De Eugénio Lisboa, prezado
colaborador deste blogue e que muito o tem enriquecido com os seus textos,
recebi a Carta Aberta que ora transcrevo com o prazer (e, simultaneamente,
amargura) que a sua leitura em mim despertou e, por certo, despertará nos seus
leitores que se identifiquem com muitos
dos problemas dela constantes:
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Exmo. Senhor Primeiro Ministro
Exmo. Senhor Primeiro Ministro
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Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.
Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.
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Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito – todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! – mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.
Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito – todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! – mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.
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Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice – da minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco – ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.
Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice – da minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco – ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.
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A velhice, Senhor Primeiro Ministro,
é, com as dores que arrasta – as físicas, as emotivas e as morais – um período
bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes
externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo
nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida,
de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos
singulares do seu belíssimo livro intitulado “The Garden Party”: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho
para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é
para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já
foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não
interessamos, que, até, incomodamos.
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Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo.
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Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter,para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.
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Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo.
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Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter,para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.
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Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos , situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14.º andar, explicava, a desolação que se contempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa. e do seu robótico Ministro das Finanças - sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... – têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.
Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos , situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14.º andar, explicava, a desolação que se contempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa. e do seu robótico Ministro das Finanças - sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... – têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.
Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida – tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher – como o “conservador” Passos Coelho – quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.
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Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. – e com isto termino – uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: ”Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.
Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. – e com isto termino – uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: ”Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.
De V. Exa., atentamente,
Eugénio Lisboa
Ex-Director da Total, em Moçambique
Ex-Director da SONAP MOCEx-Administrador da SONAPMOC e da SONAREP
17 comentários:
Aprecio muito este texto do Professor Eugénio Lisboa. Só acho dispensável a lista de títulos que se segue ao seu nome, no final. Lista que suponho terá sido aposta por Rui Baptista, legitimamente, por admirar muito o autor. Mas ela é desnecessária. O que vale no texto, que poderia, em princípio, ter sido escrito por qualquer "zé ninguém" (que soubesse escrever...), é o que o texto diz, o seu conteúdo, e não o facto de ter sido escrito por Eugénio Lisboa, que tão bem o escreveu.
Assim mesmo, mais pessoas com currículos notáveis como Eugénio Lisboa podiam (deviam?) seguir-lhe o exemplo. Não pelos currículos, mas pela justiça do que é necessário dizer. Enquanto é tempo.
E, particularmente, porque os "zés ninguéns" não o saberiam escrever assim. E, se soubessem, também ninguém lhos publicaria.
Obrigado.
Concordo com o José Batista. terminamos o texto embebidos pela mensagem, quando no final vem uma lista um pouco esquisita de "galões" intelectuais.
Do meu estimado amigo Eugénio Lisboa recebi, com o pedido de publicação, esta resposta, a José Batista da Ascenção, com o prazer de poder atestar (embora desnecessariamente pelo estatuto do seu autor no mundo da Cultura) a sua modéstia por uma longa convivência de mais de meio século e pelo conhecimento da sua notável e extensa obra no domínio da escrita e da crítica literária. Claro, isto sem falar, ainda por desnecessário, da minha inteira concordância com a sua Carta Aberta. Transcrevo o supracitado comentário:
"Agradeço o comentário e a observação de José Baptista. Tem parcialmente razão. Digo "parcialmente", porque, embora não sendo meu hábito puxar por títulos que, muitas vezes, pouco significam, desta vez fiz questão de os usar, por uma razão singela. A carta não foi originalmente escrita para os olhos dos cultos leitores do DRN, foi para os olhos do PM. Foi endereçada ao gabinete do PM e é da sabedoria das nações que as cartas ao PM sofrem uma severa triagem no gabinete. Como a gente que faz esta triagem não conhece provavelmente o Eugénio Lisboa , que não anda no mundo da política, nem dos partidos, nem dos grandes negócios, nem dos "famosos", resolvi puxar por alguns títulos que aumentassem um pouco (muito pouco) a probabilidade de a carta chegar aos olhos do PM (provavelmente não chegou...).
Mandá-la ao meu amigo Rui Baptista, para publicação no DRN teve o mesmo propósito de aumentar aquela probabilidade, além de dar a conhecer a outros que anda um grande desassossego por esse país. Podia (e devia) ter cortado os títulos, antes de a enviar ao DRN, mas falsearia, de certo modo, a carta tal como ela fora remetida ao PM. Nunca se toma uma decisão completamente satisfatória. Mas quem me conhece sabe que nunca alardeei galões e que aprecio as pessoas pelo que fazem e não pelos títulos que ostentam De qualquer modo, muito obrigado a José Baptista por me ter proporcionado esta explicação."
“Em todos os tempos, o progresso da civilização, o florescimento das ciências, das letras e das artes, foi obra de uma elite, mais ou menos reduzida; e deve ser sempre assim - a massa geral da humanidade não é acessível a certas preocupações que só espíritos elevados sentem; a guarda e a propulsão das instituições culturais da sociedade deve ser portanto confiada a um grupo restrito, a uma elite, a qual, só, tem direito a orientar superiormente os destinos do agregado.”[Bento Caraça]
Professor Rui Baptista;
Toda a gente deveria saber que esta carta aberta teria pouco valor ou mesmo nenhum se fosse escrita por “um zé ninguém”. O valor dela é aquele que o nome de Eugénio Lisboa lhe empresta.
Mas, infelizmente, como nos mostra Bento Caraça a “identificação de classe dirigente e elite cultural nunca se deu nem se dá”.
