domingo, 29 de março de 2020

“Oxalá o vírus nos faça sair da caverna, da obscuridade e das sombras”

Numa entrevista ao jornal El País aqui, neste dia 29 de Março de 2020, o filósofo espanhol Emilio Lledó fala dos ensinamentos que se podem extrair desta crise, e refere-se ainda ao estado em que se encontra a educação, a cultura e o conhecimento 

Quando lhe perguntam como está a viver tudo isto, responde: 

“Não me aborreço porque tenho a companhia dos meus livros e leio. Dialogar com os clássicos é sempre uma maravilha... isso reconforta-me muito no meio deste caos que não consigo compreender.” 

E refere com quem dialoga nestes dias: 

“Com Homero, estou a reler a Odisseia em grego. E Misericórdia, de Pérez Galdós. De quando em quando pego em Quixote, abro uma página e leio. ...” 

Quanto à experiência a retirar desta crise, responde: 

“A esperança é que nos reinventemos para melhor, que nos tornemos mais maduros como sociedade. Ainda que não queira dizer que sejamos melhores, não gosto de ser moralista. Prefiro dizer, simplesmente, que sejamos algo mais, que depois desta crise do vírus tentemos reflectir com uma nova luz, como se estivéssemos saindo da caverna de que falava o mito de Platão, na qual os homens permanecem prisioneiros da obscuridade e das sombras. Gostaria que fosse assim, mas preocupa-me que isto sirva, pelo contrário, para ocultar outras pandemias gravíssimas, as pragas com a deterioração da educação, da cultura e do conhecimento.” 

Quanto à urgência de cuidar do público afirma: 

“Mais do que nunca é fundamental. O esforço que estão a fazer os hospitais é um exemplo. Na Política de Aristóteles já se dizia que a cidade, a pólis na antiga Grécia, tem que ter como único fim o bem comum. Isso acontece com a saúde e com a educação, que, do meu ponto de vista, tem que ser a mesma para todos, e não deve estar marcada por classes económicas. É preciso cultivar a inteligência crítica... o cidadão deve ser capaz de colocar as perguntas próprias de uma mente livre... 

Que tudo isto propicie um novo encontro com os outros na pólis, na vida em comum.”

3 comentários:

Dulce Marques da Silva disse...

Simplesmente magnífico Dra.Isaltina.

Isaltina Martins disse...

Eu aprecio muito os textos deste filósofo espanhol.

Pedro disse...

Parabéns pela divulgação.

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