terça-feira, 1 de abril de 2008
Trinta anos de eduquês: origem e instrumentos do mal
Artigo de opinião de Guilherme Valente publicado no Público de 30/3/2008:
"O cérebro é uma coisa maravilhosa.
Era bom que todas as pessoas tivessem um."
Anónimo
1. Disse-se que a aluna do Carolina Michaëlis iria ser responsabilizada judicialmente (em Espanha, um juiz acaba de aplicar uma multa pesadíssima aos pais de um aluno que insultou uma professora). Ocultaram e relativizaram enquanto puderam os resultados dos exames com que não conseguiram acabar (arremedo de exames, aliás). Ocultariam e relativizariam enquanto pudessem, usando o natural constrangimento dos docentes atingidos, a indisciplina (que chegaram quase a elogiar), a violência, o regresso à barbárie que se está há trinta anos a promover. Bem-vindo, pois, de fora, o alerta às consciências do procurador-geral da República! Mas é preciso ter presente a origem do mal e a responsabilidade pela situação nas escolas e nas ruas: os Governos, os sucessivos ministérios, a Assembleia, os Presidentes da República, todos nós, afinal, a insensatez inimaginável, o conformismo, o assobiar para o lado, o arranjismo e oportunismo de todos estes anos.
2. Dos instrumentos de disseminação do flagelo, um dos mais perversos e eficazes é, seguramente, o modelo de gestão das escolas. Modelo "democrático", dizia mesmo muito boa gente, confundindo as coisas... É que a escolha da direcção de uma escola deve ser um processo de outra natureza: selecção de mérito num universo geral, e não legítima opção partidária e doutrinária no registo de uma eleição política. A escola deve ser uma meritocracia.
A confusão dos dois planos, a facilidade e a unanimidade como algo tão absurdo e desastroso foi defendido ou aceite dizem muito sobre o estado mental, sobre a passividade de todos nós, o grau de preconceito e complexos das elites - restos de "ismos", só na aparência opostos, acantonados e activos no sistema educativo e mal arrumados no nosso inconsciente.
Conselhos directivos integrados por professores eleitos pelos colegas? A solução perfeita para os sucessivos ministérios imporem o flagelo às escolas, sem que ninguém - sobretudo a nomenclatura e os ministros - fosse responsabilizado por nada (este é um dos objectivos do manhoso modelo de avaliação dos professores agora imposto, só idiota na aparência). Professores a elegerem, muito convenientemente, os colegas que terão de os dirigir, avaliar o seu trabalho, assegurar o cumprimento de objectivos e metas: onde já se viu ou funcionou tal modelo? Conhecem-se a teoria e os resultados. E não é esse o modelo da nossa democracia. O sistema educativo tem de ser uma rede de competência, dedicação e responsabilidade, que cumpre ao Governo avaliar e pela qual tem de responder ao país.
Como é escolhido, por exemplo, o presidente da Universidade de Cornell, uma das dez melhores do mundo? Por uma task force nomeada por um conselho de curadores com mais de cem membros, dos quais só dois são professores e só dois são alunos, eleitos pelos colegas. A maior parte é composta por ex-alunos, eleitos por todos os ex-alunos, estejam onde estiverem, seja qual for a sua nacionalidade.
As escolas precisam de um director responsabilizável, uma direcção com isenção e autoridade, sem constrangimento de afinidades ou dependências de eleição, pessoais, partidárias ou corporativas. Um director provadamente capaz de gerir com rigor os recursos da escola, de impor a disciplina e a autoridade devida ao professor, de acompanhar e apoiar o trabalho dos docentes, escolhido pela sua competência e idoneidade. Um director que responda perante quem o nomeou, para que este possa responder perante o país pela qualidade do sistema educativo. Escolhido, naturalmente, com a intervenção dos participantes no quadro de uma real, responsável e avaliável autonomia das escolas, e apoiado, evidentemente, por estruturas adequadas.
3. A escola do eduquês continuou a ser tão ideológica e praticamente tão amarradamente comandada pelo ministério como era a escola salazarista. Os conselhos directivos, intimidados, convertidos ou instalados na e pela comodidade do facilitismo, quase sempre tão docilmente obedientes como eram a generalidade dos reitores do Estado Novo, escolhidos entre os considerados fiéis ao chefe. Ontem, pretendia-se doutrinar e seleccionar as elites do regime execrável, mas havia quem resistisse. Hoje, a imposição do hipócrita delírio igualitarista desmotiva o mérito e a exigência, adormece a vontade e a ambição, promove a cretinização geral, condena à exclusão os mais desfavorecidos... sem resistência que se veja. Querem mais provas gritantes da natureza desse modelo de gestão, uma imagem reveladora do reino do eduquês? Professores que presidem ou integram, eleitos pelos colegas, há mais de 20 anos as direcções das escolas por onde passaram. Com que resultados, conveniências e atitude? Avaliações...
