domingo, 12 de junho de 2022

ESFORÇO DE GUERRA

Da rampa que conduzia à praia,
usando óculos que não estavam lá,
olhando a baía, de atalaia,
víamos submarinos, blábláblá.

De certeza, submarinos ingleses,
a afundar paquetes alemães,
à entrada de mares portugueses:
aqueles alemães, filhos da mães!

Tudo aquilo era muito nítido,
embora nada daquilo existisse:
era o nosso imaginar intrépido

que alimentava tanta fantasia!
A verdade, porém, é que só erra
quem não se esforça por ganhar a guerra! 

Eugénio Lisboa

7 comentários:

Anónimo disse...

"Os homens que a guerra não devora, os que ficam neste mundo valorizam-se" [Dr. Agostinho de Campos]

"Pois é: os homens que não morrem na guerra ficam valorizados: que o digam os cegos, os doidos, os estropiados, as mil vítimas do furor bélico, que bem bom dinheirinho ganham, exibindo a sua invalidez à beira dos caminhos e nas feiras." [Fernando Lopes-Graça]

[critica «um belicista» - de Lopes-Graça, por aquilo que o Dr. Agostinho Campos dizia ao microfone da Emissora Nacional, a respeito da guerra]


O Sr. Eugénio Lisboa diz passados mais de 80 anos, escreve "A verdade, porém, é que só erra quem não se esforça por ganhar a guerra!"

Pois é, Sr. Eugénio Lisboa, por "o seu filosófico desprendimento dos acontecimentos que afligem os míseros humanos", deve ser dada a mesma resposta do pacifista Lopes-Graça, "que o digam os cegos, os doidos, os estropiados, as mil vítimas do furor bélico, que bem bom dinheirinho ganham, exibindo a sua invalidez à beira dos caminhos e nas feiras", - esta ideia do ganhar e do perder a guerra, o esforço, a verdade e o erro, é de alguém que não pode ser um pacifista.

Eugénio Lisboa disse...

Meu estimado Ildefonso Anónimo Dias, desculpe-me dirigir-me desta maneira a si, mas pareceu-me que Ildefonso Dias veio desta vez esconder-se atrás de um aconchegado anonimato. Se me enganei, desde já peço as mais sinceras desculpas aos dois, mas pareceram-me tão semelhantes, que logo me apeteceu fundi-los num só, em abraço amistoso. Seja como for, sabe o meu caro Anónimo (ID), qual é o seu problema? É simplesmente um problema de (in)capacidade de leitura. Em vez de olhar para o texto com candura e desprevenção, vai para ele, carregado de uma inepta e pesada artilharia ideológica, que logo põe um espesso véu, entre si e o texto. Ainda por cima, as suas munições são sempre as mesmas: Bento Caraça, Lopes Graça, Abel Salazar e não passa disto: tudo gente que também admiro, sem para isso precisar de perfilhar a ideologia que seguiram. Mas, de qualquer modo, vir comentar o meu poema com os argumentos anti-guerra de Lopes Graça enfastia-me e chateia-me, porque é ensinar o padre nosso ao vigário. Em texto atrás de texto, publicado neste mesmo Blog, não deixei dúvidas de que odeio as guerras, tenho horror às guerras e não excluo desse horror o horror a esta iniciada pela Rússia de Putine. Mas para quem leu o meu despretensioso soneto, logo percebeu a terna ironia do título, dando como "Esforços de guerra" o facto de uns miúdos, durante a segunda guerra mundial, "fazerem força" pela vitória dos aliados, imaginando ver coisas que não estavam lá e pensando que assim estavam a ajudar a ganhar a guerra. O texto está escrito com uma ironia nostálgica, que não se presta a ser interpretada com o instrumental ideologicamente pesado do meu caro anónimo.
Os dois últimos versos são uma espécie de conclusão na cabeça daqueles garotos, enfatuadamente contentes por terem feito parte daquela guerra contra os alemães. Se o meu caro anónimo tivesse feito esta cândida leitura, deixaria em paz, nas prateleiras, as palavras do Graça, das quais nunca precisei para odiar as guerras. E mais não digo.
Eugénio Lisboa

Ildefonso Dias disse...

Por lapso, neste pc não tinha ainda efetuado o login na minha conta Google, e depois de enviar o comentário como Anónimo não o posso eliminar por estar anónimo. Tudo o mais não era importante e era desnecessário como se veio a verificar.

Sr. Eugénio Lisboa, melhor título para o seu poema seria "Os Belicistas".

Porque o poema que escreveu é, sem contestação possível, um estímulo, ao belicismo.

E um belicista nunca será um Homem esclarecido e culto.

O Fernando Lopes-Graça era um homem culto. Dizia: «Sou por natureza um antibelicista, sou um pacifista por natureza, por natureza e por ideologia como compete a um militante comunista».

Sim, o Sr. Eugénio Lisboa já escreveu aqui neste blog o quanto odiou algumas guerras passadas.









Eugénio Lisboa disse...

