Novo texto de Eugénio Lisboa:
O Partido
INICIATIVA LIBERAL tem vindo a propor, com linguagem bem penteada e louvável
civilidade de maneiras, ideias mais do que um bocadinho perigosas e, por acaso,
já bastante obsoletas. Uma dessas ideias é a estafada “liberdade de escolha”
para os alunos que pretendam frequentar uma escola. A ideia já foi suficiente
demolida, com argumentos decentes, pelos partidos que a não perfilham, em
debates recentes. Pôr o Estado, em vez de investir na escola pública, como é
sua obrigação, a financiar a escola privada, é, no mínimo, escandaloso. Por
isso, venho aqui apenas contar uma história de proveito e exemplo.
Quando
o Partido Conservador Britânico
ganhou, em 1979, as eleições
legislativas, e Margaret Thatcher
ascendeu ao lugar de Primeiro Ministro, com o seu projecto ultra-liberal, deu ao seu mentor político, Sir Keith Joseph, a
pasta da Educação. Este,
ideólogo extremista, apressou-se a propor a “liberdade de escolha”, com
“vouchers” do Estado a
pagarem o ensino privado – a ideia agora repescada pela IL. A reacção
provocada no Partido Conservador, para não falar na do Partido Trabalhista, foi
de tal ordem, que Margaret Thatcher não teve força para levar por diante o
projecto acarinhado pelo seu ideólogo e que era também o seu. O projecto foi
atirado para a sucata, da qual nunca ressuscitou, nos onze agitados anos do
reinado de Thatcher.
Aparece agora,
triunfalmente repescado pela IL, com ares de inovação prenhe de futuro, e
apaparicado por comentadores aguerridos, em postura de estarem “para além da
Thatcher”
É muito nosso hábito lusitano irmos buscar, tarde e a más horas, ao monte da sucata que outros produziram, as ideias saloias e perniciosas que eles acharam tóxicas, há bem quarenta anos atrás.
A “liberdade
de escolha” não passa de um truque mal disfarçado, para pôr o Estado a
sustentar o ensino privado. Ora se este é assim tão bom e tão eficaz e
competitivo, que aprenda a viver por si, sem recurso à inevitável teta que
tanto acusa de ser incompetente e nefasta: isso mesmo, a teta do Estado.
A IL quer, em tempo incerto, de agonia, de susto e de crise profunda, acudir aos portugueses com uma selvagem anarquia de mercado que, mesmo assim, vampirize o pouco que o Estado tenha para dar. Esta destemida proposta deve ser devolvida ao local de onde nunca deveria ter saído: a cova da sucata do Partido Conservador Britânico.
Eugénio Lisboa
2 comentários:
É muito bom ler algo assim. Saber q temos intelectuais capazes, q como este, refutam ideias com argumentos tão poderosos. São estes os nossos melhores...
Rui Silva
Tanto disto que para aqui há!
Muito bom o texto.
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