sábado, 14 de março de 2020

UM ENSINO DESUMANIZADO?


“Não sou pessimista. 
Detectar o mal onde ele existe é, em minha opinião, uma forma de optimismo”
(Roberto Rossellini) 

Reproduzo do docente António Amaro Monteiro um extracto publicado neste blogue:
"Eu não quero ser pessimista mas, pelo rumo que as coisas levam, nomeadamente pela desconsideração e maus tratos aos professores, a escola será cada vez mais dispensável e a profissão docente, tal como hoje existe, tem os seus dias contados (...): A violência contra os professores e auxiliares educativos demonstram-no e o “Dr. Google” encarrega-se de substituir a escola como fonte de qualquer informação utilitária. Os professores mais úteis e necessários no futuro serão precisamente aqueles que conseguirem ensinar os analfabetos a ler e escrever – os instrumentos básicos para qualquer aprendizagem. Tudo o resto será substituído pela Internet”(fim de citação). 
Sou dos que comungo que toda a tese (ou mera opinião) gera uma antítese necessária a uma síntese final. Mais comungo da opinião de Mao-Tsé-Tung quando nos adverte que “um caminho demasiado plano não desenvolve os músculos das pernas”.

Fui educado por minha falecida Mãe, senhora de grande cultura cimentada em estudo académico aturado e continuado pela vida fora. Quando, por exemplo, lhe perguntava o significado de uma palavra pouco usual, dizia-me vai ver ao dicionário. Respondia-lhe: Agora não posso pois vou atrasado para as aulas do liceu que frequentava na altura. Contra argumentava ela: Escreve num papel e quando chegares a casa vai consultar o dicionário.

Grande método pedagógico para que a matéria de ensino não entrasse por um ouvido e saísse pelo outro ou mesmo fizesse ricochete saindo pelo mesmo ouvido. Quanto aos maus tratos dos alunos aos professores defendo que não devem ser encarados métodos alternativos que os ponham a coberto dessas situações quais combatentes que se abrigam numa trincheira ouvindo as balas a passarem-lhe por cima da cabeça.

Aqui chegado, não deixo de me interrogar quais as causas para que esses mesmos alunos se portem mal com determinados professores e se portem bem com outros! Este um lugar comum. O professor, para além de transmissor de conhecimentos, deve ser um educador que se não deve demitir desse papel qual computador que se limita a debitar conhecimentos sem a presença afectiva ou empatia entre quem ensina e quem aprende. 

E o convívio entre colegas que aproveitam os intervalos das aulas para jogar, saltar, correr e rir? Em suma para se socializarem! E o ensino tradicional com consultas a bibliotecas públicas e a livros de uma biblioteca privativa em consultas de reflexão leva a que se diga que quando morre um velho é uma biblioteca que se extingue! Aqui sim, os computadores levam vantagem pois o seu fim pode ser evitado com revisões periódicas, e se mesmo assim ele inevitável serem deitados para o lixo comprando-se outros. 

“Last but not least”, “a contrario”, entendo que se os professores da aprendizagem das primeiras letras são necessários tanto ou mais necessários são os professores de outros graus de ensino, nomeadamente, universitário onde se moldam (ou devem moldar) cérebros que necessitam de ser controversos não se limitando a decorar sebentas, por vezes, do tempo da Maria Cachucha.

Sei que estamos numa era robotizada e de grandes avanços no âmbito da cirurgia ao tecido cerebral sem conseguir, todavia, fazer transplantes de cérebros humanos produzindo linhas de montagem de cyborgues. 

Foi a posição bípede que permitiu ao homem, anterior ao “homo sapiens”, erguer as mãos ao céu em oração a qualquer entidade que o transcendia. Mesmo aqueles que dizem hoje “ser ateus graça Deus!”  
Seja como for, nas palavras de Mark Twain, “A profecia é algo muito difícil, especialmente em relação ao futuro”. Um futuro que eu temo que quando se perguntar a um jovem escolar quem foi o primeiro Rei de Portugal seja respondido: “Um momento vou ver ao “Dr. Google”!

4 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

A minha experiência, como aluno do séc.XX e professor do séc.XXI, é importante que se diga, permite-me rejeitar todas as considerações que se façam com base em alarmismos e meras representações gerais ou estereótipos do que seja ou deva ser o ensino e a educação e, menos ainda, do que sejam ou devam ser os alunos, ou as aprendizagens, ou as competências, ou a disciplina.
E o pior que podem fazer é "eleger" qualquer modelo usado e ultrapassado.
É triste e deplorável ver pessoas, que toda a vida tiveram responsabilidades educativas, pedagógicas e didácticas, em vez de reconhecerem que fracassaram ou que o modelo em que trabalhavam fracassou, virem a público agitar os méritos de um cadáver em detrimento do vivo que mexe e que conta.
Não tenho dúvidas de que muitos dos nossos alunos são e serão melhores do que nós fomos e sinto-me alentado com essa ideia.
Ainda assim, acredito que os ambientes inteligentes são realidades não propriamente simplistas de ordem e caos e que o que é ordem para uns pode ser caos para outros e vice-versa.
Parece-me que nunca, como hoje, houve ambientes tão inteligentes para os alunos.
Os professores que propagandeiam, ou alardeiam, "contra factum proprium", têm uma dupla responsabilidade, a de se justificarem enquanto agentes que foram e/ou são e a de proporem alternativas construtivas.
Acredito que o professor não vai conseguir rivalizar com as tecnologias, nomeadamente com a inteligência artificial, pelo menos no que respeita à avaliação do conhecimento dos alunos.

Anónimo disse...

De muito mau gosto citar Mao que mandou matar direta ou indiretamente milhões de pessoas. Hitler também disse "coisas" e ninguém de bom senso se atreve a citá-lo. Francamente!

Rui Baptista disse...

Mau gosto do qual alijo a minha carga por encontrar em si um seguidor quando cita Hitler. Citá-los é uma maneira de reavivar o seu passado de ditadores/assassinos que tem servido de motu para serem escritos livros históricos de milhares e milhares de páginas. Desta forma, humildemente, entendo estar bem acompanhado não me faltando, portanto, o soberaníssimo bom senso de que nos falou Antero!

Rui Baptista disse...

Como costumo dizer mesmo no pano de cambraia caem nódoas, quanto mais na serapilheira da minha prosa em comentários apressados! Assim. onde escrevi motu, corrijo para mote. Aproveito a ocasião para lhe agradecer (sem qualquer ironia) a ocasião que me foi dada de esclarecer a minha citação de Mao e na intenção que lhe encontrei de que nada poder ser feito sem esforço, mormente numa educação actual de facilitismo exagerado. Bem sei que, apesar de tudo, neste criticável sistema existem excepções de âmbito literário e científico que muito honram as nossas limitadas fronteiras geográficas no passado e no presente. Aliás até nos pântanos nascem , de quando em vez, nenúfares!

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