segunda-feira, 16 de abril de 2012
REEVES SOBRE O BIG BANG
No mais recente livro do astrofísico e divulgador científico canadiano Hubert Reeves publicado entre nós, uma entrevista a uma adolescente de 14 anos ("O Universo explicado aos meus netos", Gradiva Júnior), o autoir responde assim às questões recorrentes sobre o "antes do Big Bang" e o significado da "grande explosão":
- "Quando nasci, há 14 anos, vim a um mundo que já existia. Já havia os meus pais... Quando o Sol nasceu, disseste-me que havia já estrelas. Mas o que havia antes do Big Bang?
- Para te responder, vou regressar ao papel dos fósseis numa investigação histórica. Só podemos falar de um período do passado se tivermos fósseis que justifiquem as nossas afirmações. De outro modo, nada podemos dizer. É um princípio geral que se aplica a tudo.
O que chamamos "idade do universo" é simplesmente o momento antes do qual n não temos nenhum fóssil Vários investigadores propuseram descrições de tempos anteriores ao Big Bang. Mas não apresentaram nenhuma justificação, nenhuma prova. Não passa de pura especulação. Talvez daqui a algum tempo haja novas observações que nos permitam recuar mais longe no passado. É um assunto a seguir
Isso não quer dizer que não se passasse nada antes desses 13,7 mil milhões de anos. Apenas que não sabemos nada sobre isso. A distinção é importante. Gosto de dizer que o Big Bang marca o horizonte do nosso conhecimento do passado. Não é um começo, é um horizonte. Um horizonte que os limites das nossas observações e das nossas teorias impõem.
- Uma outra questão: fala-se muitas vezes do Big Bang como uma explosão gigantesca projectando ao longe matérias incandescentes; esta explosão ocorre onde? Não é lá, no local dessa explosão, que se situa o centro do Universo? Mas disseste-me que não havia centro. Não compreendo.
- Uma vez mais é preciso, é preciso cautela com as comparações. A imagem da explosão tem de ser considerada com muita reserva. Implica a existência de dois espaços distintos. Um primeiro espaço cheio de matérias explosivas, de dinamite, por exemplo, onde se vai dar a denotação. E, a toda a volta deste primeiro espaço, um segundo espaço onde a matéria ejectada se vai espalhar. Tudo isto descreve bem as explosões «terrestres, entre outras, mas não se aplica de forma alguma ao universo. A diferença é que o universo é um só espaço! Actualmente, está cheio de galáxias que se afastam uma das outras. No início, era um magma incandescente em expansão simultaneamente para todo o lado.
- Então, a imagem da explosão não é realmente válida?
Só a poderemos conservar se supusermos que a explosão não parte de um dado ponto do espaço, mas cada ponto desse espaço gigantesco explode em simultâneo."
Como o leitor pode avaliar pela amostra, é um livro muito esclarecer para jovens de todas as idades. Ainda por cima é pequeno e barato. Recomendo-o vivamente.
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1 comentário:
Duas palavras:
1 - O big bang coloca em causa, de imediato, para qualquer curioso crítico, não só o local onde se encontrava a matéria explosiva, mas também o que originou essa matéria e, sobretudo, o que havia antes dela e se, ao seu redor, era o espaço vazio, não se sabendo bem o que é esse espaço, já que o vazio se define pelos contornos que o envolvem. Nao creio que alguma vez desvendemos o mistério do que havia antes deste universo visível. A hipótese de infinitos universos eternos é filosoficamente atraente, embora rejeitada pelas religiões ao admitirem um Deus-Criador e fazerem depender dele a matéria e o espaço onde esta se move. (Tento, de algum modo, remar contra esta visão da realidade, visão que considero míope e imprópria da racionalidade humana, no meu blog "Em nome da Ciência".)
2 - Vou comprar para oferecer ao meu neto de 10 anos que já se interessa por estas coisas...
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