segunda-feira, 24 de julho de 2017

AINDA O ANTIGO CURSO TÉCNICO INDUSTRIAL



“No mundo nada é verdade ou mentira: tudo depende do cristal com que se mira” (Ramón de Campoamor)
Antes de responder ao comentário de José Fontes, ao meu post  de ontem,  “Medina  Carreira: homenagem que lhe é devida”, farei, como que a modos preambular, duas citações separadas no tempo:
1.“Quando se olha com antipatia para o cisne branco até o cisne branco nos parece preto; quando se olha com simpatia para o rato preto até o rato preto nos parece branco” (Padre António Vieira).
2.“Os psicólogos sociais chamam erro de atribuição à tendência humana para desacreditarem um argumento apenas por causa das características que atribuem ao seu autor” (Rui Tavares, “Público”, 08/03/2007).
Ou seja, é indissociável o prisma com se discutem os assuntos com a isenção que merecem, daí eu dar um desconto generoso ao  remoque em que são metidos no mesmo saco do “abaixo assinado  (que para já tem apenas a assinatura pública de José Fontes)  todos “os Ruis Baptistas deste mundo. Chamem-se eles Ruis Henriques ou outros nomes” que nada têm a ver com este assunto.
Avesso a um diz-tu-direi- eu, julgo interpretarmos em leituras diferentes, a intervenção do deputado Proença Duarte na Assembleia Nacional (não confundir com Assembleia da República).  Assembleia da República que para prover à falta de operários especializados  teve a peregrina ideia de sancionar os actuais cursos “superiores” com a duração de dois anos (TESP) - medida  a exemplo da génese  dos actuais cursos do ensino politécnico, com a duração inicial de dois anos,  que ora choram barba e ranho para, depois de licenciaturas e mestrados, outorgarem  doutoramentos, -  em afronta aos antigos cursos “inferiores” das escolas industriais com a duração de 5 anos e uma forte componente teoria-prática traduzida em oficinas altamente apetrechadas.
Dando de barato, a sinceridade com que descreve a sua péssima docência na carreira docente do ensino técnico que não lhe deu a minha “visão idílica ” (sic.) deste ensino, a sua extinção, como diria Pessoa,  não passou de “um cadáver adiado que procria” abortos em barrigas de aluguer de um ensino superior como porta de cavalo, a exemplo das “Novas Oportunidades”, de acesso a licenciaturas ensino superior. Ou mesmo exigente ensino superior universitário que “exporta” para o estrangeiro diplomados que exemplifica. No seu comentário, com uma elite de engenheiros, cientistas, economistas, etc.
Eu, por meu lado, reporto-me, a uma minha recordada com saudade experiência deste tipo de ensino iniciado em finais dos anos 50 em confronto com a sua má vivência pessoal de um ensino situado em inícios dos anos 70,  depois de transvertido de reformas e contra-reformas. Contas feitas, entretanto, muitos assentos dos cadeirões da 25 de Outubro serviram de berço ao fenómeno da “diplomocracia”, para utilizar uma critica de António José Saraiva, que deu azo a que neste país fosse  anátema ser ministro sem um diploma universitário. E como todos os caminhos vão dar a Roma, uns por trilhos com sangue, suor e lágrimas, outros em arraiais de festança e regabofe, assiste-se a licenciaturas, em regresso de citação a António José  Saraiva,  "não para ter mais conhecimento ou para se ser mais esclarecidos, mas para não ser menos que os outros. Não é a igualdade da cultura que se busca, mas a igualdade de estatuto, através da posse do diploma”. E à pala de uma maneira viciosa  em que“há duas maneiras de mentir, uma é não dizer a verdade, outra é fazer estatística” (Francisco Leite Pinto), dá-se a conhecer ao mundo uma  "Alice no país das maravilhas" em que, sem generalizações  sempre perigosas de se fazer, se transmutam  analfabetos de ontem,  em burros de hoje, parafraseando novamente Miguel Sousa Tavares.  caloroso defensor,   para uns tantos, de um simples golpe de Estado de militares descontentes com a Guerra do Ultramar, para ele e outros tantos,  a alvorada de um esperançoso Portugal, através da  Revolução de 25 de Abril de 74.
Isso mesmo, sobre perspectivas diferentes de um mesmo assunto, nos ensina Ortega y Gasset: “O que é a verdade? Do ponto de vista da verdeira cultura, não é o mais importante de decidir. Cultura é, frente ao dogma, discussão permanente”!

Na foto: fachada  da antiga Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques.

8 comentários:

Anónimo disse...

O sr. Baptista lida mal com o calor. Vai daí brinda-nos sempre com estas pérolas estivais.

António Nunes

Rui Baptista disse...

Sem intenção de retrucar com grosseria estival, apenas por associação de ideias, ocorre-me a expressão: "Deitar pérolas a porcos".

Anónimo disse...

o sr. Baptista anda com algum problema de refracção no cristal que usa para mirar....

Tenha umas boas férias e aproveite para descansar.. Cumprimentos

Albino M. disse...

https://es.m.wikipedia.org/wiki/Ley_Campoamor

Anónimo disse...

Respondendo a Ortega, a verdade é o acontecimento. Imparcialidade é vê-lo, sem cristal. Todo o discurso é disfarce, óculos de cultura e cedência às influências e interesses.
“É a ti que eu canto, Democracia!” - Walt Whitman.
Até à ruína do ideal.
O poeta Pessoa transmuda-se em versão de Poema. Não é quem é, nem o que parece ser. É só o cristal.

F.C.

Rui Baptista disse...

Já agora como leitura de tempo de férias e retribuindo o desejo de boas férias e os simpáticos cumprimentos que me endereçou, "contestar a ideia de um certo homem, ou defendida por outro homem, não é insultar esse mesmo homem: sabe-se isto no mundo inteiro e só se desconhece neste país. E porquê? Porque muitos dos que escrevem, berram ou declamam na nossa terra (...)andam a fingir de pessoas cultas: nunca se elevaram verdadeiramente à autêntica vida do pensamento, e ficaram ao nível do fanatismo e dos simples interesses e relações pessoais" (António Sérgio).

Rui Baptista disse...

Obrigado pela citação que faz de Campoamor.

Rui Baptista disse...

Obrigado pelo seu comentário.

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