Basta!
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15 comentários:
Devemos tentar avaliar as ideias por si mesmas, independentemente dos seus autores.
Mesmo assim, ao ler um texto de Guilherme Valente sobre educação talvez não seja má ideia lembrarmo-nos das colecções CIÊNCIA ABERTA e fILOSOFIA ABERTA. Esta última contribuiu imenso para a melhoria do ensino da filosofia em Portugal. Quanto à primeira, os elogios já foram todos usados, mas posso dizer que o meu filho de 13 anos está a acabar de ler “Aves, Maravilhosas Aves”, de Hubert Reeves, e está a gostar!
Ou seja: Guilherme Valente sabe realmente do que fala quando fala de educação e não é apenas mais um crítico radical do “eduquês”. Vale a pena lê-lo com atenção.
Carlos Pires
Prezado Dr. Guilherme Valente:
Felizmente ainda há pessoas lúcidas capazes de analisarem sem paixão exacerbada males de que tem enfermado o nosso sistema educativo. Um deles é aqui posto a nu com um realismo pouco habitual que corre o risco de chocar o mundo de uma sociedade permissiva que trocou o mérito pela mediocridade.
E se é certo que "um fraco rei faz fraca a forte gente", um mau dirigente, seja de uma escola, de uma empresa, de uma instituição militar, etc., enfraquece um “corpus” profissional por mais válido que ele seja. Quanto mais, se o valor desse corpo oscila entre o muito bom e o muito mau. Um dos grandes males do nosso ensino é homogeneizar os professores igualando desiguais. Desta forma, os maus professores nada farão para melhorar e os bons professores desmotivam-se por maior que seja o seu entusiasmo. As injustiças não matam, mas moem!
Mas falemos agora da escolha “democrática” dos presidentes do conselhos directivos das escolas do ensino não superior (ou executivos como agora se chamam, numa crisma que tomou conta da sociedade como se a simples mudança do nome das coisas mudasse a sua essência). Para se ser candidato a este cargo dirigente a única condição imposta era a de ser professor de nomeação definitiva. Desta forma (e os casos não são tão poucos como isso) um professor de nomeação definitiva, quer fosse licenciado ou apenas possuidor do diploma de uma das antigas e extintas escolas técnicas comerciais ou industriais, era nomeável e com poder legal bastante para avaliar o desempenho de professores com uma habilitação académica abissalmente superior. Como pode um país renegar a formação de elites apenas porque, segundo António José Saraiva, “assustam muitos democratas por julgarem que as sociedades podem ser superfícies rasas”?
Como pode a escola portuguesa ser o garante dos conselhos dos pais aos filhos “se queres ser alguém na vida estuda”, se os estudantes dessa escola se deparam com exemplos destes no seu dia-a-dia em que a sociedade substitui o mérito por conluios de natureza política ou de qualquer outra índole? O mal aqui não está tanto nestas nomeações mas mais em quem as promove ou delas se torna, apenas, refém numa mesa de voto, como escreveu um poeta da pátria de Racine, “com ratos em cima do telhado e pássaros na cave!”
Parece-me que o Guilherme e o Rui têm tendências um bocado esquisitas...
Como é que os ex-alunos da universidade de Cornell conhecem os professores que não os ensinaram (não é possível ter conhecido todos os profesores, ou é? Ou será que os ex-alunos perdem imenso tempo a estudar dossiers sobre os profes?) ou os novos professores que nunca tiveram a oportunidade de os ensinar?
Não será mais fácil aos colegas professores conhecerem a capacidade dos seu colegas que se candidatam aos cargos?
Ou querem por os alunos a aprovar os projetos ciêntíficos que se candidatam a dinheiros para investigação? E que tal por também alunos como juízes de jornais ciêntíficos para estes não terem que serem avaliados pelos colegas amiguinhos?
Não me parece que meritocracia seja incompatível com democracia, antes pelo contrário.
Claro que a democracia não é perfeita. Eu não conheço bem as escolas portuguesas, não sou profe, mas não acredito que os profes elejam os colegas pela sua incompetência.
