segunda-feira, 24 de maio de 2021

LER EM PAPEL OU NO ECRÃ? CONCLUIR E CONTRADIZER NUM ESTUDO DA OCDE


Imagem recortada do jornal El País

Uma das características mais marcantes das orientações/recomendações da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econónimo - destinadas aos diversos sistemas e agentes educativos é o facto de apontarem num determinado sentido e no sentido contrário, não deixando de sugerir vários outros sentidos pelo meio. Porém, nas entrelinhas, sempre nas entrelinhas, há uma orientação que, caso estejamos atentos, prevalece, e que é aquela que se quer fixar nesses sistemas e agentes.

Sem mais delongas, vamos ao tema deste breve texto:

Espanha está a ser fortemente pressionada pela OCDE para adaptar o seu currículo escolar ao modelo determinado por esta organização, tal como antes aconteceu com Portugal e com muitos outros países. Nessa adaptação, sobretudo com a "grande oportunidade" que tem sido a pandemia Covid-19, uma das principais mudanças que se quer implementar, não só em Espanha mas a nível global, é a transição para o digital.

Devemos reconhecer que o empenho que tem colocado na substituição dos suportes de aprendizagem em papel pelo digital revela, como diz uma colega brasileira que estuda as políticas da organização, "pressa e pressão". Apenas um exemplo do que dizemos: entre 8 e 10 de Junho vai realizar-se uma conferência com um título bastante esclarecedor - Digital education for a strong recovery: A forward look - que é apresentada do seguinte modo:
A digitalização está a transformar as sociedades, proporcionando novas oportunidades para melhorar a educação na sala de aula, aprimorar a gestão dos sistemas educativos, mas também para recorrer a modelos inovadores. A pandemia COVID-19 acelerou e destacou a importância da digitalização. Os países devem reconsiderar a sua actual infraestrutura de aprendizagem incluindo a capacidade dos professores para a usar de forma eficiente.

Face a isto é de estranhar, ou talvez não, que a OCDE venha agora recordar dados que recolheu em 2018, através do PISA, e que apresentou quase há um ano, sobre a importância do papel no desenvolvimento da capacidade de ler de forma compreensiva. Transcrevemos um extracto do que foi dito sobre o assunto no jornal El País de dia 16 deste mês:

Ler em papel permite um rendimento superior ao de ler num ecrã, segundo um relatório elaborado pela OCDE (...). Ao comparar o rendimento dos estudantes que referiram que “quase nunca” ou “nunca” lêem livros com o dos que afirmaram que o fazem, estes segundos obtiveram melhores resultados. Mas há outra diferença significativa, relacionada com o formato da leitura: os que disseram ler em papel saíram  a ganhar (...). Agora um novo relatório da OCDE revela que os leitores de livros em papel obtiveram mais 46 pontos do que os que “quase nunca” ou “nunca” lêem livros (...) na prova geral de leitura, enquanto que aqueles que só lêem livros digitais alcançaram apenas 26 pontos mais (...).

Havendo aqui dois sentidos, um que beneficia mais os alunos em termos de capacidade de leitura, central em todas as áreas disciplinares e outro que os beneficia menos, qual é, então, o sentido que se pretende que os sistemas e os agentes educativos sigam? Por aquilo de que temos tido conhecimento no último ano não nos restam muitas dúvidas de que, para o sistema público, será o segundo.

Maria Helena Damião e Isaltina Martins

1 comentário:

vvv disse...

Isso terá em conta que os alunos que lêem em papel vêm de famílias com mais dinheiro, e portanto, talveez mais cultas em média, o que complementa a formação escolar com outras ajudas que levam amelhor desmpenho?

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