sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL?


Minha crónica no "Sol" de hoje, com base numa notícia já aqui divulgada:

O jornal New York Times de 5 de Janeiro passado anunciou que está prestes a ser publicado numa prestigiada revista de psicologia, The Journal of Personality and Social Psychology, um artigo da autoria de um conceituado psicólogo experimental, Daryl J. Bem, professor jubilado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, que indicia a existência de um certo tipo de percepção extra-sensorial.

Os cientistas desconfiam da percepção extra-sensorial, a aparente capacidade de certos indivíduos, chamados "psíquicos", para captar fenómenos independentemente dos seus órgãos sensoriais normais, designadamente prevendo o futuro. Mas, numa das experiências relatadas, estudantes universitários, habituais cobaias deste tipo de testes (há quem diga que se sabe muito sobre a psicologia dos estudantes e pouco sobre a psicologia das outras pessoas!), conseguiram adivinhar (53 por cento), mais do que seria dado pelo simples acaso (50 por cento), em qual dos lados, direito ou esquerdo, de um ecrã ia aparecer uma imagem erótica. A colocação da imagem é efectuada ao acaso por um computador depois de a escolha ter sido feita por um ser humano. Quer dizer, a maioria dos estudantes parece ter poderes psíquicos para descobrir onde vai estar um nu. A mim o que mais me intriga é a percepção funcionar para esse tipo de fotos e não para outras...

Há psicólogos experimentais, colegas do Prof. Bem, que também estão intrigados. Por exemplo, um professor da Universidade de Oregon não teve papas na língua: “É uma coisa maluca, completamente maluca. Não posso acreditar que uma revista de topo publique um trabalho destes. É um sério embaraço para toda a gente que trabalha nesta área”.

Como a ciência, psicológica ou outra, não encontrou até hoje qualquer evidência para a percepção extra-sensorial, o artigo, apesar de aprovado pelo habitual processo de avaliação por pares, encontra-se sob severo exame. Como dizia Carl Sagan dizia: alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias. O editor defende-se dizendo que se trata de um trabalho científico que foi sujeito às normas mais exigentes. Mas a experiência terá que ser repetida por outros, dispondo-se o Prof. Bem a colaborar, fornecendo todos os protocolos. De facto, três por cento é uma margem pequena e alguns especialistas em estatística são categóricos a apontar erros, não nos dados recolhidos mas no respectivo tratamento e interpretação. A estatística, como se sabe (os políticos, por exemplo, sabem-no bem), consegue, bem torcida e retorcida, dar para tudo. Segundo um dito muito conhecido “há quem use a estatística como um bêbedo usa um candeeiro: mais para apoio do que para iluminação”. Neste como em muitos outros casos parece ser um dito apropriado.

4 comentários:

Anónimo disse...

É mesmo percepção? Não será perceção? Ou tudo vale?

Ilídio Barros disse...

http://news.nationalgeographic.com/news/2011/01/110110-hearts-heartbeats-gut-instincts-cards-choices-science/?source=link_fb20110111gut

Ademir Xavier disse...

Prezados: queria mesmo assinar este blog. Entretanto, trata-se de uma reafirmação do acadêmicos não se cansam de repetir. 'Afirmações extraordinárias requerem evidência extraordinária'. Entretanto, onde estão as 'evidências extraordinárias' da existência dos neutrinos? Foram eles postulados para dar conta da quebra de validade da lei de conservação de energia no decaimento beta - uma afirmação extraodinária. Entretanto, onde estão as evidências? Raciocinem, estudem a verdadeira história da ciência e verão como a ciência é verdadeiramente feita...

Dani disse...

Esse psicologo o tal Daryl J. Bem me desculpem mais está fazendo isso
errado no caso de pessoas que podem prever algo relacionado ao futuro
(percepção extra sensorial) não podem adivinhar tudo o que lhe perguntam
as previsões veem por uma força maior um objetivo por isso que esse teste
ao qual ele fez não deu tão certo.

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