quarta-feira, 16 de abril de 2008

FRED HOYLE E A FICÇÃO CIENTÍFICA


O inglês Fred Hoyle (1915-2001) foi um astrofísico e escritor de ficção científica. Como astrofísico ficou mais conhecido pelas suas posições heterodoxas, nomeadamente a sua oposição à teoria do "Big Bang" (foi ele quem deu o nome de "Big Bang" simplesmente para ridicularizar a teoria e o nome ficou) defendendo a teoria do estado estacionária, hoje abandonada, e a sua teoria da panspermia cósmica, segundo a qual a vida teria surgida na Terra transportada por cometas. Mas foi ele, porém, quem descobriu o mecanismo perfeitamente ortodoxo de formação do carbono através da junção de três núcleos de hélio (um evento improvável, que alguns autores gostam de invocar em defesa do princípio antrópico, segundo o qual "as coisas são como são porque, se fossem diferentes, não estaríamos cá para as ver"). O seu colega e colaborador norte-americano William Fowler recebeu o Prémio Nobel da Física de 1983, pelas suas contribuições para a astrofísica nuclear, mas o mesmo não aconteceu com Hoyle, que recebeu outras honrarias (como o título de Sir, a entrada na Royal Society como Fellow e o prémio Crafoord da Academia de Ciências da Suécia).

Foi, portanto, um cientista de mérito. Mas foi também um autor de ficção científica de não menor mérito. Como afirmou Jacques Bergier, "há pessoas que fariam melhor em se dedicar à ficção científica e é isso que Hoyle faz". "A Nuvem Negra" ("The Black Cloud") e "Ameaça de Andrómeda" ("A for Andromeda", escrito em colaboração com John Elliot e que foi primeiro uma série filmada) são duas das obras mais características da ficção científica de Fred Hoyle (estão traduzidas em português como os nºs 84 e 98 da colecção Argonauta da Livros do Brasil). A ficção científica de Hoyle denuncia muito claramente a sua formação de cientista. Sob as capas de literatura de ficção ele de algum modo difundiu algumas das suas teses que seriam demasiado temerárias para aparecerem na literatura científica.

"A Nuvem Negra" glosa o mito dos extraterrestres, das inteligências sobrehumanas que povoam o espaço, mas "eles" aqui aparecem sob a forma de poeira interestelar que invade o sistema solar. O enredo tem muito a ver com a relação entre ciência e política, tal como ela era vista e vivida nos anos 50, ao tempo da guerra fria. E entra também a religião (na sua vida pessoal Hoyle passou de ateu a agnóstico). Por outro lado, "A Ameaça de Andrómeda" a história passa por uma mensagem que vem do espaço e que permite a criação, numa máquina terrestre, de vida artificial. Glosa, pois, para além do tema da inteligência extraterrestre, o mito da génesis "in vitro".

É muito curioso que vários astrofísicos que acreditam em vida extraterrestre busquem refúgio na ficção. Foi também o caso de Carl Sagan, autor de "Contacto". Respondendo à pergunta - "Pretendemos continuar grandes num mundo pequeno ou tornar-nos pequenos num mundo maior?" - o ficcionista Hoyle opta decididamente pela segunda hipótese. Em "Ameaça de Andrómeda" fala assim do encontro de civilizações:

"Galileu era a Renascença. Ele, Copérnico e Leonardo da Vinci. Quando disseram 'zás!' deitaram abaixo todas as balaustradas e depois tiveram de se aguentar nas pernas no meio de um imenso universo aberto (...) As pessoas levantaram novas barreiras, mais distantes. Mas isto é outra Renascença! Um dia, sem que ninguém se aperceba, quando toda a gente estiver a discutir política, futebol e dinheiro, então, de repente, todas as barreiras serão derrubadas - zás! -assim!"

3 comentários:

JSA disse...

Não sei como é que Carlos Fiolhais, que é reconhecido como um divulgador de ciência, escreve estes posts de treta. Os posts da Palmira sobre cientistas apontam obras, dão referências e links, exploram a obra, as posições e a argumentação. Este, de Carlos Fiolhais, sobre um dos astrónomos mais influentes do século XX, é quase reduzido a um post sobre um cientista que escreve ficção científica. A sua contribuição sobre a fusão nuclear que, curiosamente, acabou por desempenhar um papel importante na implementação do Big Bang que ele desprezava, fica reduzida a uma notazita (talvez no mesmo espírito dos membros da Academia das Ciências Sueca que não lhe entregaram o Nobel). Suponho que o próximo passo é falar de Feynman como sendo um cientista que gostava de tocar instrumentos musicais, pregar partidas e escrever livros engraçados, reduzindo as suas pesquisas a notas de rodapé.

Anónimo disse...

É melhor falar de alguém do que não falar de todo...

Fred Hoyle foi um investigador/autor fundamental, na medida em que procurou e explorou novas hipóteses e novos caminhos de investigação, alguns dos quais (estou convicto) só daqui a alguns anos se tomará cosnciência da sua validade e amplitude.

Alguns destes trabalhos estão sintetizados na fantástica obra "Universo Inteligente" (editado entre nós pela Presença), onde se fala também da hipótese da panspermia cósmica mas onde se vai bem mais longe...

Dervich

Anónimo disse...

Caro JSA:

A questão é que o Carlos Fiolhais por um lado quis fazer passar a ideia que Hoyle era essencialmente um autor de ficção (Carlos Fiolhais tem uma notória fobia a tudo que não seja ortodoxo em Física), por outro Carlos Fiolhais é conhecido pela sua ignorância no que toca a História da Ciência. Logo, quanto menos escrever, menos possibilidades há de asneirar. Quanto à sua obra como divulgador, compare os livros dele - Fiolhais - com os de Fred Hoyle e depois diga se, de facto, ficção é o Carlos Fiolhais ter obra de divulgação que se veja. Isto, a não ser que nos lembremos que estamos em Portugal. Um país onde reinam os piores fascismos académicos.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...