Será que o problema de algumas pessoas não será o de se julgarem tão inteligentes e sabedores que se acham no direito de serem eles os presidentes dos tais conselhos directivos, mas apesar disso nunca terem sido os escolhidos?
Caro(a) la: No direito democrático que lhe assiste expressou a sua opinião pessoal. Agradeço-lhe a parte que me toca (embora pouco simpática) que eu aceito, embora no parágrafo derradeiro do seu comentário teça juízos de valor que não correspondem à realidade dos factos. E mais lhe agradeço a oportunidade que me deu de fazer este esclarecimento público.
A democracia com as imperfeições que ambos lhe reconhecemos tem o mérito de podermos trocar os nossos pontos de vista num clima de tolerância mútua. Congratulemo-nos, portanto!
Gostei muito do artigo, é claro e corajoso. Além disso, é testável, isto é, defende teses bem articuladas com argumentos que podem ser falsificadas, não é, pois, um argumentário ideológico.
Enquanto professor de sala de aula reconheço a perversidade de um sistema de gestão que se diz democrático, mas na realidade tem mais a ver com sistemas caciquistas oitocentistas (que aliás continuam em muitos lugares da nossa democracia). Concordo também com o alcance mínimo, por vezes contraproducente, que este sistema de avaliação inter pares vai proporcionar.
Por tudo isto, continuaremos a ter muitas dificuldades em concretizar um mínimo de meritocracia nas escolas portuguesas. Aliás, nada de substancialmente diferente do que acontece no resto das grandes instituições nacionais.
Apesar de tudo, sem pessimismo.
Rui, no meu último parágrafo fiz apenas uma pergunta, não afirmei nada, não teci nada, nem podia porque não percebo nada de teares.
Eu gostava era que me explicassem o importante: porque é que os ex-alunos podem ser mais competentes do que os colegas a eleger as pessoas certas. Parece-me uma coisa muito esquisita.
E se processo actual é mau, quais são as soluções? Não se podem pedir aos ex-alunos do secundário para elegerem o presidente do executivo, que até pode não ter sido seu professor, ou pode? Como é que se vai fazer então? Avaliam-se os profes e escolhe-se o melhor? Às vezes o melhor jogador do mundo é o pior treinador. Mas talvez seja uma solução melhor do que actual, vamos ver. Talvez fosse melhor ainda avaliar aqueles que têm perfil para presidentes do executivo, que até podem não coincidir com os que são melhores profes.
Afinal quais são as realidades dos factos a teu respeito? Que já foste presidente do conselho executivo? Que nunca foste mas também nunca quiseste ser? Não percebi, acho que não explicaste.
Eu só fiz uma pergunta, se não quiseres não respondes, ninguém é obrigado a responder a perguntas maldosas como as minhas.
Eu não sou muito simpatico para ti porque não curto os teus posts, mas sou grande fã da dona Palmira, essa sim, grande postadeira.
Chau!
La: Como não curte os meus post's (felizmente que só pode votar uma vez nas estrelas!), muito menos deve curtir os meus comentários. Todavia, não posso deixar de estanhar que a eles dedique tanta curtição ocupando o seu tempo com questões de lana caprina (já que falou de teares!...). Outras tarefas bem mais importantes o devem esperar. Não desperdice o seu precioso tempo. Boa curtição e até sempre!
P.S.:Também eu sou grande fã da Prof.ª Palmira e dos seus post's.
Rui, não curto muito os teus posts mas continuo à espera que escrevas um fixe.
Não te procupes, tenho muito tempo para a internet, não tenho nada de importante para fazer e vou continuar a ler as tuas coisas.
Acho incrível é que nunca respondas a uma pergunta directamente, de certezinha que és da área de letras e meio sofista, mandas muito palavreado bem trabalhado mas sem respostas directas, nunca respondes a perguntas concretas, estás sempre com cenas que me passam ao lado, como essa da lana caprina. Já nos teus posts justificas pouco as tuas opiniões.
A dona Palmira é pão pão queijo queijo, com links para as coisas que apresenta, tudo muito claro, justificado, muito melhor do que tu.
Eu sou só um rapaz simplório que faz perguntas simples e afirmações claras, não tens que te chatear assim.
Já agora, que grande importância têm as estrelas? Eu não ligo nada a essa coisa e quase nunca voto. Eu pensava que era para os bloguers perceberem que tipo de artigos agradam mais aos leitores! Achas realmente que o Fiolhais, com milhares de livros vendidos, fica melindrado se as pessoas votarem poucas estrelas?! É essa a tua grande preocupação?! Não te preocupes que eu não te dou suficiente importância para andar a percorrer os vários cibercafés da cidade para poder votar contra ti muitas vezes. Nem penses nisso!
