sábado, 18 de agosto de 2018

A MATEMÁTICA É UMA ESCADA

Na revisão que estou a fazer do livro "Évora, anos 30 e 40", deparei com esta frase do meu professor de Matemática que me apeteceu reproduzir no seu contexto.
"Bom aluno em Ciências Naturais, cheguei ao final do 7.º ano (o actual 11.º). Aí, como nos tempos que correm, a razia no exame de Matemática foi quase total e nessa quase totalidade estava eu.
E a causa destas razias foi e é, sem dúvida, nas mais das vezes, a falta de qualidade do professor.
Na repetição desta disciplina apanhei o Dr. João Seruca, com quem o insucesso escolar nada queria, ao contrário do que tinha sido o seu antecessor. Com o novo professor passei a gostar de Matemática e fui, pela primeira vez, bom aluno nesta disciplina. Com ele comecei a consertar e a repor todos os degraus, dos mais baixos aos mais altos, que me faltavam para poder subir, sem tropeçar, a este maravilhoso edifício do saber racional.
– A Matemática, - disse-me um dia – é uma escada, sobes um degrau de cada vez. E se, em cada degrau, assentares bem os pés, podes subir até onde quiseres".
A. Galopim de Carvalho

1 comentário:

Anónimo disse...

Muita água correu por baixo das pontes desde esses anos 30 e 40 do século XX, quando, antes de mais, muita fome grassava por essas aldeias, vilas e cidades de um Portugal neutro – dada a sua insignificância política, militar, geoestratégica e económica -, relativamente a uma guerra fratricida, da qual resultaram milhões de mortos, que, nessa época, deflagrou entre as grandes potências europeias e rapidamente se alastrou a todo o mundo!
Nesses tempos, nas escolas os professores ensinavam e os alunos aprendiam!
As provas de exame finais serviam para avaliar se os alunos ficavam aprovados, no caso em que obtinham classificações positivas e portanto tinham aprendido o mínimo de conhecimentos exigidos numa dada disciplina, ou se ficavam reprovados, no caso em que obtinham classificações negativas.
Agora já não é assim! Um examinando pode realizar a sua prova de Matemática A, a mais difícil, com grande descontração e irresponsabilidade, dado que na nota final a classificação do exame nunca vale mais do que 30 %. Os restantes 70 % vão sendo amealhados ao longo do ano letivo, que pode ser passado num colégio interno dirigido com grande liberalidade, e nessa grande percentagem, para além dos conhecimentos adquiridos, entram fatores muito pesados na atribuição da classificação final de ano como sejam o baixo nível socioeconómico do aluno e dos seus encarregados de educação, que faz subir a nota, a circunstância de o aluno ser filho de pais divorciados ou separados de facto, que faz subir a nota, a condição de o aluno ser estrangeiro, que faz subir a nota, a pressão execranda exercida pelos órgãos dirigentes das escolas
sobre os professores honestos e responsáveis, quando atribuem, com justiça, notas baixas, que faz subir a nota, etc, etc, etc.
Perante este panorama, a parábola das escadas e da Matemática, do Dr. João Seruca, passa a documento histórico-literário, desprovida de qualquer sentido quando aplicada ao contexto da escola portuguesa do século XXI, onde quem dita as regras são os especialistas da pedagogia do aprender a aprender!

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