Entrevista com o autor de "Os Anos Devastadores do Eduquês" feita por Mário Crespo na SIC Notícias (à mesma hora em que Passos Coelho dava uma entrevista à RTP):
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11 comentários:
Lamento! Muito mau! Este senhor ainda vive nos anos 50 do século passado. E, o pior, o mais grave, é que lhe acham graça... Lamentável!
É preciso pessoas como Guilherme Valente tomarem a palavra para eu sentir que não sou o único chocado com a realidade das nossas escolas e universidades, que vivi na primeira pessoa enquanto aluno nos anos 90.
Obrigado Guilherme Valente. Muito obrigado.
Eu achei muita graça foi ao comentário da D. Graça…
Talvez valha a pena contar um caso verídico ocorrido em meados dos anos 90. Imagine-se uma reunião com professores de uma escola da Portela onde eu e um colega do Laboratório Nuclear de Sacavém íamos entregar equipamento escolar no âmbito do Programa Ciência Viva e apresentar um “Manual de Experiências em Física das Radiações” que havíamos preparado para alunos e professores. Inesperadamente, participou na reunião uma “especialista em educação” (MO, da F.C. Lisboa). Aquilo que esperávamos ser uma sessão de trabalho normal e estimulante, que levasse os alunos a fazer experiências sobre radioactividade, transformou-se numa autêntica loucura verborreica que ainda hoje tenho dificuldade em caracterizar. A “especialista” em “eduquês” (percebi depois) monopolizou a reunião com uma linguagem para nós incompreensível, conseguiu desmotivar os presentes e chegou a dizer que tinha sugestões a fazer para melhorar o “Manual”. Ainda hoje estamos à espera. Pela minha parte, fiquei vacinado em matéria de “eduquês”… e confesso que não lhe achei graça nenhuma…
Obrigado Guilherme Valente! Obrigado Carlos Fiolhais.
Meu caro Guilherme Valente
Só na tarde da passada sexta feira me foi possível adquirir o seu livro. Trouxe-o e ele atravessou-se-me nas muitas tarefas que, nesta altura, me cabem, dado que estou prestes a apresentar-me a novos alunos, que não conheço. E pronto, entre essas tarefas, ou antes delas, além de ter que ir acomodar um filho que esta manhã inicia o seu percurso universitário, acabei a sua leitura agora. Não quero roubar-lhe tempo, mas não podia deixar de lhe dizer, a pretexto dele, algumas palavras. Já tinha lido parte dos textos, particularmente os publicados no “Público”, jornal meu companheiro, até há coisa de um ano (fartei-me de alguns colunistas, por exemplo de Vital Moreira, que dispensaram, e do nhé nhé nhé “educativo” de Daniel Sampaio, e dos erros miseráveis de português – mais uma consequência do “eduquês” - em que o jornal se tornou pródigo; por outro lado passou a fazer sentido poupar em tudo o que (me) fosse possível; agora ainda espreito Teresa de Sousa e Frei Bento Domingues, e tenho pena de não ler Miguel Esteves Cardoso todos os dias…). Mas, voltando ao seu livro. A capa, muito sugestiva. O prefácio, de ouro. Nos textos, a coragem de sempre. Todo o livro: um estímulo aos bons/verdadeiros professores e a denúncia dos horrores que permitimos: a desqualificação de centenas de milhares de alunos – particularmente os mais pobres - que, assim, impossibilitámos de serem cidadãos livres.
Mas sobram-me muitas dúvidas, meu caro Guilherme Valente. Sabe, estive a corrigir provas de exame de biologia e geologia, na primeira e na segunda fase, e, como todos, tive que sujeitar-me a uma “formação” ministrada pelo “gave”. Pois a lista de bibliografia é toda ela um hino ao “eduquês”. Lá constam dois “papers”, de uma daquelas especialistas que ainda há pouco escreveram que “a matemática contribui fortemente para a exclusão escolar”… como refere na página 48. Nesses textos há coisas tão fantásticas como “Perrenoud (1998b) refere que os alunos, utilizando adequadamente a auto-avaliação, são capazes de regular as suas aprendizagens e só pontual e esporadicamente precisam da colaboração dos professores” ou que os professores devem “negociar os critérios de avaliação” com os alunos ou “adoptando uma perspectiva construtivista da aprendizagem, é atribuído ao aprendente, ao aluno, um papel central”, etc. E, em toda aquela bibliografia, o registo é apenas este, não há outro. Depois há os exames, que, na minha disciplina têm sido, em minha opinião, mal feitos, com erros denunciados, até aqui neste blogue, e nunca assumidos, quanto mais corrigidos, e com perguntas fora do âmbito do programa, programa que, na parte de biologia, ano I, mais parece ter sido feito para impedir que os alunos aprendam e que os professores consigam ensiná-los (o que seria aliás uma “violação” do próprio programa, uma pérola de “eduquês” cristalino). E, sobre estes exames, escreveu a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia (APPBG) [quantos professores representará?] que a prova “é equilibrada e balizada pelos programas” e os critérios são “coerentes cientificamente e globalmente adequados”, in “Público” de 02 Agosto de 2012, página 10. Sendo as coisas assim, o que pode um ministro fazer? O “eduquês” cresceu, multiplicou-se e encheu todas as estruturas, normas e pensamento do sistema de ensino. E os que se opõem, embora podendo respirar melhor, continuam com enormes dificuldades.
