Um segundo manifesto contra o Acordo Ortográfico está disponível aqui. (O primeiro tinha sido referido no De Rerum aqui.) Apesar de não concordar com grande parte do palavreado do texto do manifesto, assinei. Acho idiota aquelas conversas sobre "identidade multissecular", e o manifesto não fala do mais importante:
1) A tolice que é legislar sobre a ortografia, quando ninguém legisla sobre a gramática nem sobre o léxico -- e damo-nos muito bem com isso. Não há qualquer anarquia gramatical nem lexical pelo facto de não haver leis sobre tais coisas.
2) Além de ser uma reforma ortográfica, esta é uma proposta para unificar as ortografias de Portugal e Brasil (já que os restantes países de língua portuguesa usam a ortografia de Portugal). Mas a) nada unifica dado que as variações continuam a existir e b) não há qualquer necessidade de unificar coisa alguma, pois há carradas de variações do inglês, do espanhol, etc., e ninguém se dá mal com isso.
Em qualquer caso, o Acordo Ortográfico parece-me um nado-morto. Ninguém o usa no Brasil, ninguém o usará em Portugal. Legislações ortográficas é coisa do passado, de países ditatoriais ou com mentalidade ditatorial e centralista, e não funciona quando há inúmeros jornais, Internet, livros, e muita gente a escrever. Funcionava no passado precisamente porque havia poucos jornais, quase ninguém sabia escrever, e o estado era ditatorial e centralista.
domingo, 4 de maio de 2008
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12 comentários:
Desidério, não é nem por falta de amor às origens, etc. — mesmo porque somos todos filhos do Lácio, afinal — , mas dá uma raivinha de ter escrever barbarismos como "ideia", que sem dúvida é uma péssima idéia.
E a trema? Ter de deixar de usar a trema é horrível. Ninguém aqui fala Antiguidade, então que escrevamos Antigüidade.
Mas, falando no essencial, seu post trata do ponto fulcral da questão: não há unificação ortográfica alguma, ainda mais porque vocês continuarão a escrever seus "dezasseis" (dezesseis, catzo!) e "connosco" (dois enes juntos? conosco, oras!).
Então, no fim das contas, essa lei não serve para coisa alguma, e legisla sobre o que não se deveria — e faz, como lembrou o Pedro Sette Câmara, perder autoridade o argumento de que são os grandes escritores da língua que definem seu uso (se bem que Machado dá mais peso ao argumento que Saramago).
Muito sinceramente, não consigo compreender esta fantasia de um acordo unificador que nada unifica. Só tenho uma explicação: as pessoas que o fizeram querem ficar na história. Recuso-me a pensar que são assim tão tolas que acreditam realmente que a nossa língua, por ter diferentes grafias (que em qualquer caso continua a ter com o acordo), não se impõe no mundo. A nossa língua não se impõe no mundo por falta de produção filosófica, biológica, física, matemática, histórica, sociológica, artística, etc., e não por causa da ortografia. E isso é óbvio para toda a gente. Tal como é óbvio que as maiores diferenças entre as nossas duas maneiras de usar a língua não são ortográficas mas antes lexicais e gramaticais, para não falar nas fonéticas. Portanto, estamos a unificar exactamente o quê?
Aqui no Brasil, tanto quanto sei, a nova ortografia já é lei. Mas ninguém a usa, nem vai usar. Já não estamos em 1931, quando se podia fazer uma reforma ortográfica e toda a gente ia a correr obedecer à lei. Hoje há mais liberdade e sobretudo mais pessoas a usar, felizmente, a língua escrita. Este (des)acordo é um nado-morto. Que sirva de lição a estes linguísticas: que se dediquem a escrever dicionários, prontuários, gramáticas, histórias da língua, em vez de andarem nos corredores do poder a mendigar leis para os prestigiar.
Em anos recuados escrevi artigos no jornal Os Sports onde propunha a substituição de alguns signos desportivos, recorrendo ao grego, como balípodo, para futebol, baliqueirópodo, para básquete, e quando indaguei, junto do catedrático de Coimbra, Prof. Paiva Boléo, do acerto ou desacerto das minhas propostas, respondeu-me isto muito sinteticamente "o povo é que faz a língua".
De resto já está muito enraizada a dicotomia [Português de Portugal] e [Português do Brasil], em muitos websites quando nos perguntam sobre o idioma.
