Meu artigo de opinião, publicado hoje
no diário "As Beiras”:
“Sente-se perdido na sua própria abundância.
Com mais meios, mais saber, mais técnica do que nunca, afinal de contas o mundo
actual vai, como o mais infeliz que
tenha havido, puramente à deriva”- Ortega y Gasset.
Reporto-me
ao texto intitulado “Em defesa da Gramática: Vargas Llosa contra linguagem da Net”, publicado no
“Expresso” (30/04/2011). Numa espécie de libelo civilizacional escreveu este festejado literato:
“Os
jovens que abreviam palavras nas redes sociais e nos SMS ‘pensam como macacos’,
considera o escritor peruano Mário Vargas Llosa. O Nobel da Literatura de 2010
considera, numa entrevista à revista uruguaia ´Búsqueda’, que a Net ‘liquidou a
gramática´, gerando uma espécie de barbárie sintática’. E justifica: ‘Se escreves assim, é porque falas assim; se
falas assim, é porque pensas assim, e se pensas assim pensas como um macaco.
Isso parece-me preocupante. Talvez as pessoas sejam mais felizes assim. Talvez
os macacos sejam mais felizes do que os seres humanos. Não sei.”
A utilização dos
computadores por gerações escolares deve ser havida como uma espécie de arma de
dois gumes por promover, em minha
opinião, aspectos positivos em determinadas idades e negativos em idades muito jovens, facto reconhecido pelo insuspeito Steve
Ballmer, ex-presidente da Microsoft, ao confessar: “Eu testo, mas não uso no dia-a-dia. Mais importante, meus filhos não
usam". Os meus filhos não utilizam computadores, eles são bons
meninos!"
Entretanto, em nosso tempo, certas aprendizagens escolares não envolvem suficientemente, e em devido
tempo, não só a motricidade fina exigida
pela escrita manual (como sentenciou J. Bronowski, “a mão é o lado afiado da mente”) em prol do desenvolvimento dos respectivos centros cerebrais e,
simultaneamente, descuram o aumento da capacidade da memória que pode
ser considerada como uma biblioteca privada a que se recorre sempre que
necessário. Hoje, estas funções são
substituídas pela consulta permanente, abusiva e viciosa ao Google. Como tenho escrito, com
amarga ironia, várias vezes, corre-se o risco de ao perguntar-se hoje a um
aluno quem foi o 1.º Rei de Portugal se
obter a resposta: "Um momento, vou
ver ao Google”!
Por outro lado, pela servidão aos jogos computacionais (para
utilizar um lugar comum, acrescida pelas horas e horas passadas frente aos
écrans da televisão) os jovens deixaram
de ler bons autores que são a base de bem escrever na adultícia. Minha falecida
Mãe, senhora de invulgar cultura, defendia o esforço na aquisição das
aprendizagens. Recordo-me, a propósito, que sempre que lhe pedia para me dar o
significado de uma palavra mais difícil me dizer: "Vai ver ao dicionário"! A que eu contrapunha, “agora não posso por estar atrasado para a entrada
nas aulas”. Sem desarmar, retrucava-me:
"Então, escreve a palavra num papel e quando regressares das aulas
consultas o dicionário". Estou convencido que o meu domínio, mais ou
menos, satisfatório da língua pátria a ela o devo!
Ocorre-me, outrossim,
como li algures, a opinião de um
outro autor que se antecipando-se no tempo, escreveu: “Eu não tenho medo que os computadores venham a pensar como nós,
temo é quando nós viermos a pensar como
os computadores!”. Esta previsão, traz-me à memória o livro “2001, Odisseia
no Espaço”, que serviu de guião a um filme do mesmo nome de Stanley Kubrik, que
resumidamente nos conta a viagem de habitantes
terráqueos a um planeta distante anos-luz de uma nave espacial que
obrigava s seus viajantes a hibernarem sendo a nave orientada, entretanto, por um computador, de seu nome, “Hal”,
comandado da terra, que, a páginas tantas,
se revolta assumindo de motu proprio
o respectivo destino. Aliás, uma espécie
de antevisão de uns tantos automóveis actuais dirigidos unicamente por computadores.
Não quero, com isto, tornar-me num espécie de bota-de-elástico,
avesso a “Um Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley) que permitiu ao homem voar e,
milénios depois, as viagens espaciais, a exemplo de Ícaro, figura da Mitologia Grega, que ao
libertar-se da força da gravidade teve o
fim funesto de ver as suas asas de
cera derretidas por se ter aproximado
demasiado do Sol.
Honra à era computacional! As viagens
espaciais nunca teriam sido possíveis sem os complexos cálculos efectuados
pelos computadores actuais. Ou seja, como tudo na vida, a utilização dos
computadores nas aprendizagens escolares deve ser feita com conta, peso e medida tendo sempre presente o
receio de Einstein: “Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o
mundo terá uma geração de idiotas!
4 comentários:
Robótica
Puramente, à deriva,
Num espaço branco, sem céu,
Planam pássaros sem vida,
Mecânicos, como eu...
Abrem asas no vento
De um comando inventado.
Rangem de tempo lento,
Não poisam em nenhum lado.
Num mar de marés lunares,
Por cima de ondas e espuma,
Enferrujam, circulares,
Não caem em parte nenhuma.
Ficam presos no suspenso
Do espaço... que escureceu,
Ao canto de um voo imenso,
Avariados, como eu...
F.C.
Versos alusivos maravilhosos. Obrigado!
O sr. Baptista, como sempre, na vanguarda da silly season, eis que a decreta ainda com uns pinguitos de chuva.
Quem tem o guarda-chuva da razão, não teme pinguitos de chuva de anónimos. Obrigado, portanto, pelo seu comentário que justifica palavras de Jules Renand: "O homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão".
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