quinta-feira, 29 de maio de 2008
UM CASAMENTO NO FUNCHAL
Sir William Thomson, o primeiro e único Barão Kelvin, nasceu em 26 de Junho de 1824 em Belfast, na Irlanda do Norte, e morreu em 17 de Dezembro de 1907 na sua residência em Largs, na Escócia (fez no ano passado cem anos). Tendo estudado nas Universidades de Glasgow e de Cambridge, foi professor durante muitos anos na primeira dessas escolas. Considerado um dos físicos mais famosos do século XIX, talvez mesmo o mais famoso da segunda metade desse século, deu notáveis contributos à termodinâmica (é dele não só um enunciado da segunda lei como a escala de temperaturas absolutas ou escala Kelvin) e ao electromagnetismo e óptica (criou vários instrumentos, alguns dos quais têm hoje o seu nome). Devido à resolução de problemas práticos de telegrafia por cabo submarino recebeu as maiores honrarias da coroa britânica. Presidiu à Royal Society entre 1890 e 1895, onde era Fellow desde 1851. Kelvin foi grande em tudo até nos erros: é dele o cálculo errado da idade da Terra (ver, por exemplo, o meu livro "Curiosidade Apaixonada"), a descrença no atomismo e a previsão de que objectos mais pesados do que o ar jamais voariam. Ficou também famosa a sua asserção de que a física no final do século XIX teria resolvido todos os problemas, havendo apenas "duas pequenas nuvens" (revelou uma grande premonição: uma era a experiência de Michelson-Morley, que deu a teoria da relatividade, e outra era o problema da radiação do corpo negro, que deu a teoria quântica).
Tudo isto é bem conhecido, pois vem em qualquer biografia do grande sábio. O que não é tão conhecido, pelo menos em Portugal, é que o seu segundo casamento, depois da morte da sua primeira mulher, se efectuou no dia 24 de Junho de 1874, dois dias antes de completar 50 anos, no Funchal, na Ilha da Madeira, na Capela do Consulado Britânico. A noiva era Frances Anna Blandy, filha de Charles R. Blandy, um comerciante inglês estabelecido na Madeira (ainda hoje essa família está na Madeira, gerindo os vinhos Blandy, o "Diário de Notícias" do Funchal e outros negócios, não sendo da particular simpatia de Alberto João Jardim), que ele tinha conhecido no ano anterior, quando o seu veleiro, o Lalla Rookh, esteve retido na Madeira por avaria, durante uma campanha de lançamento do cabo submarino de Lisboa para o Brasil. Tendo-se enamorado de Frances, 13 anos mais nova do que ele, o pedido de casamento - "Will you marry me?" - foi feito em Maio de 1874 por sinais a bordo do veleiro ao largo do Funchal. A resposta, que não demorou, foi "Yes". Os dois habitaram uma rica mansão na Escócia, mas não deixaram descendentes, pelo que o título de Kelvin (o nome de um regato que passa na Universidade de Glasgow) foi extinto pela morte do seu titular. A foto mostra o barão e a baronesa Kelvin, em 1892, no dia da elevação ao baronato. Esta notícia do "New York Times" de 1902 relata uma visita do famoso casal a Nova Iorque.
Não sei se e quantas vezes Lord Kelvin voltou à Madeira, ou mais em geral a Portugal, depois do casamento, mas talvez alguns dos leitores saiba...
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3 comentários:
Não foi dele "o cálculo errado da idade da Terra". Dezenas de outros cientistas terão feito previsões também elas completamente erradas. O que é normal, dado que não possuíam quaisquer instrumentos que lhes permitissem fazer cálculos reais. O que tornou os cálculos de Lord Kelvin especiais terá sido a sua insistência que era a sua maior contribuição para a ciência, o facto de rever a idade sempre em baixa e o seu estatuto enquanto um dos cientistas mais respeitados do mundo, o que tornava qualquer contestação complicada naqueles tempos vitorianos.
Infelizmente, como é hábito no Carlos Fiolhais, perde-se aqui uma oportunidade para olhar com mais atenção para um dos maiores vultos científicos de todos os tempos e para a sua vida pessoal e académica. Ficamo-nos por um fait-divers que mais não deveria merecer que uma nota de rodapé.
Prezado Carlos,
muito obrigado "pelas asas".
A fotografia acho não é do casamento mas do enobrecimento da Mrs. Thomson no dia 23.2.1892.
abraço
Ralf
Caro Ralf:
Julgo que tem razão e já emendei, obrigado pela informação.
Fui iludido pela legenda na foto num sítio da Universidade de Glasgow.
http://www.physics.gla.ac.uk/Physics3/Kelvin_online/lord.html
Carlos Fiolhais
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