(continua)
Rememorei as vicissitudes do “manifesto para a educação da república”. Vibrei com ele, assinei-o com entusiasmo. Sofri com a posição dececionante de Jorge Sampaio. Um homem bom, honesto e simpático, mas que nunca viu (mais) longe. Isso havia de verificar-se também com o descuido de “há mais vida para além do défice”. E há, e a dele nem se pode dizer que seja má, e ainda bem. Não me espanta a posição de Manuel Alegre, de que já não me lembrava, mas está em conformidade com os ziguezagues que mais tarde protagonizou relativamente ao abjeto modelo de avaliação de Lurdes Rodrigues. Manuel Alegre faz bons versos. Essa é a boa política que faz. No resto, durante a democracia, falou sempre de cima da burra, ocupou um lugar de feição, demasiado tempo, e tratou da sua vidinha. Aceita-se, pelos versos.
Meu caro Guilherme Valente, exames sim, são muito necessários. Mas duvido que seja preciso um “regime intensivo de exames”. O excesso de remédios pode não facilitar a convalescença…
No seu livro, uma coisa que talvez tivesse merecido uma nota explicativa é a aparente contradição entre a medida prevista em 2007 de o segundo ciclo ser regido por apenas um professor (havia de ser bonito…)[pág. 181] e o que se passa na Finlândia, em que “o professor acompanha a criança durante seis anos! Sem o absurdo do excesso de disciplinas” (pág. 229).
Tenho dúvidas em segui-lo na apreciação tão favorável que faz do papel dos diretores. Não pelo cargo em abstrato, mas pelo simples facto de que esses diretores são exatamente os presidentes das conselhos executivos que existiam. E logo se viu a mentalidade geral quando criaram uma assembleia de diretores… o que também é muito próprio da nossa mentalidade. E as práticas que alguns têm revelado, por exemplo enviar pautas dos conselhos de turma de avaliação para modificação (subida geral) das classificações para “promover o sucesso” e captar alunos… E olhe que a coisa funciona.
Na sequência das personalidades que disseram “sim” ao manifesto pela educação fiquei sem saber quem é o autor do último texto citado, págs 273-274, será o próprio Guilherme Valente?, e não percebi bem quem são aqueles “3000 portugueses” que “não podemos condenar à morte educativa e laboral”. Admito que seja do meu cansaço.
Concordo consigo sobre a aberração dos mega-agrupamentos. Por que continuam eles? Responda quem souber.
(continua)
Já me preocupa o aumento de alunos por turma. Aqui não são os números em si que são preocupantes. É antes o facto de muitos meninos chegarem ao décimo ano sem qualquer noção de autodisciplina, de esforço e de trabalho e de muitos nem conseguirem ler adequadamente. E isso é brutal. Depois há as salas, mesmo as remodeladas ou novas, onde os alunos estão sentados tendo à direita um colega e à esquerda outro, à pinha, em que as cabeças de uns tapam a visibilidade dos outros para o quadro, uma vez que se retiraram todos os estrados os quais, pelos vistos, eram um empecilho à aprendizagem. Já a realização de testes é uma dor de cabeça, mesmo fazendo mais que uma versão, os alunos são quase forçados a ver as respostas dos outros. E uma colega minha foi há dois anos acusada por um pai que se referiu às versões do mesmo teste como podendo ser uma forma de beneficiar alguém (nas classificações, claro, que essas é que preocupam…), falha pela qual, passado um ano, fez questão de, pessoalmente, pedir desculpas à professora.
Muito obrigado pelo seu livro, e por tudo quanto me deu.
