambem não percebeu o “Deus-Producão” e por isso escreve: "Estas festas não poderão ser interrompidas por motivo de força maior? Deverão continuar mesmo que haja um estudante assassinado?”
Não se apercebeu que foram os milhares de €€€€€ que estavam em jogo que o “Deus-Producão” não permitiu interromper... não se percebe isso, é assim tão dificil?! porque é que atribui a responsabilidade disso, ao caracter dos jovens, pais, encarregados de educacão etc e não ao “Deus-Producão” e porque é que vêm misturar tudo!!! como se os ensino não tivesse já os seus problemas, e que bastam!!!


Cordialmente,

Ildefonso Dias disse...

Aditamento:

A citacão do Professor Sebastião e Silva revela as qualidades excepcionais de Professor, de Pedagogo, o seu conhecimento acerca do ensino, da melhor forma de ensinar e aprender... , e mais, revela ainda um profundo conhecimento do ser humano, das suas capacidades e suas possibilidades.

Não se espera por isso que alguns dos leitores do DRN a venham sequer a compreender. Principalmente aqueles leitores que aqui são capazes de relacionar a infelicidade de uma vida que se perdeu com os exames.
É pouco provavél que a venham a compreender, pois falta-lhes o mais importante, falta-lhes a sensibilidade para a compreensão do ser humano.
E é essa insensibilidade que não os impede de escrever o que aqui se pode lêr.

José Batista disse...

Oh diacho, ali me ficou um "gandinhas" em vez de "grandinhas". A destempo, fica a correcção.

José Batista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Batista disse...

Só outra coisita: De Helena Matos acabo de ler um texto sobre o tema. Aqui:
http://www.sorumbatico.blogspot.pt/2013/05/infantilizacao.html#comments

"Nas críticas aos exames que agora começam encontramos uma sociedade cujas famílias já acham que é obrigação do Estado transportar-lhes os filhos para tudo o que tenha a ver com a escola – se não fosse a crise ainda teríamos o direito ao transporte escolar para a festa de aniversário! – ou que se chocam muito porque se pede aos seus filhos que assinem um papel onde declaram que não têm consigo telemóveis nem qualquer outro equipamento de comunicação. Esta infantilização das crianças e dos jovens gerou uns perturbantes bebés adultos que aos 18 anos ainda vão à consulta de pediatria, pois a idade pediátrica estende-se agora até aos 18 anos, onde entre imagens de ursinhos e cegonhas recordarão as ressacas dos festivais de Verão ou as histórias macabras sobre as crescentes agressões nas escolas, como a sucedida recentemente na EB 2/3 Ruy Luís Gomes, no Laranjeiro, em Almada, em que uma aluna foi violada por cinco colegas. Ou que, numa versão mais crescida, continuam a beber e a divertir-se enquanto um seu colega foi assassinado. Se Marlon Correia tivesse morrido, não na sequência de um assalto, mas sim numa fuga à polícia os seus colegas estariam muito provavelmente hoje de luto e vivendo uma forte indignação. Assim foi apenas um azar e a festa com muita cerveja vai prosseguir."

Ildefonso Dias disse...

Acbo de ler o texto da sr.a Helena Matos;

E verifico que existem demasiadas pessoas neste país com tão arreigado desprezo pelos jovens.
Essas pessoas ao escreverem o que escrevem acerca dos jovens têm um único objectivo, diminuir os jovens perante a sociedade, não suportam os jovens que tâm idéias e maneiras de pensar diferentes daquelas que eles tinham quando eram jovens. Sofrem do mal, daqueles homens, que julgam que no decorrer de uma conversa com os jovens só têm coisas para lhes ensinar, e nada para aprender, que tudo se resume a um monólogo. Pobres escritores, comentaristas, de tanto que estão ultrapassados no tempo, pobres de espirito é o que são.

augusto küttner de magalhaes disse...

Sempre detestei fazer exames....então orais.....

Fui dos que fiz exame da 3ª classe, 4ª, 2º ano, 5º , 7º, e faculdade...e chumbei (reprovei parece que não se pode dizer - hoje , é "retido" para não estragar a canalhada).

ASSIM = DETESTO EXAMES.
Mas chegados a este ponto em que a balda é o que vale, penso que maes, pais, professores têm que saber e querer MANDAR!

Quanto à Queimna, claro que tudo é dinheiro, mas, mas, não haverá da parte dos frequentadores um pingo de vergonha.....mataram um seu igual e que se lixe, vamos para os copos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

( e não sou de direita)

Ildefonso Dias disse...

