Meu depoimento sobre a crise pandémica ao JN publicado no domingo passado:
A actual crise fez virar as atenções de todo
        o mundo para a
        ciência. E há boas razões para isso:  qualquer
        nova doença transmissível representa  um
        desafio à ciência: para identificar a doença, para dificultar o
        seu
        espalhamento, para atacar a infecção com tratamentos adequados
        e, nos casos  extremos,
        para prestar cuidados intensivos.  A ciência tem correspondido
        às expectativas:
        nunca houve tantos e tão rápidos testes para identificação viral
        e nunca se
        tomaram tão drásticas medidas de confinamento.  Falta, porém, o resto:  fármacos antivirais
        específicos e – seria ouro
        sobre azul - uma vacina que prevenisse a doença. Muitos
        investigadores estão, a
        trabalhar a todo o vapor nessas metas. Embora a vacina possa
        demorar,  haverá decerto
        sucessos nesta área. São legítimas
        as esperanças na ciência: só ela nos pode salvar, embora
        obviamente ela sozinha
        não chegue para salvar. A ciência fornece conhecimento, não diz
        como ele deve
        ser aplicado. Espero que depois da pandemia – sim, ela vai
        findar – a ciência
        passe a ser vista com outros olhos quer pelos cidadãos quer
        pelos políticos.
Vivemos num mundo em que se confia na
        ciência, mas também num
        mundo que se desconfia dela. Há quem a negue. Espalham-se
        teorias absurdas
        sobre a doença (como a da sua origem nas emissões 5G); chefes de
        estado negam a
        comprovada virulência e  propõem
        mezinhas
        malignas (como a injecção de lixívia); e receiam-se as vacinas
        (inventando
        efeitos colaterais). Já alguém disse: se este é um mundo sem uma
        vacina,
        imagine-se como seria o mundo sem as outras! A pseudociência e
        as notícias
        falsas não vão acabar, pois a irracionalidade faz parte da
        natureza humana, mas
        bem podiam agora aprender alguma coisa. Não tenho ilusões: a
        ignorância vai
        continuar a ser atrevida. Vamos continuar a ver isso por exemplo
        na questão das
        alterações climáticas globais. Oxalá possamos aprender com o
        Covid como actuar globalmente…
Ver outros depoimentos aqui.

 
 
 
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