sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Os alunos, se um dia precisarem, têm a "internet"

Quem tem responsabilidades profissionais na educação escolar (professor, investigador, director escolar, técnico de educação, etc.) deveria perceber que certos slogans, destinados a reorientá-la, são expressões da perversa ligação entre interesses (macro) empresariais e políticos (por esta ordem).

Um dos slogans que mais desviam a educação da sua essência é que todo o conhecimento está no google, na internet, de modo que não é preciso ensiná-lo na escola, sobretudo se o aluno não estiver interessado nele.

Eis mais um exemplo que se junta a outros de que tenho deixado nota neste blogue (aqui e aqui).
Vamos deixar que cada criança aprenda aquilo para que tem mais apetência? Não corremos o risco de ter crianças que são especialistas numa área e sabem muito pouco sobre outras? Sim, mas um músico não tem de saber a lei de Boyle-Mariotte [relaciona a pressão e o volume de um gás], não precisa disso para nada. E, se um dia precisar, tem a internet. O que ele precisa é de aprofundar o conhecimento que tem na área da música para se realizar. Mas nós concluímos todo o currículo, como disse há pouco, coisa que não acontece nas escolas tradicionais.
José Pacheco, Observador de 26 de Agosto de 2019 (aqui).

4 comentários:

Anónimo disse...

Tal disparate nem merece comentários.

Anónimo disse...

A escola não apareceu no mundo por "geração espontânea". Da complexidade crescente do conhecimento acumulado pelas gerações que se sucedem surgiu a necessidade da criação de escolas, onde pessoas inter-atuantes aprendem e ensinam. Por exemplo, disciplinas como física, química ou matemática, exigem que os jovens comecem por frequentar escolas básicas e secundárias onde professores com formação universitária nessas ciências lhes saibam dar uma primeira ensaboadela de conceitos e práticas científicas elementares, essencial para abrir os olhos daqueles que inteirando-se de que têm vontade e capacidade para abraçar uma carreira científica entrem com confiança no ensino superior. Quem vir que não tem jeito para cientista, ficar-se-á pelos tais conceitos básicos, que sempre ajudam a compreender melhor o mundo, e pode vir a ser um grande artista, seja na música, na pintura abstrata ou na literatura. Pessoas, como o Doutor José Pacheco, sentir-se-ão mais realizadas, pessoal e profissionalmente, optando pelas ciências da educação, essa vasta área onde as asas da imaginação as podem levar tão longe como considerar que a escola de onde saíram os fazedores da internet já não serve para ensinar!
Há mais mundo para além do ensino básico!

Carlos Ricardo Soares disse...

Há muita gente, mesmo sem ter frequentado uma, que tem opinião sobre a escola, etc....No futebol é assim, e nem é preciso saber dar um chuto na bola. O que não é grande coisa é que haja cada vez mais áreas de atividade e de conhecimento em que faltam ou escasseiam as opiniões, como se essas áreas fossem esotéricas. É o caso das ciências e das matemáticas. Há uns entendidos nestas áreas, que não são mais do que isso ou, quando muito, se apresentam como tais, mas não passam de "replicadores" da ciência que os outros fizeram ou fazem. Há uns anos, um indivíduo esperto dizia aos analfabetos que o maior sábio da antiguidade daria tudo o que tinha e sabia em troca daquilo que eles, analfabetos, tinham e sabiam (com televisão e aviões e conhecendo alguns medicamentos e umas quantas técnicas eléctricas e mecânicas, mais um computador e como funciona o sistema solar...)
Esse indivíduo esperto tinha estudado nas escolas e tinha tirado um curso de física, que lhe serviu para dar aulas no ensino secundário. Quando precisava de consertar o carro, não ia tirar um curso de mecânica automóvel. Quando pensou em construir uma casa, não foi tirar um curso de arquitecto e de engenheiro, quando teve que meter um processo contra o ministério da educação, não foi tirar um curso de direito e ia com frequência ao médico, em vez de ir às aulas da faculdade de medicina, etc....Este indivíduo nunca foi contratado para resolver nenhum problema de física, nem de contabilidade, mas tinha um contabilista. E não sabia passar uma camisa a ferro, nem consertar um computador. E não sabia explicar aos seus alunos por que haviam eles de estudar física, que era a sua especialidade.

Anónimo disse...

Abarcando a física uma vastíssima área do conhecimento humano, um indivíduo qualquer, professor ou aluno, precisa sempre de algumas noções básicas de física para que no seu espírito a ida do homem à lua possa ser bem entendida como a concretização de um sonho, e não estupidamente negada com argumentos falaciosos de que tal feito da Humanidade nunca se realizou, sendo que os astronautas que se veem nos vídeos do youtube a fingir que caminham na lua eram todos uns pantomineiros!
Só aplicando os métodos de ensinança original de José Pacheco, poderão as criancinhas entender minimamente a chegada do Homem à lua, sem precisarem de estudar física! Basta ir à internet!

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