sábado, 12 de junho de 2021

UM TEXTO QUE ALMADA NEGREIROS GOSTARIA DE TER ESCRITO

Novo texto recebido de Eugénio Lisboa: 

Disse um poeta que todas as crianças têm génio e que somos nós, os adultos, com os tabus e inibições que lhes vamos impondo (“O menino não diga disparates”), que acabamos por embotá-lo.

Realmente, muitos ditos de crianças, alguns recolhidos em livros que marcaram data, surpreendem por uma formulação extremamente feliz e pela candura de uma visão ainda não ardida.

Chegou-me agora às mãos uma deliciosa redacção feita, no Brasil, por uma criança de oito anos – Maria Eduarda – e publicada pelo Jornal do Cartaxo, de Florianápolis. É sobre os avós. E passo a transcrever este delicioso texto, sem mais comentários a não ser aquele que está no título que dei a este verbete.

Um avô é um homem que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. 

Os avôs não têm nada para fazer, a não ser estarem ali.

Quando nos levam a passear, andam sempre devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas. 

Nunca dizem: Some daqui! Vai dormir! Agora não! Vai pro quarto pensar!

Normalmente são gordos, mas mesmo assim conseguem abotoar os nossos sapatos. 
Sabem sempre o que a gente quer. Só eles sabem como ninguém a comida que a gente quer comer. 
Os avôs usam óculos e às vezes, até conseguem tirar os dentes. 
Os avôs não precisam ir ao cabeleireiro, pois são carecas ou estão sempre com os cabelos arrumadinhos. 
Quando nos contam histórias nunca pulam partes e não se importam de contar a mesma história várias vezes. 
Os avôs são as únicas pessoas grandes que sempre têm tempo para nós. 
Não são tão fracos como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós. 
Todas as pessoas deviam fazer o possível para terem um avô, ainda mais se não tiverem televisão. 
MARIA EDUARDA

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