A propósito do texto do Desidério cujo título é O futuro do ensino.
Parafraseado Mark Twain (quando, num jornal, deu de caras com a notícia da sua própria morte), sou tentada a dizer que a morte do ensino, tantas e tantas vezes anunciada, é um pouco exagerada...
Alguns dos mais antigos registos sobre o ensino, quando esta tarefa apenas se esboçava, já anunciavam a sua extinção, que tem sido, de resto, retomada com regularidade.
No século XVIII, o inglês Samuel Johnson (1709-1784), literato, entre outras ocupações, com o bom humor que se diz que tinha, escreveu: “Os prelectores, em tempos úteis, mas agora que todos sabem ler e os livros são tão numerosos, já não são mais necessários. Se a atenção falha e se perde uma parte de prelecção está-se perdido, não se pode voltar atrás como se fosse um livro.” Se em vez de livro, escrevermos televisão, internet, robot ou outro recurso que há-de surgir, o sentido é exactamente o mesmo.
Tenho de concordar: quanto dinheiro se pouparia se os professores fossem substituídos por alguma coisa não humana. A sua preparação, sobretudo se for de qualidade, fica cara, os seus ordenados pesam imenso nos orçamentos dos estados. E tem de se lhes arranjar um sítio para se encontrarem com os alunos, sítios que se tornaram escolas cuja construção e manutenção é dispendiosíssima, sobretudo se algo-do-tipo-Parque-Escolar por lá passar. Acresce que, como (ainda) não fazem tudo sozinhos, desde a limpeza ao trabalho de bar, passando pelo secretariado, arrastam serviços de apoio... caríssimos também.
Assim, se eliminássemos os professores, esperando que os alunos, seguindo a sua "curiosidade natural" (essa entidade mítica!), individualmente ou uns com os outros, mas sempre por si mesmos, conseguissem, desde a idade de seis ou sete anos, procurar e encontrar os recursos para aprenderem autonomamente, poupar-se-iam milhões e milhões...
Só que (as excelentes ideias têm sempre um problemazito associado) era capaz de não dar grande resultado... Tendo em conta as tentativas que se fizeram para eliminar os professores, tentando não ser muito devastadora, eu diria que não são propriamente encorajadoras.
Reconheço que o que acima disse pode decorrer da minha pouco assumida mas (que sabe, fortemente instalada no meu inconsciente) costela corporativa.
Fotografia de Sebastião Salgado (Escola itinerante)
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1 comentário:
Querida Professora Helena Damião.
A isto eu chamo fazer pedagogia. Séria.
De resto, fazer pão também é dispendioso. Por que não propomos que se elimine tal despesa?
Por favor, deixa-me ser corporativo consigo? Deixa?
Muitíssimo bem haja.
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