E tudo a bactéria levou...

O Lago Mono, na Califórnia, o lar da mais famosa bactéria dos últimos tempos

A minha crónica semanal no jornal i.

E a montanha pariu uma bactéria! A história começa a 29 de Novembro quando a NASA revela que a 2 de Dezembro iria anunciar "uma descoberta que terá um grande impacto na procura de vida extraterrestre". Mais um exagero da NASA, talvez? Era previsível o que iria acontecer de seguida: em todo o lado se ouviu falar em extraterrestres, finalmente tinha sido descoberta outra vida "lá fora"! Afinal, tudo ficou reduzido a uma microscópica bactéria mas que em nada é vulgar. Toda a vida que conhecemos na Terra, desde o micróbio à baleia, do Homem ao malmequer, tem uma base química composta por 6 elementos: carbono, oxigénio, hidrogénio, azoto, enxofre e fósforo. O que a NASA agora nos conta é que descobriu uma bactéria que, em vez de fósforo, tem arsénico, um composto altamente tóxico, na sua constituição. Esta descoberta vem, no fundo, ampliar e reformular a nossa definição de vida e, ao mesmo tempo, desconstruir mais uma ideia basilar da nossa ciência: pensávamos que a Terra estava no centro do Universo e era falso; pensávamos que a Terra era única e errámos; pensávamos que a vida teria sempre a mesma base bioquímica, hoje sabemos que também não é bem assim. Temo que o desânimo pelo ET desencontrado ofusque esta extraordinária revelação. Afinal, não é todos os dias que uma estrutura fundamental da nossa ciência sofre um refrescante e desafiante abalo que afecta não apenas a ciência mas também o nosso mais íntimo entendimento do Cosmos!