Aqui há anos, mandei traduzir um artigo de um alemão a quem tinha pedido autorização, para publicação posterior, com a condição de verificar a tradução, ao que acedi.
Na devolução do artigo propunha que alterasse a palavra "equipa" para "equipe" e "facto" para "fato". Expliquei-lhe que o "português" de Portugal, em algumas palavras, diferem do "português" do Brasil, porque tive a percepção que na Universidade estariam a estudar alguns brasileiros aos quais teria recorrido para confirmarem a fidelidade da tradução.
Posto isto, informou-me que tinha consultado estudantes brasileiros, e que os mesmos reafirmaram as diferenças.
Portanto, de acordo com Paiva Boléo, os povos lusos e brasileiros, e por acréscimo,sãotomenses, caboverdeanos, anglanos, moçambicanos e timorenses, é que fazem a língua... portuguesa.
E não as leis.
Toda a gente se esquece do impacto mais visível: as empresas de softare e as de legendagem de filmes já estão preparadas para abolir as versões em português europeu, ou seja, Portugal vai levar com todo o software (incluindo telemóveis) em brasileiro. Para não falar de dezenas de milhares de tradutores em Portugal que vão ficar no desemprego. Enfim, a descolonização do Brasil...
Márcia Rolim e Raul de Pádua
nós somos estudantes de um colégio em Recife e não concordamos com a idéia de estarem querendo unificar a nossa língua, pois os unicos que terão de obedecer essa lei são os estudiosos. Como será escrever de uma forma e falar de outra? Apesar da intenção de unificar a língua ser boa, os criadores não cogitaram a idéia de que todos terão que se adaptar e não é simplesmente dizer que é lei para mudar, tudo precisa de tempo, e mesmo com o tempo todos os cidadãos que falam o português não se adaptaram, pois teremos que escrever de uma forma diferente da qual falamos. Somos de países diferentes é normal ter um "português" diferente.
Matheus Valadraes ; Ícaro Torres
Aderimos aqueles que são contra o acordo ortográfico, pois a unificação da língua não se faz necessária. A educação brasileira ensinou desde os níveis básicos de ensino, as regras formais do português, desse modo, acostumar os cidadãos brasileiros com outra forma de português, seria um processo que levaria anos.
sim mas como faz para corregir o dicionario do computador pra por as novas regras ortrograficas ?
michele
Na verdade a maioria dos brasileiros nao escreve coretamente,com esta reforma ortografica ai sim vai ser uma verdadeira bagunça,tem varias coisas mais importante para os paises se preocuparem,ninguem precisa de esquecer o que foi estudado durante decadas para aprender tudo de novo, chega a ser ridiculo.
J. Ferreira Novo.
É impossível uma união ortográfica entre dois países de continentes distantes com culturas diferentes, distanciadas por cento e oitenta e sete anos de independência, que determinaram maneiras de distintas de escrever e de falar.
Maus políticos querem aparecer desrespeitando aos cidadãos contribuintes.
Vivo no Brasil há 20 anos e a minha opinião é de que, no que concerne à língua, quem vem para cá, "desaprende". Aqui não se prima pela língua escrita ou falada. Fala-se mal e escreve-se pior, e o pior ainda é que se não vê esforço concreto em melhorias. É só olhar os jornais, a TV e o precaríssimo ensino público. Então, não entendo como Portugal retrocedeu e se deixou arrastar numa canoa furada desse tamanho. Melhorias todos queremos, mas creio que houve muita precipitação que levou a exageros (reparáveis?!).
Germano Esteves
Recife - PE
Bem como brasileira devo dizer que o povo brasileiro não foi consultado com relação a este disparate ortográfico....Depois de entender que português as exceções são na verdade a regra da língua brasileira, não quero escrever outra língua que não seja a minha...aqulea que veio da Europa e maravilhosamente modificada com a mistura de povos que aqui tem....Bem não sei se Portugal retrocedeu, mas o Brasil com certeza não está indo a lugar algum com essa idiotice de uniformidade ortográfica....
Catarina...
Recife-PE
Como se pode chamar "acordo" a uma coisa que ninguém concorda?
Acabei de completar o 12ºano de escolaridade, não me venham agora dizer que já não sei escrever!
Isso é ridículo.
Raquel, Leiria
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