Caro augusto küttner de magalhães;

O ponto a que chegamos, combate-se dando à juventude perspectivas de vida, de felicidade, de ensino e de emprego... se isso lhes for porporcionado, esses jovens teriam certamente comportamentos bem diferentes.

a.kuettner disse...

Sem dúvida.
Mas aos mais miúdos, educaçao que nao só instruçao....tambem ajuda, ou não?

augusto kuettner disse...

Não há qualquer desprezo pelos Jovens, bem pelo contrário!

Ildefonso Dias disse...

Caro augusto kuttner, existe desprezo, incompreensão e existe arbitrariedade no «discurso» de certas pessoas.
Muitas delas com responsabilidades no ensino (professores).
Se o senhor estiver atento aos comentários que aqui se escrevem verá que determinadas pessoas estão a mais no ensino, que têm graves desequilibrios pedagogicos e com isso arrastam milhares de jovens impedindo-os de encontrar o rumo certo, o caminho do futuro.

Repare, nestas palavras do Professor Sebastião e Silva, e compare-as com a atitude das pessoas a que me refiro, e que aqui deixam as suas marcas de ferocidade. Aprecie-se em pleno e denúncie-se a ferocidade e mentalidade retrógrada desta gente, que como digo, estão a mais no ensino. É como é.


“Há mas de 2000 anos Sócrates mostrou como se podem formar discípulos. Diz-se, e eu aceito, que os Diálogos de Platão fazem parte dos fundamentos da Cultura Ocidental. E, contudo, o ensino em Portugal encontra-se hoje, praticamente, numa fase pré-socrática. Aliás, é preciso notar que também Sócrates já está ultrapassado: nos Diálogos, o mestre aparece a impor discretamente o seu ponto de vista, conduzindo os discípulos onde quer que eles precisamente cheguem... Mas hoje é necessário mais: é necessário que o diálogo assente inteiramente numa base de compreensão mútua. Quer dizer: dantes, o professor falava, para que os alunos se aproximassem dele humildemente e se esforçassem por compreendê-lo; agora é preciso, além disso, que, reciprocamente, o professor se aproxime dos alunos, com humildade, e se esforce por compreendê-los, isto é, por compreender o ponto de vista de cada um deles e por encorajá-lo a sair do casulo e a encontrar por si novos caminhos; mais ainda: é preciso encorajá-lo a pôr os seus problemas e a encontrar o seu próprio caminho. Eu sei que esta ideia de o professor se aproximar dos alunos com humildade poderá escandalizar muita gente. Com efeito, quando se atribui a actual efervescência da juventude a uma crise da autoridade dos pais, dos educadores, etc., tende-se a confundir a verdadeira autoridade (que essa, realmente está em crise) com orgulho, egoísmo e arbitrariedade. Mas, não, a verdadeira autoridade não é incompatível com uma atitude mental e humana de humanidade: eu creio que o exemplo também já vem de longe; as pessoas é que continuam a sofrer de falta de memória.”

Ildefonso Dias disse...

Sem dúvida que Educacão e Instrucão não se excluem. Não existe uma sem que exista a outra.

a kuettner disse...

Tem que se reanimar ambas!!!!!!!!!!!!!

augusto kuettner de magalhaes disse...

Totalmente de acordo.

E é necessário ser CAPAZ para ensinar e cativar os ALUNOS.

Como é necessário ser capaz não só de fazer filhos, mas saber tambem com mães e pais educá-los......

E tudo, todos ...... ESTAMOS A FALAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!

augusto kuettner disse...

desculpe que dizer FALHAR, FALARMOS!!!!!!!

A KUETTNER disse...

FALHARMOS!!!!!!!!

Ildefonso Dias disse...

Nas escolas só devem andar aqueles que realmente querem estudar, aqueles que conscientemente e por vontade própria não querem estudar não devem andar na escola.

Mas no ensino é fundamental aquela "atitude mental e humana de humanidade" e essa está longe de ser alcancada.

Se existem professores que estando no activo são passiveis de "recuperacão" através de accões com vista a melhorar as suas práticas pedagogicas, outros existirão, para os quais é impossivel fazer o quer que seja, não existe formacão ou reciclagem de métodos que lhes possa ser incutido no espirito, é a sua natureza retrógrada que não deixa, e são esses, e só esses, que estão a mais no ensino.

a kuettner disse...

Pois e como lhes mexer??????

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