sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
PREVENIR O TERRORISMO AÉREO
Minha crónica no "Sol" de hoje:
O passado dia 25 de Dezembro podia ter sido um dia trágico na história da aviação. No voo 253 da Northwest Airlines, de Amsterdão para Detroit, quase houve uma explosão provocada por um terrorrista nigeriano, ligado à Al-Qaeda, Umar Abdulmutallab. O jovem de 23 anos tinha escondido dentro da roupa interior, podendo confundir-se com os testículos, 80 gramas de um poderoso explosivo, o tetranitrato de pentaeritrina (PETN). Os passageiros apagaram rapidamente o fogo, iniciado pela introdução de um líquido, com uma seringa, no explosivo sólido, e dominaram o terrorista, que sobreviveu apenas com queimaduras de segundo grau na zona genital. O mesmo explosivo tinha sido usado por um outro terrorrista da mesma organização, o inglês Richard Reid, que o colocou na sola dos sapatos para fazer explodir o voo 63 da American Airlines, de Paris para Miami, a 22 de Dezembro de 2001. O PETN foi sintetizado pela primeira vez em 1891, por um químico alemão, Bernhard Tollens, que, curiosamente, havia estado, uns anos antes, na Universidade de Coimbra a dirigir os trabalhos práticos do Laboratório Chimico (morou mesmo nesse Laboratório, onde hoje funciona o Museu da Ciência).
Devido a casos como estes, as medidas de segurança nos aeroportos de todo o mundo têm-se intensificado. Hoje, não podemos levar líquidos a bordo para além de certas quantidades e somos obrigados a tirar os sapatos, colocando-os numa máquina de raios X. Mas haverá mais: estão em teste novas máquinas de raios X que permitem uma espécie de strip-tease digital. Qual é a ciência por detrás de tais dispositivos? Ao contrário das máquinas correntes que verificam a nossa bagagem de mão (e também a de porão), cujo funcionamento se baseia na diferente absorção de raios X pelos vários materiais, os novos scanners emitem raios X de baixa intensidade que são reflectidos pelo corpo da pessoa, produzindo-se num écrã uma imagem anatómica. É como se o sujeito estivesse a ser cientificamente “apalpado”! Com esses detectores teria sido possível encontrar o PETN nas partes íntimas do nigeriano.
Os novos detectores colocam vários tipos de problemas, que estão a ser muito discutidos. Talvez o principal seja a defesa da liberdade individual perante uma óbvia invasão de privacidade. Mas há outras questões, como a do alto custo dos aparelhos, que recairá inevitavelmente no público, e a demora adicional nos aeroportos. E há ainda a questão da protecção relativamente às radiações: este problema será, porém, o menor de todos, pois um passageiro, durante um voo de poucas horas, está sujeito a maior radiação natural do que durante os curtos instantes do exame. Seria preciso que um viajante fizesse 2000 exames deste tipo por ano para ultrapassar o limite de segurança. Há, de facto, passageiros frequentes, mas não assim tanto...
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5 comentários:
Choca-me de facto que pruridos ao nível de privacidade(?)ou pudor(?) individuais puderem chocar com a segurança colectiva. Eu por mim sempre fui a favor da protecção colectiva face a interesses ou preconceitos particulares.
É correcto que seria necessário viajar muito para ultrapassar a dose de radiação anualmente permitida. Mas um passageiro que viaje muito e que tenha uma exposição a radiações ionizantes, por motivos de trabalho, elevadas - ainda que inferior à dose limite, fácilmente atingirá o limite.
E que fazer nestes casos?, certamente poucos mas, estou em crer, em número não negligênciável.
"Quem cede a sua liberdade essencial em troca de um pouco de segurança temporária, não merece liberdade nem segurança."
Benjamin Franklin
(...)estão em teste novas máquinas de raios X que permitem uma espécie de strip-tease digital.
(...)
E há ainda a questão da protecção relativamente às radiações(...)
Os novos detectores que põem as pessoas a fazer um strip-tease involuntário não emitem raios X nem outra forma de radiação ionizante. Em princípio, eles não são perigosos para a saúde das pessoas.
Estes aparelhos emitem uma radiação eletromagnética que tem uma frequência na ordem dos Terahertz (1 THz = 10^12 Hz), uma radiação a que alguns chamam "raios T" (de Terahertz), à semelhança do termo "raios X". Esta radiação situa-se na gama de frequências entre as microondas e os infravermelhos, não sendo, portanto, uma radiação ionizante. Se o fosse, a luz visível também o seria por ter uma frequência mais elevada.
Esta gama de frequências só agora começa ser usada na prática, porque não existia uma tecnologia fácil e barata capaz de a produzir e de a detetar. É uma gama de frequências que não se coaduna com a tecnologia tradicional das microondas nem com a da Ótica, mas nos últimos anos tem vindo a ser desenvolvida uma tecnologia apropriada. Mesmo assim e até ver, ela continua a ser muito cara.
"It's magical thinking: If we defend against what the terrorists did last time, we'll somehow defend against what they do next time. Of course this doesn't work. "
http://www.schneier.com/blog/archives/2010/01/airport_securit_12.html
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