Alguns detêm-se naquilo que é (talvez) mais interessante sob o ponto de vista da «natureza/expressão humana»: o que está por detrás do que se faz passar pela verdade óbvia e única mas que não é mais do que a verdade superficial, que convém. Outros detêm-se em desilusões em relação a ideais que antes mobilizavam vidas.
Tudo isto a girar em torno do conceito de identidade, colectiva e individual: a firme e propagada identidade duma nação; a procura de identidade de grupos emergentes; a perda de identidade dum bombeiro que deixou de o ser; a identidade incómoda duma mãe muçulmana que procura o filho; a brusca transformação da identidade de alguém ao ver a morte espalhada pelas ruas...
A identidade que a literatura ajuda a compreender ou a pôr em dúvida. A propósito vale a pena ler o livro As identidades assassinas, de Amin Maalouf (Difel, 1999) e que começa assim (páginas 17 e 18):
"Uma vida de escrita ensinou-me a desconfiar das palavras. As que parecem mais límpidas são muitas vezes as mais traidoras. Um destes falsos amigos é precisamente a palavra «identidade». Acreditamos saber tudo o que ela quer dizer, e continuamos a confiar nela mesmo quando, insidiosamente, ela se põe a dizer o contrário.
Longe de mim a ideia de redefinir mais uma vez a noção de identidade. Esta é a questão primordial da filosofia desde o «Conhece-te a ti mesmo» de Sócrates até Freud, passando por tantos outros mestres; abordá-la de novo nos nossos dias, exigiria muito maior competência e coragem do que as que possuo. A tarefa a que me proponho é infinitamente mais modesta: tentar compreender a razão que leva hoje tantas pessoas a cometerem crimes em nome da sua identidade religiosa, étnica, nacional ou outra. Terá sido sempre assim desde o dealbar dos tempos? Os meus raciocínios parecerão por vezes demasiado elementares. Isto acontece porque desejaria conduzir a minha reflexão o mais serena, o mais paciente, o mais lealmente possível, sem recorrer a nenhuma espécie de jargão nem a nenhum atalho enganador."
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