Não sei se interpretei bem uma declaração que o nosso Presidente da República fez ontem na Colômbia, numa cimeira empresarial ibero-americano.
Reproduzo o que li no jornal: "ninguém ganha eleições com apostas na educação", "ninguém ganha eleições com educação, ganha-se com emprego, com situação económica, com a segurança".
A jornalista que escreveu a notícia refere ter notado um tom de lamento nestas palavras. É possível que sim, pois qualquer pessoa com discernimento percebe que à educação escolar deixou de ser atribuído "valor em si mesma" e também valor na formação dos alunos, no sentido de os tornar representantes da humanidade. E isso não pode deixar de se de lamentar.
Os sistemas educativos estão reféns de exigências globais de ordem económico-financeira e de empregabilidade, às quais devem responder directa e imediatamente, tendo isso de se ver a curto prazo e de modo muito concreto. Por outro lado, os modelos sociais a que as crianças e os jovens têm acesso são esses e não outros.
Noto também o facto de o Presidente da República ter feito este comentário num encontro de chefes de estado sobre empreendedorismo. O contexto parece-me apropriado: é preciso que os políticos, os empreendedores e a sociedade, de modo geral, percebam que a função da escola, sobretudo no ensino básico, é ajudar a formar pessoas. O empreendedorismo é importante, mas vem depois da escola... ou ainda nela, mas em níveis avançadas e/ou especializados.
Precisamos de repensar a função da escola, de nos concentrarmos no que lhe é específico e que mais nenhuma outra instituição assegura. Precisamos de ver a educação que ela proporciona com altruísmo.
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5 comentários:
Dou comigo a pensar que a realidade já ultrapassou, há muito, os modelos sociais, económicos, políticos, ideológicos, religiosos, científicos...que continuamos a defender, mas que, como paradigmas falidos, nada mais têm para nos proporcionar do que a vista do abismo.
Os nossos sistemas de inteligência (num sentido muito amplo) estão acoplados aos nossos sistemas de interesses, de tal modo que, dificilmente, a nossa visão das coisas não é "toldada" pelo nosso interesse (determinado pelas variáveis envolventes).
Por exemplo, recuando há cerca de 200 anos, ninguém "profetizaria", na euforia das revoluções, que o capitalismo encontraria os seus limites mais decisivos, não no seu princípio de incentivo à iniciativa e ao empreendedorismo, mas na necessidade de travar os efeitos demolidores das atividades humanas focadas nos lucros, uma vez que estes são cegos, surdos, mudos e têm como "racionalidade" o poder (razão necessária e suficiente).
Ora, o que há 200 anos parecia ser uma estratégia promissora, num planeta ainda intacto, imenso e "inesgotável", também ditava uma visão das políticas...educativas, em consonância.
A palavra de ordem era "explorar, desbravar, esventrar, transformar, romper barreiras, construir, industrializar, dinamizar, mecanizar, consumir...".
Nem por um momento se pensava que tudo isso era o princípio de um momento efémero, de um ápice, e o mais autodestrutivo da história.
Não havia religião, ideologia ou ciência que se apercebessem de que o mundo iniciara uma aventura perigosa; pelo contrário, até das pobrezas, das explorações humanas e das guerras, se extraía um otimismo reinante, sob os auspícios e a suprema legitimação dos ganhos materiais (que se justificavam a si mesmos).
Não é de estranhar que, nesse "clima", não houvesse contemplações para com miseráveis e até os poetas e os bardos infelizes, que expressavam angústias de músicos perturbados por ruídos cada vez mais insuportáveis, não passavam de uns acidentes...
Aliás, para os sentimentos "negativos" e angústias "inexplicáveis" havia terapêutica médica e, como prevenção, a educação.
Bem, abreviando, não é apenas o sistema de educação que tem de ser repensado. O mundo já não é o que era e os paradigmas em que se baseou a atividade humana que nos conduziu até aqui, já mostraram os perigos em que nos colocaram. A própria ideia de empreendedorismo tem um significado diferente do que teria há 100 anos.
Os Estados não vão permitir mais que os grandes interesses coletivos sobre o ambiente, os solos aráveis, a vida dos oceanos, os recursos naturais, em geral, a educação, a saúde e a justiça, fiquem nas mãos de indivíduos que têm como único critério de ação a obtenção do máximo proveito pecuniário.
No tocante à ciência, não vejo mal nenhum em que os Estados a deixem por conta dos interesses privados, desde que não se coloquem em situação de dependência e de subserviência relativamente a esses interesses.
"Os Estados não vão permitir mais que os grandes interesses coletivos sobre o ambiente, os solos aráveis, a vida dos oceanos, os recursos naturais, em geral, a educação, a saúde e a justiça, fiquem nas mãos de indivíduos que têm como único critério de ação a obtenção do máximo proveito pecuniário."
Está a falar a sério?
Tenho a perceção de que, pelo menos ao nível do discurso, nomeadamente económico e político, existe um reconhecimento da gravidade dos problemas derivados dos modelos da industrialização e do capitalismo financeiro e que mudanças de rota são imperativas como condição de esperança nos Estados enquanto organizações políticas dos povos.
Deus o ouça.
santa ingenuidade. meu querido Pérez Reverte : hay que decir más alto que la naturaleza humana se sobrepone siempre :)
os estados são governados por homens , homens que chegaram a esses cargos porque são ávidos de poder e vendem-se a quem der mais.
mesmo , mas mesmo sério , que acredita no que diz Carlos Soares ? não devia confundir desejos com realidade :)
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