quarta-feira, 2 de março de 2016

GUIA DA DESONESTIDADE ACADÉMICA

Há coisas que nos parecem estar ao contrário e, por isso, estranhamo-las. Ora, como em documentos orientadores sempre vi as questões de honestidade académica serem enunciadas pela via mais directa, ou seja do que se constitui como honestidade, estanhei vê-las enunciadas pela via contrária, ou seja, do que se constitui como desonestidade.

Foi no Portal da Formação de Formadores que li o seguinte:
[este portal] criou um Guia que aborda os diferentes tipos de desonestidade praticadas nos meios académicos ou da formação profissional. Este guia visa por um lado efectuar um diagnóstico da realidade portuguesa actual bem como da sua evolução, por outro lado o objectivo mais importante consiste em ajudar o formador / professor a prevenir e evitar este tipo de comportamentos anti-pedagógicos.
Além disso, e para completar a minha surpresa, vi também nesse portal uma lista generosa de "Técnicas de como cabular": a seguir à designação de cada técnica, surge a descrição (bastante precisa) de como proceder para... se ser desonesto.

E com isto não ponho em causa a intenção de quem escreveu o texto: pela certa, pretendeu afirmar a honestidade nos trabalhos académicos... apenas acho estranho.

4 comentários:

Joana Valente disse...

Espero que me perdoem mas tenho a convicção de ter percebido mal este "post". Será que os polícias não tenham de conhecer os métodos dos criminosos para os deter? Será que os médicos não tenham de saber como as doenças se comportam para poder tratar os doentes?
Por simples coincidência com o tema deste "post" veio hoje a público o caso de Sónia Melo (uma infelicidade, a meu ver). Será que quem se dedica à "post-publication peer review" não deve conhecer estes métodos dos cientistas pouco escrupulosos para os poder denunciar?
Apesar de tudo, mantenho a esperança de, por minha incapacidade, não ter coseguido perceber.

Isaltina Martins disse...

Será mais um guia para "estudantes desonestos" e não para professores... Aqui podem encontrar todas as técnicas, aprender as que ainda não conheciam e, quem sabe (?), talvez partilhar outras mais inovadoras, que, nisto como em tudo, há que inovar... não se pode estagnar!!! Haja progresso!!!!

marina disse...

claro que o que se pretende é formar para detestar e prevenir desonestidades. está bem claro. não percebo qual é o problema.

Isaltina Martins disse...

O problema, quanto a mim, está exactamente na formulação "Guia da desonestidade"— quando se elabora um "guia" é para encaminhar, conduzir alguém (entende-se que no sentido positivo); guiar é orientar, é aconselhar. Não se compreende como se elabora um "guia da desonestidade". Concordo que os formadores precisam de conhecer as "técnicas" para prevenir, mas enquadrem as questões de outro modo e não lhes chamem "guia".

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