sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A história de Elaina M. Tuttle e o Pardal com 4 sexos

Novo texto do biólogo José Cerca de Oliveira:


A Nature News destaca o trabalho e a vida de Elaina M. Tuttle numa crónica comovente e interessante. Elaina Tuttle, professora e ornitóloga, dedicou a sua carreira ao estudo do pardal-de-garganta-branca (Zonotrichia albicollis). Meses antes de falecer, Elaine e a sua equipa publicam um artigo curioso onde descrevia uma inversão de uma porção do 2.º cromossoma da espécie. Esta inversão, com mais de 1100 genes contidos no seu interior, resultou na alteração de características como coloração, comportamento e hábitos reprodutivos destes pardais.

Ainda que a ocorrência de mais de dois sexos numa espécie não seja uma novidade para os biólogos (o artigo original da Nature destaca um protozoário com 7 sexos), esta descoberta acarreta um potencial tremendo. Se por um lado as inversões cromossómicas têm estado em voga nos últimos anos devido às suas implicações no processo de formação de novas espécies – por exemplo validando modos de especiação até então tidos como extremamente raros e/ou improváveis. Por outro lado, esta inversão levou à formação de quatro sexos nestes pardais, abrindo possibilidades de entender como se formaram os cromossomas sexuais dos mamíferos e pássaros, pois suspeita-se que as diferenças nos cromossomas X e Y dos mamíferos (W e Z em aves) tenham surgido de inversões como esta. Com o passar do tempo os sinais de inversões vão desvanecendo do genoma devido a efeitos de deriva genética e selecção (os cromossomas sexuais têm geralmente taxas evolutivas maiores que os cromossomas normais) e assim, esta recente inversão permite abrir portas no estudo de inversões passadas!

Elaina faleceu vítima de cancro da mama a 15 de Junho de 2016, deixando para o futuro a perspectiva de um sistema de estudo fantástico. Melhor do que esta minha pequena homenagem, deixo a hiperligação com a história original e completa desta naturalista.


 José Cerca de Oliveira

Sem comentários:

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...