Eugénio Lisboa dá-nos aqui uma afirmação clara de que assim é.
O Senhor Eugénio Lisboa defende os mais frágeis e necessitados, nada está mais de acordo com o verdadeiro conceito de elite, a que pertence.
Obrigado
completamente de acordo com todas as palavras, aconselho a leitura desta carta. Obrigado Eugénio Lisboa
Caríssimos Rui Baptista e Professor Eugénio Lisboa
Fazia-me espécie, alguma coisa não batia certo, em meu entendimento.
Mas está explicado. E muito bem explicado. Uma explicação a que ninguém era obrigado, claro. Mas que assenta bem.
Muito obrigado.
Obrigado, Eugénio Lisboa
Obrigado, professor Rui Baptista
Caro Engenheiro Ildefonso Dias: Respondo à parte que me foi endereçado no seu comentário ao Professor Eugénio Lisboa. Habituado que estou (quiçá mesmo mal habituado) aos seus comentários generosos a textos meus, nem outra coisa seria de esperar do seu comentário mais do que justo ao post de Eugénio Lisboa, com respaldo numa citação que faz, com toda a justiça, de uma figura grada da cultura científica e impoluta no seu magistério universitário: o Professor Bento de Jesus Caraça.
Em nome dos que não têm voz que alcance as altas esferas da governação de um País em crise económica e, principalmente, de valores que o projectaram num passado de glória, com a nobreza da sua valorosa pena, o cidadão Eugénio Lisboa se fez personalidade de uma elite cultural que emprestou brilho a uma missiva de que muitos de nós gostaríamos de ter escrito se para tanto tivéssemos “engenho e arte”.
Resta-nos, em última instância, mostrarmos-lhe a nossa solidariedade e o nosso profundo agradecimento. Em meu nome pessoal, obrigado Eugénio por me teres feito mensageiro dessa carta e pela amizade que me tens dispensado desde o saudoso tempo da belíssima “Cidade das Acácias”, ontem Lourenço Marques, hoje Maputo.
Caro Motta: Obrigado pelo seu comentário que peca por excesso ao associar o meu nome ao da figura de Eugénio Lisboa.
Caro Professor Eugénio Lisboa, meu muito querido Mestre, a intenção da lista logo a percebi - ela ilustra exatamente aquilo que a sua carta aberta afirma: os 82 anos de vida desta pessoa não deviam ser esquecidos (como o não deviam ser os 82 anos de todos os portugueses cuja carreira, mais ou menos académica, mais ou menos de chefia ou de chefiados). Assim como não deviam ser esquecidos os 82 anos que um jovem tem ainda para viver (e que poderiam vir a ser preenchidos com uma lista igual ou maior, se o deixassem viver plenamente em Portugal).
Bem haja pelas suas palavras (oxalá outros o sigam!)e Deus queira que frutifiquem.
É com reverência à humildade que sempre lhe conheci que lhe envio os meus cumprimentos.
Eu sou um reformado.Ao cabo de 52 anos de trabalho sou mesmo um Zé Ninguém; seria mais um "cliente externo do Purgatório" se não vivesse num país entregue aos demónios, o Portugal da nossa juventude, da nossa luta, da nossa Esperança.
Por isso venho agradecer as suas palavras elegantes, correctas e actuais nesta carta que o PM não vai ler. Porque os demónios não sabem ler mas apenas baralhar as palavras de que esvaziam o sentido: como se prova pelo incumprimento das promessas juradas aos pecadores...
Bem haja pelo conforto das palavras que repartiu com os que ainda são capazes de ler e entender.
Obrigado Professor!
Considero as palavras de Eugénio Lisboa tão relevantes que tomei a liberdade de as partilhar no meu blogue - como adenda ao post "A austeridade na net..." colocado no passado dia 9:
http://tempoderecordar-edmartinho.blogspot.pt/2012/09/a-austeridade-na-net.html.
Não se pode sequer tirar uma vírgula a esta carta, redigida por alguém que tem excelente formação e que deu muito ao seu País, e, hoje, nesta política, se sente um ZÉ NINGUÉM, como qualquer outro aposentado tal como eu sou.
Mas, para além destas superiores palavras, tenho a ousadia de acrescentar, tenho muita pena dos meus vindouros, do que de mim próprio, pois já cumpri o que deveria cumprir na missão desta vida.
Porém, ainda estou mais triste, sentir que estou também a partir deste planeta e o deixo ainda pior, do que era quando eu cheguei, logo após a última Grande Guerra... Houve enormes invenções, houve um progresso tecnológico sem limites, nunca antes experimentado, todavia volta a pobreza, volta a miséria e não se vislumbra uma centelha de luz ao longe para a legítima aspiração da juventude deste meu País, por uma razão simples e única, a ganância desmedida duma certa classe política do berço onde nasci e foi leito de tantos e tantos heróis nacionais passados, que hoje são envergonhados!
Apresento um afectuoso abraço ao Senhor Professor Eugénio Lisboa e que tenha ainda muita vida para nos honrar com este escrito e outros mais, pois é, na certeza, um tratado em saber e conhecimento, competências que quase desapareceram desta Lusitânia milenar.
Bem haja, Professor.
F. Boléo
fbc/
Fazem falta vozes como a de Eugénio Lisboa para que as vozes dos "sem voz" se façam ouvir.
Grata
Lídia
Um texto desonesto e ressabiado de quem aufere contrapartidas inecessíveis ao cidadão comum apesar de arcar com grande parte dos encargos do previlegiado autor desta carta aberta.
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