PS: Não se preocupe a responder a estas minhas palavras, porque deve ter mais que fazer. Eu só as escrevi porque não pude evitá-lo.
Deixo-lhe o meu sentido abraço.
José Batista da Ascenção.
Emoção cúmplice de razão.
Dr. Guilherme Valente;
Relevo neste seu comentário o seguinte: “Afinal o eduquês reivindica a paternidade de gente de outros tempos, não é? De gente que, aliás, frequentemente lê mal (...)” e atrevo-me a perguntar-lhe, como é que o Senhor se sente, porque que lê bem?
Consideremos então um pouco de um texto para leitura;
No livro da Gradiva, Bento de Jesus Caraça - Inéditos de Economia Matemática, pág.183, pode o Dr. Guilherme Valente ler o seguinte:
“O que hoje está no pensamento dos pedagogos do mundo civilizado é que a passagem de uns a outros graus [de ensino] se faça por uma cuidada seleção de capacidades e aptidões, conjugada com um ajustamento das escolas às necessidades nacionais. Os nossos ministros da Instrução dos últimos tempos bem sentiram que havia qualquer coisa de enferrujado a esse respeito que seria preciso rejuvenescer. Mas, com imaginação pouco fértil em matéria pedagógica, não foram capazes de inventar mais do que isto - intercalar um exame entre cada dois graus consecutivos. A seleção pelo dinheiro, tornando as propinas cada vez mais caras à medida que se vai subindo (não vá dar-se o caso de o povo irromper em massa entre os senhores doutores ...) e uns examezinhos, eis tudo! Além disso, o ensino liceal andou durante anos subordinado à técnica do exame! estudar, não para aprender mas para o exame! Todo este delírio examinativo acabou, como é do conhecimento geral, num ambiente de escândalo nacional, com roubos (delicadamente chamados em linguagem oficial «fugas») de pontos, assaltos a liceus, etc. O sistema foi recentemente modificado, mas os examezinhos continuam.”
E, pergunto-lhe Dr. Guilherme Valente, que leitura ou ensinamento pode o Senhor retirar deste texto?
Nós sabemos, que é zero!!! Dr. Guilherme Valente, isto não vale nada para sí (isto nem sequer lhe justifica, a leitura errada, sim, porque essa é só de outros, não sua!!!)
Avancemos, o Senhor pensa e escreve assim:
“Com o novo ministro da Educação vêm os primeiros exames a sério. Deveriam ter vindo antes de qualquer outra medida, para se avaliar o verdadeiro estado da educação.” [post de GV no DRN].
“De facto, quando foi noticiado o nome do atual Ministro da Educação, um aluno do 11.º ano disse ao pai: «Temos de estudar, vem aí o Nuno Crato.» [post de GV no DRN].
Senhor Dr. Guilherme Valente, o texto acima foi escrito pelo Professor Bento de Jesus Caraça - catedrático do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF); sabe o Senhor, certamente que sabe, que os alunos desse instituto diziam frequentemente, e utilizando as iniciais do Instituto - numa manifestação de profunda admiração e ternura - pelo Homem e Professor, “ISCEF - Isto Sem Caraça Era Fácil”?
Dr. Guilherme Valente, o Senhor não tem, ao menos, um pouco de sensibilidade pedagógica, que lhe permita perceber a diferença entre a admiração e ternura que suscitava nos alunos um «Isto Sem Caraça Era Fácil» e o que suscita nos alunos um «Temos de estudar, vem aí o Nuno Crato.»? São estas, as segundas, as boas condições para aprender e ensinar? as perguntas são desnecessárias, sabe-se bem que não.
P.S. Nuno Crato, no prefácio do livro citado escreve “Agradecemos a Gradiva e ao seu editor, Guilherme Valente, herdeiros do espírito livre de Caraça e da sua histórica coleção Cosmos, o acolhimento dado a esta edição”.
Comentário de Guilherme Valente (revisto)
Fora do País, só agora tive rede para poder aceder ao DRN e ver e responder aos comentários à minha entrevista à SIC.
1. Muito obrigado, José Baptista, pelo seu comentário, que muito me tocou e enriqueceu a minha análise e os meus argumentos. Muito obrigado também ao apoio expressivo e informação utilíssima de Eduardo Martinho e Ricardo Figueiredo.