Se depois da minha explicação, o Sr. Ildefonso Dias persiste em achar o meu soneto belicista, desisto. Nunca vi uma mais completa desleitura de um texto. Quanto ao antibelicismo de Lopes Graça, só tenho a dizer-lhe que, muito antes de saber que Lopes Graça existia, ainda adolescente, em Lourenço Marques, fiquei vacinado contra guerras, com a leitura de três grandes livros: NADA DE NOVO NA FRENTE OCIDENTAL, de E. Maria Remarque, CAPITÃO CONAN, de Roger Vercel e ADEUS ÀS ARMAS, DE Hemingway. Não precisei para nada do Graça, para o efeito. E, já agora, explique-me uma coisa: acha que todo o saber e cultura em Portugal começou e acabou com Bento Caraça, Abel Salazar e Lopes Graça? Lendo-o a si, parece que não há mais nada, nem antes deles nem depois deles. Pelo menos, o Sr. não parece ter respeito por mais nada e passa a vida a atirar-nos à cara com excertos desses três egrégios senhores. Eles tiveram grande mérito, mas olhe que, felizmente, há mais e melhor do que eles. Mal iria o país se, antes ou depois deles não houvesse gente de maior estatuto, o que, de resto, em nada os diminui. Mas que a sua obsessão é doentia, lá isso é. Abra o seu espírito, leia outros autores e não passe a vida a carregar às costas a pesada artilharia ideológica que o impede de ler com clareza e claridade os textos. Garanto-lhe que, actualmente, não o sabe fazer. O que é uma lamentável forma de iliteracia. Já à sua obsessão com um punhado sempre dos mesmos autores, venerados como manipansos, não sei o que chamar.
Eugénio Lisboa



Carlos Ricardo Soares disse...

A questão do belicismo ou antibelicismo, e do pacifismo, pode ser interessante para o Putin e outros que tais (se é possível haver). O que incomoda é isso e, mais ainda, que, quando o Putin caiu em cima dos ucranianos e lhes desfez os costados os antibelicistas que vou conhecendo, estavam calados e não conseguiam disfarçar a sua satisfação, mas, à medida que o caldo se entornava e o Putin ia provando do próprio veneno, decidiram falar contra o belicismo, que é, aliás, uma forma eufemistica de não ser contra a guerra que lhes interessa. Não há belicistas e antibelicistas. Há pessoas que se colocam de um lado e pessoas que se colocam do lado oposto. Os outros ficam no meio. O importante, numa guerra (ainda ninguém me contratou para general sem medo) é vencer o inimigo e, não menos importante, é saber onde ele está. Esta dificuldade não é menor do que aquela e errar neste campo é como errar o alvo numa batalha. Tratar os nossos aliados como inimigos, ou alvos a abater, pode ser fatal para o objectivo. E nem se trata de fazer deles nossos aliados, como tentar fazer das palavras nossas aliadas. É muito mais fácil vincular os nossos aliados às suas declarações do que vincular as nossas palavras às nossas intenções.

Anónimo disse...

«Se, porém, saber pensar é difícil, e raros, muito raros, são os homens que sabem pensar, e raríssimos os grandes pensadores, compreender os resultados a que esses pensadores têm chegado, é pelo contrário, relativamente fácil» [Abel Salazar, AS]

Nestas palavras do Professor AS, topamos a razão pela qual o Sr. Eugénio Lisboa acusa de iliteracia (coisa feia, e agora muito em moda) e não acusa, de não saberem pensar.

Porque, como escreveu AS ,«Aprender a pensar e saber pensar: eis o que é verdadeiramente difícil, eis o que exige um esforço tenaz, de todos os instantes: o resto é romance, lirismo, eloquência, queixume, angústia, dor, ou pathos em delírio, de grande interesse humano, sem dúvida, mas pertencente a campo totalmente diferente, obedecendo a outros processos mentais e a outros interesses.»

Faz o Sr. Eugénio Lisboa muito bem em usar a expressão "iliteracia", que toda a gente compreende, e nada lhe pode apontar no campo moral, pois que, o seu campo é totalmente diferente, é o do romance, do lirismo, da eloquência,... de que nos fala AS, obedecendo a outros processos mentais e a outros interesses.

Eugénio Lisboa disse...

Uma intervenção final. Um soneto é uma estrutura literária particular, composta de dois quartetos e dois tercetos, ao todo, catorze versos de dez sílabas, havendo-os , mas raros, de doze sílabas. É uma forma literária muito difícil, tendo já havido um bispo que fez uma afirmação famosa, a este respeito: que, sendo crente, em matéria de soneto, era agnóstico, isto é, não acreditava que se pudesse escrever um soneto perfeito. O meu texto, ,que mereceu os comentários acima, é, com todos os defeitos que tenha, um soneto.. Sendo uma obra literária que obedece a regras muito rígidas, que dão ao poeta pouco espaço, para dizer muito, não é de admirar que o conteúdo extremamente condensado exija uma excepcional atenção do leitor. Portanto, o leitor ideal de um soneto nunca deve esquecer-se de que o soneto que está a ler é uma obra literária e que, como tal, deve ser analisada. Deve pois ser um leitor atento e desprevenido, para melhor captar o sentido profundo de um conteúdo capturado na dimensão reduzida de catorze versos. É, pois, extremamente deprimente ver leitores, como o anónimo Ildefonso Dias, tomar os meus textos como pretextos para os bombardear com artilharia ideológica, ainda por cima constituída por citações ineptas de sempre os mesmos autores, que constituem, aparentemente, todo o seu equipamento cultural. É realmente deprimente. As longas mastigações ideológicas, à base de Caraça, Graça e Salazar, não são leitura adequada de uma forma literária que Petrarca inventou e Camões tanto ilustrou. O Sr. Ildefonso Anónimo Dias é o tipo de leitor que o soneto não requer. Dizia-se, antigamente, que a natureza tem horror ao vazio. O soneto tem horror aos Ildefonsos Dias.
Eugénio Lisboa

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...