sexta-feira, 8 de março de 2019

As múltiplas gerações de "nativos digitais" ou a ideia de que os alunos de hoje são completamente diferentes dos do passado

"Our students have changed radically. 
Today’s students are no longer the people 
our educational system was designed to teach."
Marc Prensky, 2001, p.1.

As expressões "imigrante digital" e "nativo digital", que rapidamente entraram tanto no vocabulário comum como no vocabulário académico, foram criadas pelo norte-americano Marc Prensky e apresentadas num artigo - Digital Natives, Digital Immigrants -, publicado em 2001.

Estas expressões, esclarece o seu autor, traduzem uma "descontinuidade" de interpretação, de comunicação, de relação entre as pessoas nascidas antes da revolução digital (para quem os meios tecnológicos são estranhos, de modo que poderão tornar-se, quanto muito, consumidores passivos) e as pessoas nascidas depois da revolução digital e criadas com elas (para quem os meios tecnológicos, mais do que estarem presentes na sua vida, fazem parte da sua identidade e funcionamento). Entre as características mais marcantes destes últimos estão, a utilização activa de tais meios, o multitasking, a espontaneidade e a resposta imediata, a permanente ligação em rede, o uso de écrans em substituição do papel, a necessidade de obter recompensas imediatas e constantes.

Em meados dos anos de 1980 terá sido dado, segundo Prensky, um passo decisivo nessa "descontinuidade", consolidada ao longo do século XXI. Contudo, ela estaria a ser preparada duas décadas antes: Karl Kapp designou as gerações nascidas nos anos de 1960 e seguintes por "Gamers generation" e Don Tapscott designou a geração nascida em finais dos anos de 1970, inícios dos anos de 1980 como "Net generation".

Juntando as contribuições, nem sempre convergentes, destes e de outros nomes, provenientes sobretudo das áreas da tecnologia e da economia, identificam-se as seguintes "gerações":
Geração X, constituída pelos nascidos por volta de 1965 a 1980, viram surgir a internet e adaptaram-se ao computador pessoal. 
Geração Y, constituída pelos nascidos por volta de 1980 a 1999. É a "geração do milénio" (millennials) ou "geração internet", ou, ainda dos "nativos digitais" que acolhem o espírito da globalização.
Geração Z, constituída pelos nascidos por volta de 2000 a 2010. É a "geração do pós-milénio" (pós-millennials), que vive a par das tecnologias, extensões do seu corpo, e funciona de modo multitarefa.
Geração Alpha, constituída pelos nascidos após 2010, cujo contacto com as
tecnologias acontece desde o berço, por isso, elas já não são uma extensão do seu corpo, fazem parte dele. Denotam capacidade empreendedora e de aprender por si.
Há ainda a “geração uber”, a "geração eu" e outras...
Tudo isto para dizer que conceitos sem qualquer substância científica, surgidos noutras áreas que não a Educação, infiltraram-se nela de um modo rápido e profundo, ao ponto de criarem novos "paradigmas" de aprendizagem.

É o caso de Prensky que, no seu livro Education to Better Their World. Unleashing the power of 21 st - Century Kids (2016), identifica o problema que diz ser central na nessa área: os professores, imigrantes digitais, ao usarem uma linguagem da era pré-digital, não se conseguem fazer entender junto dos seus alunos, nativos digitais, porque estes usam uma linguagem da era digital. Assim, ou os professores se adaptam à linguagem e modos de pensar dos alunos ou não se conseguirão fazer a transição que a figura representa: do passado para o futuro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se tomarmos ao pé da letra a nova forma de pensar digital, anunciada neste artigo, que conduzirá a um admirável mundo novo que já está em construção, então as autoridades políticas na área da educação, em Portugal, se tiverem sentido de responsabilidade, devem aplicar duas medidas urgentes: primeira, mandam para casa os professores da geração X, aqueles para quem a televisão era uma caixa com botões; segunda, despedir todos os especialistas em eduquês clássico, substituindo-os por quem entenda e saiba ensinar as novas linguagens digitais. O que temos agora é uma farsa gigantesca, em que milhares de professores fingem que conseguem ensinar e milhões de alunos que fingem que estão aprender. Este estado pantanoso da educação é insustentável!

Helena Damião disse...

Prezado Leitor Anónimo
Penso que a entrevista que acabo de publicar a Marc Prensky responde, em parte, à sua conjectura. Muitos professores abandonarão a profissão, diz, por não estarem preparados para uma mudança que considera inevitável. Mas o futuro não é certo, talvez os professores da escola pública queiram ficar na profissão, talvez não se demitam de ensinar os alunos por saberem que eles não aprendem sozinhos, talvez continuem a cultivar-se por considerarem que o conhecimento é importante, talvez saibam que a criatividade é uma capacidade que precisa de ser estimulada por não surgir do nada...
Cpms.
MHDamião

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...