Subscrevo as preocupações relativamente à questão dos directores ( registei--as, aliás, veementemente, nos dois últimos textos do meu livro). O modelo de direcção das escolas que terei sido um dos primeiros a defender. Mas acontece, de facto, entre nós, a solução tornar-se, frequentemente, problema. Há, seguramente, excelentes profissionais na direcção de muitas escolas, e os resultados, como previ, começam a verificar-se. Mas, na verdade, há sinais que anunciam atitudes às quais quem os nomeia deve estar atento, para resolutamente as enfrentar. Exemplo: associações de directores? A que título? E directores a pronunciarem-se na comunicação social sobre as políticas de educação? A que título? Se fosse eu o ministro, teriam de optar: "opinion maker' s" ou directores de escola. E que dizer das lamúrias nos jornais (lamúrias, aliás, muito portuguesas, muito nossas) de alguns directores queixando-se de que estão a trabalhar imenso, de que só por isso as coisas estão andar bem, etc.? Não é para trabalhar muito que são directores? Não é isso que se pede também aos professores e a todos nós? Alguém os obriga a serem directores? Como afirmou recentemente um grande Professor, Arsélio Pato de Carvalho, "Se os directores e os professores de qualquer escola o decidirem, todas as escolas estarão entre as melhores".
Subscrevo também o seu cepticismo, Amigo José Baptista: mesmo que fosse possível desligar a máquina agora, ela reproduziu-se na cabeça de quase toda esta pobre gente que ocupa hoje o sistema. E a moda infectou também os pais e os meninos. Com a resistência, registe-se de muitos grandes professores. A moda foi, aliás, como nós, o José Baptista e outros Amigos no DRN, tentámos ir explicando, cómoda para toda a gente... O eduquês irá continuar, portanto, por muito tempo ainda, a idiotiotisar os Portugueses e a matar Portugal. Ministério da Cretinização Geral, é como devia ter sido designado, durante todos estes anos de delírio e estupidez, o ME. São excessivos os adjectivos que uso? Não são. São mais do que justos. O que dizer do título de um artigo recente do Walt Street Journal, "Um país de cábulas que ameaça o futuro da UE"? Prefiro que sejamos nós, Portugueses, a ser capazes de ver e de criticar, e superar, o que, por causa de nós próprios, nos aflige.
Muito obrigado, pois, meus Amigos, pelo que têm tido a coragem de escrever.
(continua)
Guilherme Valente
Comentário de Guilherme Valente (continuação):
2. Quanto ao "comentário da Sra. D. Graça, digo-lhe que procuro viver com o melhor de muitas épocas, é isso tentar ser culto e fruir a cultura, querer ter o espírito aberto a todas as ideias, novas ou velhas, e o máximo de rigor crítico na análise de todas elas, como escreveu Carl Sagan. O antigo nem sempre é mau e o novo nem sempre é bom. Afinal o eduquês reivindica a paternidade de gente de outros tempos, não é? De gente que, aliás, frequentemente lê mal - a generalidade dos ideólogos do eduquês tem, como se sabe, uma formação "de aviário", por isso só se atrevem a falar entre si, na tal linguagem de "trapos". A pergunta a colocar é: como tomou esta gente conta da educação, comprometendo a liberdade do País? Nos textos que fomos escrevendo e reunimos no livro, tentamos explicar.
Se a Senhora for professora ( ou prefere que diga "ensinante", de acordo com a moda que o velhíssimo eduquês, para aviltar a função, tentou impôr?) desafio-a a convidar-me para ir à sua escola para um debate aberto, com argumentos. Quem sabe, talvez consiga libertá-la do feitiço.
Os ideólogos e pedagogos do eduquês nunca se atreveram a discutir connosco (escondendo-se atrás de justificações reveladoras da sua indigência argumentativa, intelectual e ética). Mesmo quando conseguimos ir falar aos seus ninhos, às escolas de formação de professores, esconderam-se, não apareceram.
O que fizeram em todos estes anos foi deixar que os seus servos, servos da moda, nos atirassem insultos tolos ou, como terá acontecido com a Senhora, escrevessem...nada. Isto é, não têm argumentos. De facto como poderiam esconder a realidade gritante? Mais do que anos devastadores, anos de hecatombe.
GV
Enviado do meu iPad
Sr. Dr. Guilherme Valente:
Só ontem me apercebi, no De Rerum Natura, q a apresentação do livro para a qual teve a amabilidade de me convidar... já aconteceu!
Sr Dr Guilherme Valente, que triste fiquei!
Espero poder cumprimentá-lo numa próxima oportunidade e dar-lhe os parabéns, pois, com toda a certeza, será um livro para ler atentamente e uma séria reflexão sobre educação/ensino/professores/Escola no nosso país.
Os meus cumprimentos
Nazaré Oiveira
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