sexta-feira, 26 de abril de 2019

O futuro dos cursos de filosofia e de sociologia, que lamentavelmente, já é presente

A Folha de São Paulo online notíciou hoje (aqui) que o Brasil se propõe reduzir o financiamento dos cursos superiores de filosofia e de sociologia. Presume-se que até à sua extinção.
Porquê? Porque, explica o Ministério da Educação, é preciso racionalizar os impostos dos contribuintes, isso significa, em termos de ensino superior, apostar nas áreas competitivas. E quais são elas? A "medicina veterinária, engenharia e medicina". 
Quanto ao ensino não superior, adianta o Ministro, o que é verdadeiramente importante é ensinar "habilidades, de poder ler, escrever, fazer contas". E também ensinar um ofício que "gere renda para a pessoa, bem-estar para a família, que melhore a sociedade em volta dela".

Com excepção da defesa do "ler, escrever e contar", o lamentável discurso deste Ministro tornou-se uma presença constante no discurso educativo.

Nos mais diversos documentos de entidades supranacionais e nacionais, de diversos países, independentemente da sua orientação mais à direita ou mais à esquerda, é recorrente o elogio da aquisição de competências funcionais, úteis, para integração no mercado de trabalho. A "empregabilidade" dos cursos, critério da sua avaliação, é apenas um exemplo.

O mesmo para as ideias de "bem-estar" e de "melhoramento da sociedade", reconhecidas como função central e imediata da escola, devendo prevalecer em relação ao conhecimento disciplinar e ao desenvolvimento da inteligência.

Face a esta notícia, em Portugal surgiram diversas manifestações de perplexidade, como se estivéssemos muito longe deste cenário. Não estamos.

5 comentários:

Francisco J. A. de Aquino disse...

Tristes tempos aqui no Brasil. Temos um "presidente" idiota (no pior sentido possível) em Brasília. Um comentário mais completo no meu blogue:

http://alfanumericus.blogspot.com/2019/04/nota-de-repudio-declaracoes-do-ministro.html

Isaltina Martins disse...

Em Portugal e noutros países, infelizmente, apenas usam uma linguagem diferente, mais "moderna". Mas o resultado é o mesmo, sob a capa de inovação, adaptação à modernidade, etc. É tudo uma questão de "formas de dizer"...

Anónimo disse...

Ainda há dois ou três dias, encontrei um meu ex-aluno, recém formado em Técnico de Manutenção Industrial/ Eletromecânica, atrás de uma caixa de hipermercado. O alto índice de empregabilidade bem remunerada dos cursos profissionais é uma farsa! Muitas empresas preferem contratar os formandos antes de estes se diplomarem, porque as tarefas simples e mal pagas que vão executar não têm nada a ver com o que "aprendem" nos "cursos profissionais". Face a este triste cenário, a política oficial do ministério da educação continua a ser a da fuga ainda mais para a frente. Agora, a rapaziada do profissional é incentivada, através da dispensa da realização de exames nacionais, a inscreverem-se em cursos superiores que lhes facilitarão a entrada no mercado dos trabalhos superiores! Um dia, seremos todos doutores, enfermeiros e engenheiros!

Carlos Ricardo Soares disse...

Quando se abdica da filosofia e da sociologia já não se está a questionar o seu interesse e a sua importância, porque estão muito para além do saber ler e escrever e contar.
Já estamos num processo de mercantilização da escola e das faculdades humanas, num processo de seleção artificial conduzido pela lógica do poder, mormente do dinheiro, que vai trazer MIDAS de volta, sem ser para ensinar alguma coisa.
Ler, escrever e contar? Dito pelos figurões que só pensam em cifrões, não significa grande coisa e é coisa triste.
Transfiram uns bons milhões para a conta deles, mas que seja em troca de os fecharem num hotel, com tudo pago, pelo menos durante dois ou três anos...

Helena Damião disse...

Agradecendo os comentários dos leitores, dirijo-me, em particular, a Francisco de Aquino por ser cidadão de um país onde o que se relata está a acontecer explicitamente. Sublinho "explicitamente". Muito obrigada pela atenção que dá ao nosso blogue e pela partilha do seu texto, que é muito elucidativo. Conto responder-lhe brevemente num texto que continua este.
Cordialmente,
MHDamião

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...