Vou investigar essa cena da lana caprina, ouvi dizer que essa coisa das lãs tem muito que se lhe diga, parece que há a finíssima cachemira, ouvi falar também no merino, que varia de qualidade com os vários micrometros do diãmetro do pêlo, etc, tem muito que se lhe diga, vou agora ver isso, ainda bem que falaste nisso, andava com esse tema na cabeça para ir pesquisar e já me ia esquecendo..
Estás a ver como tenho tempo com fartura e até te mando aqui um comentário à maneira?
Até à próxima!
Essa história de andar sempre a falar das responsabilidades criminais da aluna é coisa de líricos, como o Procurador Geral da Républica. Se para menores que assaltam á mão armada e roubam carros, não há consequências, nem para os pais, como é que o que se passou na aula poderia ter ???
Será um problema de expressão do autor ou de compreensão da minha parte. A eleição é boa para os representantes dos alunos e dos ex-alunos de Cornell, mas é execrável para escolher as direcções das escolas.
Ou talvez queira dizer que a eleição é boa, mas o colégio eleitoral é que é mau. Provavelmente desconhece a lei que determina que o colégio eleitoral para o Conselho Executivo é composto por todos os professores, todos os funcionários, por representantes dos alunos e por representantes dos pais.
Os cem exemplaríssimos de Cornell são um nobilíssimo colégio eleitoral, mas o colégio eleitoral das nossas escolas não é, porquê?
O modelo de nomeação de Salazar era mau, o modelo de eleição da democracia também é mau, diz o autor.
O modelo de nomeação por um colégio de representantes (eleição, também mas mais restrita, suponho eu) é bom, diz o autor.
Agora o ME propõe que se mantenha o sistema de eleição, mas os eleitores são apenas 21. Nos tempos que já lá vão, de menor esclarecimento, também o governo era eleito assim, só votava o pai de família.
Vão perdoar-me, mas quanto maior o colégio eleitoral, maior é a protecção contra instalação de interesses.
Para mim, o caminho correcto era bem o contrário: os pais e alunos deveriam alargar a sua participação na eleição.
A propósito deste tema, Gabriel Mithá Ribeiro oferece um exemplar autografado da sua obra «A Lógica dos Burros» (onde a pecha do "eduquês" é desancada) ao melhor comentário que seja feito a esta crónica de Guilherme Valente - ver [aqui] como ganhá-lo.
Talvez se a tão apregoada "autonomia das escolas" não ficasse encalhada nas DRE's e no próprio ME com construções legislativas mega-centralizantes, se a Escola Pública tivesse as mesmas permissas de admissão de clientela das privadas, se os CE tivessem que ter forçosamente pessoal especializado em questões comportamentais, sociais, se houvesse realmente uma rede integrada de acção imediata na Escola que passasse pelo especialista na mediação do conflito, pela presença imediata do EE, e em que o efeito punitivo/responsabilizante se fizesse sentir simultâneamente no aluno infractor e no pai/mãe/responsável pelo aluno ( "ir-lhe ao bolso"), talvez se as escolas tivessem consultodoria jurídica em termos de ilícitos e de acções passíveis de serem criminalmente responsabilizadas, talvez se pusessem realmente, em real time, os mecanismos a actuarem nas escolas, se não tivesse tudo que passar pelo crivo das DRE's, enfim..
"Professores que presidem ou integram, eleitos pelos colegas, há mais de 20 anos as direcções das escolas por onde passaram. Com que resultados, conveniências e atitude? Avaliações..."
Por uma lado, era necessário saber quais as razões reais da manutenção de "dinossauros" nas gestões das escolas. Há quem diga que é à conta de represálias que poderiam surgir se a(S) lista(s) que surgissem em alternativa perdessem a eleição. Ora isto também é grave porque denota falta de cultura democrática em sentido lato.
Por outro lado, as novas direcções que têm surgido nas eleições na escola padecem muitas vezes de arrivismo, denotador de alguma falta de "savoir faire". Gente mais nova, é certo, mais aguerrida, mas com perspectivas provavelmente carreiristas, mais interessadas na sua evolução no quadro cénico das autarquias e poder local que outra coisa qualquer.
Uma gestão escolar eficaz tem que ser acima de tudo uma gestão altamente qualificada em dois aspectos:
- Gestão de Recursos Humanos ( pedir ajuda às empresas do privado com práticas de excelência para formar os professores nesta matéria. Ainda mais com a avaliação à porta);
- Gestão/Mediação de situações, Psicologia de massas, Psicologia de Juventude; Gestão de Comportamentos (pedir ajuda às entidades formadoras das carreiras em que a disciplina é factor essencial);
Tenho direiro ao livro..? :))
Comentário recebido de Guilherme Valente:
Amigo João Oliveira, lamento não ter sido claro no meu artigo. Eu referi Cornell (julgo que incontroversamente reconhecida em todo o mundo como uma grande universidade) para mostrar o seguinte:
1. Nem numa grande universidade, os alunos actuais e os próprios professores têm uma participação no Conselho de Curadores (de que sai uma comissão que escolhe o reitor) - e julgo perceber-se porquê. Numa escola secundária, os alunos estão muito menos preparados (na minha opinião por várias razões nada preparados) para poderem votar uma proposta de director. Quanto aos professores o meu argumento parece-me ter sido óbvio: quem dirige não pode ser escolhido por quem vai ser dirigido. O resultado deste modelo, com excepções muito honrosas que há sempre -- mas o modelo não pode ser pensado para as excepções, não é? --, está aí. Vou contar uma história: tive um dia uma questão com o liceu que o meu filho frequentava. Decidi dirigir-me ao presidente do CD. Uma professora minha amiga convenceu-me a não o fazer porque o referido senhor andava sempre embriagado. Porque o elegem então, perguntei? Resposta: precisamente por isso. Esta história, absolutamente verdadeira será uma caricatura do que se passa, mas todos podemos deduzir o geralmente se passa. A prova é a realidade da vida nas escolas e o facto aberrante de termos docentes que integram os CD há mais de 20 anos. São uns génios, as escolas que dirigem são exemplos das escolas que se desejam? Então porque continuam lá? Talvez seja o que poderíamos chamar um sindroma de Salazar, «mandatos de 40 anos". Quando integrei o chamado CNE soube que o Presidente da Associação de Pais estava nesse cargo há muitos anos e que já nem tinha há muito tempo filhos na escola. Confrontei-o com isso. Por acaso passado um tempo mudou (terei contribuído para acabar com mais esse escândalo da nomenklatura? Se sim terá sido a única coisa que consegui em dois anos no CNE...
Estou de acordo consigo, naturalmente, em que no secundário os pais tenham representação no grupo de pessoas e entidades que escolham o director. Mas acho que quem o terá de nomear deverá ser sempre o ministério, ou, no caso da escola estar ligada a uma autarquia, como na Finlândia, por exemplo, o Presidente desta. Isto porquê? Para que possam responsabilizar-se, perante a comunidade -- democraticamente, porque agora se trata de uma responsabilidade política, agora sim - pelo que se passa nas escolas, pela qualidade do ensino.
Algum de nós quereria embarcar num navio comandado por uma comissão directiva eleita pelos tripulantes? Etc, etc. A escolha de um director tem de ser uma escolha de competência, de isenção e de mérito. Provavelmente também não concordará comigo se eu lhe disser que nem, me parece que tenha de ser OBRIGATORIAMENTE um professor (o ministro dos Negócios Estrangeiros tem de ser OGBRIGATORIAMENTE um diplomata?).
Para terminar pedia-lhe a atenção e a paciência de voltar a ler o meu artigo.
E agradeço, claro, o seu comentário.
Guilherme Valente
Guilherme Valente disse:
1)
"A escolha de um director tem de ser uma escolha de competência, de isenção e de mérito."
100% de acordo.
2)
"Provavelmente também não concordará comigo se eu lhe disser que nem, me parece que tenha de ser OBRIGATORIAMENTE um professor"
?????????
Tem que ser um professor pois há dinâmicas nas escolas que só os professores re(conhecem). Uma escola não é um ministério ou uma empresa e os sectores não são todos geríveis com bases da gestão das empresas.
Isso não signifca que as práticas de gestão das empresas não sejam importadas e aplicadas. Mas não se andam propriamnete a produzir pacotes de açúcar ou tijolos ou telhas ou chips numa escola.
Um director de uma escola deve ser um professor com formação capaz e séria em gestão de recursos humanos.
Deve estar assessorado por um profissional da Sociologia/Psicologia e por outro professor com formação em Administração Pública.
Ou vá dizer ao Engº Belmiro para pôr um professor a presidir a SONAE..
Cada macaco no seu galho. E tecno-burocracia da treta nas escolas já há muita.
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